Publicado em: 07/05/2025 às 10:00hs
A ciência agronômica contemporânea aponta que a sustentabilidade de um sistema de produção vai além da simples capacidade de gerar alimentos. Para que seja considerada realmente sustentável, é preciso que a produtividade da cultura esteja embasada em tecnologias e processos reconhecidamente eficientes e equilibrados. A polinização, por exemplo, surge como uma das estratégias fundamentais para impulsionar a produtividade agrícola de maneira sustentável, como ilustrado pelo caso da soja.
A soja, uma das principais culturas agrícolas do mundo, se destaca não apenas pela sua contribuição alimentar, mas também pela sua importância na formulação de rações animais. Representando 25% do óleo comestível mundial e 65% da proteína utilizada na alimentação de animais, a soja tem um papel crucial na cadeia produtiva global. Desde a década de 1970, sua produção cresceu a um ritmo superior ao de outras culturas, com previsão de atingir mais de 420 milhões de toneladas na safra 2024/25. O Brasil, como maior produtor mundial, deve colher cerca de 164 milhões de toneladas, o que equivale a aproximadamente 40% da produção global, cultivando uma área de 47 milhões de hectares.
Estudos demonstram que cerca de 30% da produção mundial de alimentos depende de polinizadores, que acrescentam mais de US$ 200 bilhões anuais ao valor da produção agrícola global. A polinização é um processo essencial para a reprodução das plantas, e aproximadamente 75% das plantas com flores necessitam da ação de polinizadores, especialmente as abelhas. Esses insetos desempenham um papel vital na agricultura, ao garantir a fertilização das plantas e, consequentemente, a formação de frutos e sementes.
Tradicionalmente, a soja é classificada como uma planta autógama, ou seja, capaz de se autopolinizar. No entanto, estudos mais recentes mostram que suas flores podem, sim, ser polinizadas por visitantes florais, até seis horas após sua abertura. Este fenômeno está relacionado ao fato de que, apesar de a soja ser capaz de produzir sementes sem a ajuda de polinizadores, a polinização suplementar pode aumentar a produtividade, otimizando a fertilização e favorecendo a formação de mais sementes.
As flores de soja atraem as abelhas por meio de substâncias voláteis que emitem no ar, guiando os insetos até as flores. Como recompensa, as abelhas recebem néctar de alta qualidade, com grande concentração de açúcares, o que torna a soja uma excelente fonte de alimento para esses polinizadores.
A colaboração entre a soja e as abelhas se torna mais estratégica à medida que as lavouras de soja se aproximam dos apiários ou dos habitats naturais das abelhas. Com isso, apicultores têm se interessado em posicionar seus apiários nas proximidades de áreas de cultivo de soja, permitindo que as abelhas forrageiem na cultura. Este movimento não apenas beneficia a soja, mas também resulta em uma excelente produção de mel, altamente valorizada no mercado.
A presença de abelhas nas lavouras de soja pode aumentar a produtividade de 15% a 30%, conforme demonstram estudos realizados em diversos países. As pesquisas da Embrapa indicam que a produtividade da soja pode ser elevada em média em 13% quando há presença adequada de polinizadores, o que gera uma significativa renda líquida adicional para o produtor. Considerando a cotação da soja e o aumento de produtividade observado, isso pode representar um ganho de até R$ 1.500 por hectare, o que equivale a 25-30% do custo de produção.
Além dos ganhos diretos para a produtividade, a integração entre soja e abelhas também contribui para a sustentabilidade ambiental. Ao colher mais soja com a mesma quantidade de insumos, sem a necessidade de expandir a área cultivada, o produtor reduz as emissões de gases de efeito estufa por tonelada produzida. Estudos indicam que um aumento de 20% na produtividade de soja pode reduzir em 25% as emissões de CO2 equivalente, sem considerar os benefícios ambientais decorrentes da não expansão das áreas de cultivo.
A integração entre soja e abelhas é um exemplo claro de uma estratégia ganha-ganha. Para os sojicultores, ela resulta em maior produtividade e rentabilidade, enquanto os apicultores se beneficiam de uma excelente fonte de alimento para suas colônias, produzindo mel de alta qualidade. Além disso, o meio ambiente ganha com a diminuição das emissões de carbono e a preservação de ecossistemas. Esta parceria contribui para a construção de um modelo agrícola mais sustentável, consolidando o Brasil como líder global na agricultura sustentável.
O trabalho conjunto de engenheiros agrônomos e apicultores é fundamental para promover a integração da soja e das abelhas, criando um ciclo virtuoso que beneficia não só os envolvidos diretamente, mas também a sociedade e o planeta.
Fonte: Portal do Agronegócio
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