Publicado em: 24/02/2022 às 13:40hs
O mel de Aroeira produzido no Norte de Minas recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG), na espécie Denominação de Origem, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A conquista marca um novo capítulo na produção deste mel típico da região que, até pouco tempo, era menos valorizado do que o mel silvestre.
Segundo o presidente da Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi), Luciano Fernandes de Souza, a motivação para a busca do registro surgiu após a realização de estudos que comprovaram o potencial terapêutico do produto. “O mel de Aroeira da região é diferente, escuro e tinha pouco valor agregado, mas as pesquisas de caracterização comprovaram grande presença de compostos fenólicos com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana, resultando num produto diferenciado entre os méis produzidos no Brasil.”, explica.
A conquista do registro é um avanço importante nessa caminhada, que vem desde a década de 1980, quando a Emater-MG iniciou a implantação da apicultura no Norte de Minas. “Sempre estivemos na linha de frente no campo, construímos os primeiros projetos, capacitações dos produtores, instalamos as primeiras colmeias e ajudamos na instalação das primeiras casas de mel e entrepostos”, relembra o gerente regional da Emater-MG de Montes Claros, José Arcanjo Pereira.
Fazem parte da região reconhecida com a Indicação Geográfica 64 municípios do Norte de Minas. A apicultura é fonte de emprego e renda para aproximadamente 1,5 mil famílias, somando quase de 5 mil pessoas envolvidas na atividade. O volume de mel produzido no Norte de Minas é de cerca de mil toneladas por ano, e o mel de aroeira responde por aproximadamente 40% desse total, em ano de boa produção.
Além da expectativa de valorização com o registro, outros benefícios são esperados a partir desta nova etapa como o acesso aos mercados internacionais, a exemplo dos EUA e países da União Europeia, tradicionais consumidores de produtos de alto valor agregado. Há, ainda, o impulso a outras atividades como o turismo regional, além dos aspectos ambientais com a preservação da mata de aroeira.
“Até então era simplesmente um sonho que a gente tinha”, afirma o apicultor Francisco de Paula Malveira, do município de Claro dos Poções. Há 25 anos na atividade, o produtor tem no mel a sua principal fonte de renda. O volume anual de duas toneladas é dividido entre 1,5 tonelada de mel de Aroeira e o restante de silvestre. “É uma conquista exclusiva do Norte de Minas e onde o nosso mel chegar todos saberão que é da região”.
O assessor técnico especial da Apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Frederico Ozanam de Souza, explica que o mel de Aroeira recebe este nome porque as abelhas retiram o néctar da planta Myracrodruon urundeuva, um tipo de aroeira, vegetação predominante em regiões de mata seca, caracterizadas pelo clima árido e precipitação anual baixa, além de solos com baixa acidez e altas quantidades de cálcio.
“Além disso, outro fator natural que contribui para as características deste mel é a associação com insetos psilídeos, conhecidos como pulgões, em suas folhas e flores. Ao polinizar a aroeira-do-sertão, as abelhas coletam um néctar misturado às secreções fenólicas e à secreção excretada pelos pulgões. Todo esse processo favorece a produção de melato, uma substância que não está presente nos méis produzidos a partir de outras espécies vegetais, enriquecendo e conferindo qualidades únicas ao mel de aroeira da região. Outro ponto importante é o modo de fazer dos apicultores, que proporcionam a produção de um mel com qualidades e características oriundas do meio geográfico”, detalha o assessor técnico da Seapa.
Coube ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), órgão vinculado à secretaria de Agricultura, a publicação da portaria que identificou a região do Norte de Minas como produtora de mel de aroeira. “Nós recebemos os estudos realizados pela instituição solicitante e analisamos para saber se está de acordo com o especificado na legislação. Em caso positivo, o IMA faz a publicação do ato normativo, que se junta aos outros documentos reunidos pelo requerente no dossiê encaminhado ao INPI para a solicitação do registro”, explica a coordenadora de Certificação do IMA, Teresa dos Santos Assis.
Além do órgão estadual de defesa sanitária agropecuária, também participaram do processo para o registro de Indicação Geográfica do mel de Aroeira: Fundação Ezequiel Dias (Funed); ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Regional, por meio da Rota do Mel; Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco (Codevasf); Sebrae Minas e o Banco do Nordeste.
A região do Norte de Minas com a Indicação Geográfica de produtora de mel de Aroeira é composta pelos seguintes municípios de Arinos, Bocaiúva, Bonito de Minas, Brasilândia de Minas, Brasília de Minas, Buritizeiro, Capitão Enéas, Chapada Gaúcha, Campo Azul, Catuti, Claro dos Poções, Cônego Marinho, Coração de Jesus, Engenheiro Navarro, Espinosa, Formoso, Francisco Sá, Gameleiras, Glaucilândia, Guaraciama, Ibiaí, Ibiracatu, Icaraí de Minas, Itacarambi, Jaíba, Janaúba, Januária, Japonvar, Jequitaí, Juramento, Juvenília, Lagoa dos Patos, Lontra, Luislândia, Manga, Mamonas, Matias Cardoso, Mato Verde, Mirabela, Miravânia, Montalvânia, Monte Azul, Montes Claros, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Patis, Pedras de Maria da Cruz, Pintópolis, Ponto Chique, Porteirinha, Riachinho, Riacho dos Machados, Santa Fé de Minas, São Francisco, São João da Lagoa, São João da Ponte, São João das Missões, São João do Pacuí, São Romão, Serranópolis de Minas, Ubaí, Urucuia, Varzelândia e Verdelândia.
Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento dos produtores e da atividade apícola, a Secretaria de Agricultura adquiriu e doou kits de apicultura para os municípios de Ibiaí, Ponto Chique e Lagoa dos Patos, localizados no Norte de Minas e também integrantes da região reconhecida como produtora de mel de Aroeira.
Cada kit apícola é composto por colmeias completas para apicultura com suportes para caixa de colmeia, cera de abelha tipo alveolada, equipamentos de proteção individual (macacão para captura de abelhas, luvas para segurança e calçados de segurança), fumigadores, carretilhas, formões e garfos desoperculadores para apicultura.
A ação da Seapa contribui para a valorização, crescimento da produtividade e qualidade do mel, indicadores que estão diretamente ligados ao uso de materiais e equipamentos adequados e de qualidade, aos quais boa parte dos apicultores mineiros têm dificuldade de acesso.
Fonte: SEAPA MG - Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MG
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