Publicado em: 23/11/2023 às 17:00hs
A criação de abelhas para produção de mel, própolis e pólen é uma atividade agrícola com pelo menos 4500 anos e esses produtos são importantes ingredientes em receitas, remédios e cosméticos. O mel é o composto mais abundante em uma colméia e é um alimento consumido pela humanidade há cerca de 10.000 anos, sendo por milênios nossa única fonte de açúcar.
A apicultura é uma atividade em crescimento no Brasil. O faturamento do setor praticamente dobrou desde 2019, saindo de 495 milhões para quase 958 milhões de reais em 2022, cerca de 93% de aumento, de acordo com dados do IBGE. A apicultura, é a criação de abelhas sociais com ferrão para produção de mel. Dentre as mais comuns está a Apis mellifera, também conhecida como abelha africanizada, que dá o nome à atividade.
A produtividade média de uma colmeia de Apis mellifera é de 35 a 40 quilos de mel por ano, com o preço de venda em torno de 50 reais por quilo. Mas com técnicas de manejo corretas e um ambiente saudável ao redor, é possível aumentar a produtividade. “Queremos chegar ao fim deste verão com uma produção média de 60 quilos por caixa. Nossa meta é produzir 1,5 toneladas”, explicou Leonardo Medeiros, apicultor da cidade de Juiz de Fora.
Ele entrou na apicultura em 2020 e atualmente tem cerca de 25 colmeias de Apis mellifera em produção. Leonardo produz na região leste da cidade e é também criador de espécies nativas, sem ferrão, conhecidas como meliponas. São cerca de 20 colmeias de diversas abelhas com tamanhos e produtividade variadas, que têm um importante trabalho de polinização. “Eu comecei na apicultura com a abelha jataí, foi ela quem me fez sentir interesse pela criação desses animais. Atualmente, também crio mandaçaia, mirim-droryana, mirim-luci, iraí, jataí e tubuna. Pretendo até o ano que vem, estar comercializando enxames e os produtos que essas abelhas fornecem”, afirmou Leonardo.
A abelha africanizada é apenas uma das diversas espécies capazes de produzir mel e outros produtos. As meliponas e as trigonas são dois grupos de abelhas sem ferrão que dão nome à meliponicultura, que é a criação de abelhas nativas e regionais. O Brasil tem mais de 250 espécies de abelhas destes grupos, como a jataí, irapuã e uruçu, criando variedades de mel que agradam aos mais diversos paladares, agregando valor ao produto vendido.
O preço de um quilograma de mel de abelha jataí, por exemplo, pode chegar a custar cerca de 600 reais. A produtividade de uma colmeia, no entanto, não passa de um quilo por ano. “O mel da Apis você consegue colher ele silvestre, com características florais. Já com as meliponas, a característica é a acidez, com consistências bem distintas. Cada abelha tem um mel com cor, sabor e textura diferentes. Tem mercado, mas é um público mais restrito. É usado na culinária, em drinks”, contou Alex Ferreira de Souza, presidente da Associação dos Apicultores de Juiz de Fora e Região (APIJUR). Ele é meliponicultor e apicultor.
As diferenças não ficam apenas no mel. O própolis, que também é chamado de geoprópolis, tem cores, sabores e aromas diferentes para cada espécie, passando do ácido ao amadeirado, com cores fortes e vibrantes. As meliponas, em geral, são menores que as abelhas africanizadas, com acentuadas diferenças físicas entre as espécies. A mandaçaia, pode chegar a até 11 mm. Já a mirim-luci, não passa de 3mm. Enquanto isso, a africanizada chega a medir 13mm.
O pólen, que nas meliponas é conhecido como samburá, na colmeia serve de alimento, mas pode ser usado pelo ser humano como um poderoso suplemento alimentar, rico em vitaminas e minerais, com ação antiviral, fúngica e microbiana. Outros produtos, como própolis e mel, têm características anti-inflamatórias e fortalecem o sistema imunológico.
Preservação ambiental e recuperação de espécies
Por serem em sua maioria endêmicas, as abelhas nativas são naturalmente adaptadas para polinizar as mais diversas espécies de plantas da região. Outra vantagem da meliponicultura é sua capacidade de recomposição da biodiversidade e preservação do meio ambiente. A atividade também auxilia na recuperação das populações de espécies ameaçadas de extinção.
