Publicado em: 03/06/2025 às 08:30hs
Ao contrário do que muitos imaginam, a maior parte das abelhas que vivem na natureza não habita colmeias. Conhecidas como abelhas solitárias, esses insetos são frequentemente confundidos com vespas ou moscas-varejeiras, mas desempenham um papel crucial na polinização de plantas nativas e cultivadas.
Segundo a Emater-MG, cerca de 85% das plantas com flores no planeta dependem da polinização para se reproduzirem — atividade essencialmente realizada por esses polinizadores. “Sem elas, a regeneração de matas e a produção agrícola estariam comprometidas”, destaca a coordenadora de Pequenos Animais da Emater-MG, Márcia Portugal.
As abelhas solitárias estão entre as espécies mais vulneráveis à degradação ambiental, especialmente devido a queimadas e desmatamentos. Ainda assim, são elas as responsáveis pela polinização de alimentos como orquídeas, abacate, acerola, melancia, goiaba, abóbora e outras frutas.
Com mais de 30 mil espécies de abelhas registradas no mundo — sendo 80% solitárias — o Brasil abriga mais de 4 mil dessas espécies, muitas delas com características únicas, como uma glossa (língua) mais longa, que permite acessar pólen e néctar de flores que outras espécies não conseguem alcançar.
Em Belo Horizonte, a Emater-MG, em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), desenvolve desde 2021 um projeto focado na preservação e multiplicação das abelhas solitárias dentro do Parque Estadual Serra Verde, localizado ao lado da Cidade Administrativa.
A iniciativa consiste na instalação de ninhos artificiais, feitos a partir de pedaços de troncos ou bambus, com furos de diferentes tamanhos — adequados à grande diversidade de espécies, que podem variar entre 5 milímetros e 5 centímetros.
Após o acasalamento, a abelha solitária procura um dos orifícios disponíveis para depositar seus ovos. Junto com os ovos, ela deixa alimentos como pólen, pequenos insetos ou aracnídeos, que servirão para nutrir as larvas. Após fechar o ninho, não há mais contato com a cria, que se desenvolve sozinha até emergir semanas depois.
Atualmente, o parque conta com cerca de 50 ninhos catalogados, que são regularmente monitorados para verificar a utilização pelas abelhas.
Além da conservação de espécies, o projeto tem também uma importante função de monitoramento ambiental. “As abelhas solitárias são bioindicadoras. Em ambientes degradados, elas simplesmente não aparecem. Quando encontramos essas abelhas, sabemos que o ambiente está se regenerando ou é bem conservado”, explica Márcia Portugal.
Segundo o gerente do parque, André Santana, ainda são necessários estudos aprofundados para avaliar plenamente o sucesso da iniciativa. Por isso, o espaço está aberto a pesquisadores interessados em estudar as espécies e seu comportamento.
“O objetivo inicial foi oferecer mais locais para reprodução das abelhas nativas solitárias. Agora, essa ação abre espaço para pesquisas sobre ecologia e conservação, contribuindo para entender melhor o impacto do projeto”, afirma Santana.
Com ações simples, como a criação de ninhos adaptados, o projeto da Emater-MG no Parque Estadual Serra Verde mostra que é possível aliar conservação ambiental, incentivo à pesquisa científica e proteção de espécies fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. Um exemplo concreto de como iniciativas locais podem gerar impactos globais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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