Aquicultura e Pesca

A aquicultura no Brasil hoje e o papel do pesquisador


Publicado em: 12/03/2012 às 09:05hs

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Muitos têm apostado no potencial da aquicultura na garantia do suprimento de proteína de boa qualidade, na redução de pobreza, na conservação de espécies ameaçadas de extinção, entre outros. O incentivo à produção aquícola foi até chamada de Revolução Azul, em analogia à Revolução Verde, que prometia aumentar a produtividade da agricultura na década de 50 do século passado.

As estatísticas atuais mostram que houve e ainda há avanços significativos no crescimento do setor: a aquicultura é o ramo da agropecuária que mais cresce no mundo hoje. No entanto, o crescimento da atividade por si só não é suficiente, mas sim seu desenvolvimento, para que seja construída em base sólida para possibilitar a realização do potencial esperado.

No passado, a aquicultura intensiva, em monocultivo, com altas densidades de estocagem, cultivando espécies exóticas, carnívoras, demonstrou-se ineficiente em se sustentar ao longo do tempo. Como exemplo, vários empreendimentos entraram em falência pela elevada mortalidade causada por doenças no cultivo, já que em monocultivo, a resiliência do sistema é baixa. Além disso, foi observada redução de estoques de espécies nativas quando exóticas foram introduzidas no ambiente pelo escape de viveiros e tanques de cultivo. A criação de espécies carnívoras também não contribuiu para a preservação de estoques dos oceanos, já que necessita de níveis elevados de proteína bruta em sua dieta, provenientes da pesca predatória.

Outro problema que ocorreu no passado (e ainda ocorre atualmente) é a exportação de riquezas do local em que o empreendimento aquícola é instalado para mercados externos, impedindo o desenvolvimento de comunidades locais. A aquicultura voltada para a exportação explora os recursos naturais para a formação dos produtos aquícolas, mas os negligencia na contabilidade dos custos de produção e na formação dos preços. Portanto, países em desenvolvimento perdem riquezas por venderem seus produtos para países desenvolvidos, que têm maior poder de compra, por não considerá-las nos custos de produção. Estas riquezas poderiam ser aplicadas no local, gerando desenvolvimento. Ainda pode ocorrer importação de mão-de-obra para o empreendimento, o que distancia a aquicultura como atividade socialmente justa.

Os caminhos para se desenvolver a aquicultura com sustentabilidade, a fim de atender aos potenciais nela creditados, é a mudança nos paradigmas impostos no passado. Atualmente, a visão antiga sobre os modelos que deveriam ser seguidos na expansão da aquicultura está sendo substituída por outros valores. Nesse novo conceito, a visão ecossistêmica é preconizada, e seus princípios são: A aquicultura deve ser desenvolvida no contexto das funções e serviços ecossistêmicos (incluindo a biodiversidade) sem degradação além de sua resiliência; a aquicultura deve melhorar o bem-estar humano e a equidade para todos os tomadores de decisão; a aquicultura deve ser desenvolvida no contexto de outros setores, políticas e objetivos.

Portanto, atualmente, o desafio dos pesquisadores da área é o desenvolvimento de tecnologias de cultivo de espécies nativas, e o uso de produtos e subprodutos regionais para a fabricação de insumos da produção, como ingrediente da dieta ou medicamento, por exemplo. Além disso, devem desenvolver sistemas em integração com outras espécies animais ou vegetais, para aumentar a resiliência dos sistemas e possibilitar sua continuidade num amplo horizonte. Outra questão importante é o reconhecimento da ação do meio ambiente no processo produtivo, ou seja, estudos devem ser feitos para aplicar e/ou desenvolver metodologias para a quantificação dos serviços ecossitêmicos e das externalidades nos projetos.

O código de conduta do pesquisador deve ser baseado na ética, refletido na experimentação animal, no ambiente de trabalho e demais atores sociais envolvidos. Além disso, nesse processo, é imprescindível a participação das comunidades locais e a incorporação dos seus saberes. Desse modo, será possível subsidiar a formação de políticas públicas para o setor aquícola sob estruturas sólidas, possibilitando o atendimento às expectativas nela depositadas.

Janaina Mitsue Kimpara - Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

Fonte: Embrapa Meio-Norte

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