“Hoje eu crio as meliponas para preservá-las. Eu retiro mel e própolis para consumo próprio e quase não comercializo. Eu tenho benefício de estar trabalhando com elas e eu tenho mais saúde por consumir os produtos dessas abelhas. Que eu adoro. Mas a ideia é preservar essas espécies e multiplicar essas populações” afirmou Alex Ferreira.
Em sua propriedade, Alex tem colmeias de diversos tipos de abelhas, algumas encontradas em ambiente natural, tendo se alojado em áreas de sua propriedade. Outras, foram capturadas e recebem caixas onde podem se reproduzir e produzir em segurança. “Crio aqui espécies como a jataí, mirim-luci, mirim-droryana, mandaguari amarela, mandaçaia, boca de sapo, mandaguari preta. Algumas eu nem tiro mel ou própolis, crio apenas pela convivência com elas”, explicou Alex.
Pela lei ambiental, o produtor não pode fazer o manejo de uma colmeia que tenha se instalado em ambiente silvestre. Mas é permitida a captura de enxames que se desprendem dessas colmeias, com o uso de iscas. Além disso, apenas abelhas endêmicas podem ser criadas. Não é permitida a criação de espécies exóticas.
Alex conta que além de serem um importante fator de recuperação ambiental, as abelhas auxiliam na biodiversidade. “Todas as abelhas são benéficas ao meio ambiente, algumas flores que as africanizadas não conseguem polinizar, por conta do tamanho, a jataí consegue, pois é menor, como é o caso do morango, por exemplo. A mamangava é ótima para o maracujá”.
Além de não gerar competição entre as espécies, a criação de diferentes tipos de abelhas complementa o trabalho de polinização, tornando-o mais eficiente. “Um ambiente de polinização saudável tem pelo menos três espécies diferentes executando este trabalho”, é o que explica o zootecnista Arthur Sodré. “Hoje as abelhas sem ferrão são quase um pet, por ser possível que elas convivam no meio urbano, elas viram as queridinhas das pessoas, pois compõem ambientes, hortas comunitárias, jardins, além de ser nativa e ter a vocação natural para conservar esses ambientes”, completou o zootecnista.
A presença de abelhas é um forte marcador ambiental. Elas são sensíveis a mudanças ambientais e ao desequilíbrio ecológico, sendo que sua presença é um indicador de equilíbrio e saúde no ecossistema. Elas são responsáveis pela polinização de mais de 80% das plantas, possibilitando a geração de frutas e sementes. Atualmente, as abelhas são animais considerados sob ameaça de extinção.
Nos próximos meses está programado o início de uma turma de ATeG para a cadeia da apicultura, na região de atuação do Sindicato Rural de Juiz de Fora. Durante 24 meses, criadores de abelhas receberão assistência técnica e gerencial do Sistema Faemg Senar, de forma gratuita.
O gerente regional do Sistema Faemg Senar em Juiz de Fora, Emerson Simão, explica a importância de incentivar a criação de abelhas, uma atividade essencial não apenas pelo consumo de seus produtos, mas por seu papel biológico, responsável pela manutenção da biodiversidade e da polinização de diversas frutas e legumes que chegam à mesa do consumidor. “A apicultura tem passado por um aumento considerável no número de produtores. Além do seu papel ambiental e ecológico, se encaixa perfeitamente em áreas antes inutilizadas, aumentando assim a eficiência no uso da terra na propriedade, Além disso, traz alternativa de renda aos produtores, que encontram um mercado em plena expansão e ávido por seus produtos que, além de deliciosos, fazem muito bem a saúde.”, comentou.
20 criadores de abelhas devem receber assistência técnica e gerencial pelos próximos dois anos. O Leonardo e o Alex, serão participantes. São quatro horas de atendimento presencial mensais, onde serão implementadas técnicas de gestão de negócio, otimização tecnológica, melhoramento de colmeias, posicionamento de marca e técnicas mercadológicas, para impulsionar os apicultores a profissionalizar seus negócios rurais.
Fonte: FAEMG
◄ Leia outras notícias