Aquicultura e Pesca

Produtores avançam no cultivo do pirarucu

A ideia é abastecer melhor o mercado interno e exportar com licença ambiental


Publicado em: 07/01/2014 às 08:30hs

Produtores avançam no cultivo do pirarucu

Especializada na criação e processamento de espécies de peixes nativos brasileiros, a empresa Mar & Terra planeja instalar em 2014 seu terceiro frigorífico no País, dessa vez no município de Cacoal, em Rondônia, de olho em um dos maiores e mais saborosos peixes do Brasil, o pirarucu, uma espécie sem espinhas nem odor forte, cuja produção cultivada em criatórios começa a ser sistematizada na região, contribuindo para reduzir a pressão da pesca predatória.

O projeto específico da planta frigorífica de Rondônia já está pronto e custou R$ 100 mil. A obra deverá ter um custo de R$ 15 milhões. A expectativa é de geração de 150 empregos diretos, dentro da planta industrial, e mais de 1.500 empregos indiretos, relacionados aos produtores.

O trabalho da Mar & Terra é um dos ícones de experiências bem-sucedidas na reprodução da espécie. Em novembro, foi uma das exposições apresentadas no III Workshop do Cultivo do Pirarucu, realizado paralelamente à programação do IV Congresso Brasileiro de Aquicultura de Espécies Nativas, em Belém do Pará. "Temos muitos desafios a vencer, mas já avançamos bastante", afirmou o veterinário Arno Seerig, que é gerente da Unidade de Peixes Amazônicos da Mar & Terra.

Por semana, a empresa exporta uma tonelada de filé de pirarucu para os EUA, Alemanha e Suíça. Mensalmente, a empresa processa 30 toneladas de pirarucu oriundas de Rondônia, em sua unidade de Itaporã (MS). Toda a carne exportada vem de produtores com licença ambiental e matrizes com chips eletrônicos.

Em dezembro, em audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, em Pimenta Bueno (RO), representantes de piscicultores reivindicaram a construção de um frigorífico para beneficiar o pescado da região, principalmente pirarucu e tambaqui. Nesse sentido, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), propôs a criação de uma câmara técnica para discutir os custos não só do frigorífico como também de entreposto, fábrica de gelo e melhorias das rodovias da região.

Para superar o gargalo

Segundo a Mar & Terra, o principal investimento da empresa em Rondônia ocorreu na reprodução da espécie, que sempre foi o grande gargalo na criação do pirarucu. Esse fato também motivou o trabalho desenvolvido pelo Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia, realizado nos últimos quatro anos pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

A organização lançou dois manuais sobre o cultivo do peixe. Um manual trata da produção e o outro de reprodução da espécie, cujas características já que o fizeram ser apelidado como o "Bacalhau do Brasil", algo hoje substituído pelo apelo amazônico.

"Essa história de "Bacalhau do Brasil" é coisa do passado. Hoje esse peixe tem que ser reconhecido como o Pirarucu da Amazônia", afirma Newman Costa, analista da Unidade de Agronegócios do Sebrae Nacional e coordenadora nacional do Projeto Estruturante Pirarucu da Amazônia.

A analista falou para uma plateia de cerca de 300 pessoas, formada, em sua maioria, por produtores, especialistas, pesquisadores e técnicos envolvidos com criatórios da espécie. "Queremos e devemos fortalecer a marca do Pirarucu da Amazônia como um fator de diferenciação de marco e valorização da região amazônica", reforçou a coordenadora.

As publicações são uma contribuição à consolidação de uma nova oportunidade de negócios na região, com o envolvimento dos Sebraes dos sete estados do Norte (AC, AM, AP, PA, RO, RR e TO), cujas unidades colaboraram com a segunda fase do Projeto Estruturante Pirarucu da Amazônia. A etapa anterior foi realizada no período de 2007 a 2010.

Boas práticas

No material das publicações, é destacado que o maior empecilho para a criação do pirarucu era a produção de alevinos. Aponta que o projeto desenvolveu boas práticas para a produção de alevinos, "o que aumentou, significativamente, a qualidade e a produção de larvas e alevinos em cativeiro".

De acordo com Eduardo Ono, um dos autores do manual de reprodução e assessor da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), apenas cerca de 20% a 30% dos alevinos produzidos chegam ao mercado consumidor por diversas questões, a exemplo da falta de preparo do produtor para manter a sobrevivência dos peixes juvenis.

"Hoje temos muito mais perguntas do que respostas prontas", afirmou Ono, alertando que a ameaça de outros países tomarem a dianteira no cultivo da espécie, como é o caso do Chile, que já aprovou regras para a exportação do pirarucu.

Preservação

Nos manuais é feito o alerta de que as novas tecnologias são o único caminho para a reversão da pesca predatória da qual provém boa parte do pirarucu consumido no Brasil, com ameaça à sobrevivência da espécie na natureza. Atualmente, a maior parte do pirarucu consumido no País é proveniente da pesca predatória.

O diretor de Administração e Finanças do Sebrae em Rondônia, Osvino Juraszek, destacou que o cultivo do pirarucu, além de ser ecologicamente correto, é mais viável economicamente por significar um produto de alta qualidade. "O cultivo do pirarucu é mais rentável do que a produção extrativista", comparou.

Uma comitiva visitou a fazenda de engorda da fazenda Andrera Piscicultura, no município de Bonito, a 145 km de Belém. Lá funciona uma estação de engorda do Projeto Estruturante Pirarucu da Amazônia, com resultados animadores sobre o cultivo da espécie.

De acordo com o gerente Samuel Benigno, o projeto, iniciado em janeiro deste ano, reuniu alevinos com menos de 10 gramas de peso. Hoje, já há espécies com 10 quilos de peso, prevendo-se o início da comercialização a partir deste mês. "Podemos comercializar o pirarucu a R$ 20,00 por quilo, enquanto o custo de produção gira em torno de R$ 7,00 por quilo", contabilizou.

Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria

◄ Leia outras notícias