ECONOMIA: Efeito da seca sobre a inflação começa a chegar ao consumidor

O maior impacto da estiagem já foi absorvido pela inflação, mas parte do choque ainda se concentra no atacado e chegará ao varejo nos próximos dois meses


Publicado em: 31/03/2014 às 12:00hs

ECONOMIA: Efeito da seca sobre a inflação começa a chegar ao consumidor

O maior impacto da estiagem já foi absorvido pela inflação, mas parte do choque ainda se concentra no atacado e chegará ao varejo nos próximos dois meses, segundo o coordenador dos Índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Neste mês, o IGP-M saltou para 1,67%, após subir 0,38% em fevereiro. Foi a maior alta desde julho de 2008 e o maior percentual para março desde 1999. Dessa alta de 1,29 ponto percentual de um mês para o outro, pelo menos um ponto se deve ao efeito da seca sobre os alimentos, diz Quadros.

Produtos agropecuários - Puxados por soja, milho, bovinos e café, os produtos agropecuários no atacado dispararam 6,16%, alta não registrada desde novembro de 2002. Os produtos in natura saltaram 17,48%, após elevação de 0,60% em fevereiro.

Ponto fora da curva - Para Quadros, o desempenho da inflação em março pode ser considerado "um ponto fora da curva". Segundo ele, a tendência é de devolução de grande parte dessa alta nos próximos meses. "Não temos agora um cenário como o de 2008, em que houve um processo longo de alta resultante de demanda aquecida", diz. "Os preços dos in natura vão voltar a cair. Outros alimentos talvez não cheguem à deflação, mas vão subir menos."

Concentração - Por enquanto, os aumentos ao consumidor estão mais concentrados em frutas, verduras e legumes. Produtos como tomate e batata fizeram com que o reajuste dos alimentos no varejo triplicasse em março, passando de 0,49% para 1,55%. Com esse impulso, a inflação ao consumidor registrou aceleração de 0,70% para 0,82%.

Alta dos juros - Na avaliação do coordenador dos IGPs, é prudente que o Banco Central (BC) estenda o ciclo de alta dos juros num sinal de comprometimento em frear a inflação. Para ele, a falta de ação por parte da autoridade monetária poderia colocar em risco sua credibilidade.

Sinalização - "O BC pode até não elevar os juros como seria necessário, mas precisa sinalizar ao mercado que continuará enfrentando a inflação", diz Quadros. Para ele, o governo terá que decidir se dará prioridade ao controle inflacionário ou à atividade econômica. "Não há como conter a inflação sem restringir a demanda."

Nível - Segundo Quadros, a elevação de juros é, indiretamente, eficaz no combate ao avanço de preços de serviços e alimentos, itens menos dependentes de crédito. "A questão é saber em que nível precisam estar para reduzir a pressão. Talvez não valha a pena elevar tanto a taxa, mas não fazer nada dificultaria a correção futura."