Publicado em: 05/09/2024 às 08:30hs
O pirarucu (Arapaima gigas), celebrado por sua importância na culinária e por ser um dos maiores peixes de água doce do mundo, também é o protagonista de uma notável história de conservação e sustentabilidade na Amazônia. Em 2024, o manejo sustentável dessa espécie completa 25 anos, destacando-se como uma das iniciativas mais bem-sucedidas na preservação ambiental e geração de renda para as comunidades locais.
Em 1990, o Brasil iniciou a implementação de restrições à pesca do pirarucu, culminando com a proibição total em 1996 devido à pesca predatória que quase levou a espécie à extinção. O pirarucu foi, então, incluído na lista da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES).
O manejo sustentável, iniciado a partir dessas medidas, trouxe resultados impressionantes. Entre 2012 e 2016, a população de pirarucu nos rios amazônicos cresceu 99%, com um aumento médio anual de 19%, conforme um diagnóstico do Coletivo do Pirarucu em 31 áreas protegidas e acordos de pesca no Amazonas. Além de garantir a conservação da espécie e da biodiversidade, o manejo também gerou benefícios significativos, como aumento da renda, fortalecimento da organização social, redução das desigualdades, maior segurança alimentar e melhoria na qualidade de vida das comunidades indígenas e tradicionais.
Os povos Paumari do Tapauá e Deni do Xeruã são protagonistas dessa iniciativa. Conhecidos como “povo das águas”, os Paumari do Tapauá foram pioneiros no manejo sustentável do pirarucu em suas terras. Desde a primeira pesca manejada em 2013, a população de pirarucu em seu território aumentou mais de 600% desde 2009, evidenciando o sucesso da proteção dos lagos e a regulação da pesca.
Kamelice Paumari, coordenadora temática do trabalho das mulheres na Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA), destaca: “Hoje, temos nossa cozinha, o flutuante de pré-beneficiamento do peixe e nossas bases de vigilância para proteção do território. Podemos proteger nossa riqueza.”
Os Deni do rio Xeruã, ao utilizar a experiência dos Paumari, implementaram com sucesso o manejo em seu território. Em 2023, apesar das dificuldades impostas pela forte estiagem dos rios, o povo Deni conseguiu uma cota recorde de 150 pirarucus, totalizando cerca de 9,5 toneladas de pescado.
A primeira iniciativa de manejo de base comunitária foi implementada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, no Amazonas, desenvolvida pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e incorporada como política pública pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2 de junho de 1999.
O manejo sustentável do pirarucu é regulado por diretrizes específicas que visam a conservação da biodiversidade e a preservação dos estoques pesqueiros, restritas a Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Áreas de Acordos de Pesca. Em homenagem aos 25 anos de sucesso da iniciativa, a OPAN, por meio do projeto Raízes do Purus, reconheceu o papel fundamental do Ibama e do Instituto Mamirauá na implementação do manejo. Durante as celebrações, a artista amazonense Lívia Rocha criou obras exclusivas, baseadas em fotografias de Adriano Gambarini, para homenagear as instituições envolvidas.
As homenagens foram entregues em junho, durante o encerramento do encontro de manejadores promovido pelo Ibama. “Celebramos hoje não apenas o sucesso ecológico, mas também o fortalecimento das comunidades, a valorização do conhecimento ancestral e a construção coletiva de um futuro sustentável”, afirmou a nota em homenagem.
Fonte: Portal do Agronegócio
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