Publicado em: 06/08/2025 às 11:05hs
Mais de 2 mil toneladas de mel brasileiro destinadas aos Estados Unidos estão paradas desde o dia 9 de julho, quando entrou em vigor o tarifaço anunciado pelo ex-presidente Donald Trump. A medida impôs barreiras a diversos produtos brasileiros, afetando fortemente o setor apícola.
Segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), as exportações do alimento no último mês caíram cerca de 50% em relação ao volume esperado.
O impacto da medida é significativo, já que os Estados Unidos são, historicamente, o maior mercado para o mel do Brasil. Nos últimos anos, cerca de 80% das exportações do produto tiveram como destino o mercado norte-americano.
Renato Azevedo, presidente da Abemel, destaca que a situação preocupa ainda mais por afetar diretamente a agricultura familiar. “A maior parte da produção vem de pequenos apicultores. Estima-se que o país tenha entre 200 mil e 300 mil apicultores em atividade”, explica.
Diante da queda nas vendas, o setor busca alternativas: redirecionar a produção para outros mercados ou aumentar o consumo interno. No entanto, ambos os caminhos apresentam desafios.
Redirecionar o mel para outros países, como os da União Europeia, não é uma tarefa simples. Fábia de Mello, pesquisadora da Embrapa, explica que cada mercado tem exigências próprias de qualidade e certificações específicas.
A União Europeia, por exemplo, tornou suas regras mais rígidas há cerca de três anos, exigindo que cada apicultor obtenha certificações individualmente. Isso dificulta o acesso, principalmente porque a maioria dos produtores brasileiros é de pequeno porte e não tem estrutura técnica ou financeira para atender essas exigências.
“Ao contrário dos EUA, onde empresas exportadoras podem assumir os custos da certificação, na Europa isso não é mais permitido”, afirma Azevedo.
Com a dificuldade de exportação, o excesso de produto deve pressionar os preços para baixo no mercado interno. “A tendência é de queda no valor do mel, já que haverá mais oferta e menos demanda”, diz Azevedo.
Sérgio Farias, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), alerta que os pequenos produtores serão os mais prejudicados. “Um apicultor típico ganha cerca de R$ 4 mil por mês. Se o preço cair, essa renda pode ser fortemente comprometida”, afirma.
Além disso, o consumo interno de mel é baixo. “O brasileiro, em geral, só consome mel quando está doente”, explica a pesquisadora Fábia de Mello. Segundo ela, seria necessário triplicar o consumo atual para absorver o volume que antes era exportado aos EUA.
O setor aposta em uma menor retração nas exportações de mel orgânico, que é valorizado no mercado norte-americano, especialmente na categoria de “mel de mesa” — aquele consumido diretamente.
Para ser classificado como orgânico, o mel precisa ser produzido longe de áreas com agrotóxicos (no mínimo 3 a 4 km de distância) e o apicultor deve passar por certificação rigorosa feita por empresas especializadas.
Esse segmento oferece alguma esperança de negociação com os EUA. “Já o mel convencional (não orgânico) terá grande dificuldade para competir com produtores de países como Argentina, Uruguai e Ucrânia”, alerta Azevedo.
A possibilidade de queda nos preços do mel no mercado interno, embora beneficie o consumidor, preocupa os produtores. Azevedo explica que o mel pode ser armazenado por até três meses sem perder qualidade, o que abre margem para negociações de curto prazo com os EUA.
Entretanto, Farias, da CBA, afirma que o setor ainda não possui um “plano B” imediato, dada a forte dependência do mercado norte-americano.
Como estratégias de médio e longo prazo, representantes da cadeia produtiva do mel propõem ações para mitigar os efeitos do tarifaço e fortalecer o setor:
Enquanto os impactos do tarifaço se desenrolam, os produtores de mel enfrentam incertezas e pressão econômica. A expectativa do setor é que ações estratégicas ajudem a mitigar os danos, mas a superação da crise dependerá de adaptações estruturais e abertura de novos mercados.
Fonte: Portal do Agronegócio
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