Dólar e crédito são os assuntos do ano na agricultura, diz Mendonça de Barros

Por que o real se desvalorizou tanto frente ao dólar e qual o efeito da macroeconomia na agropecuária?


Publicado em: 09/04/2015 às 16:50hs

Dólar e crédito são os assuntos do ano na agricultura, diz Mendonça de Barros

Por que o real se desvalorizou tanto frente ao dólar e qual o efeito da macroeconomia na agropecuária? Esta foi a pergunta que o economista Alexandre Mendonça de Barros tentou responder em sua participação no Fórum dos Profissionais de Finanças promovido pelo Sistema Ocepar na tarde de terça-feira (07/04), em Curitiba (PR). “O assunto do ano no agronegócio, por incrível que pareça, não é agrícola, mas sim a taxa de câmbio e também o crédito. A questão, portanto, é macroeconômica. No ano passado, o dólar estava cotado a R$ 2,20, e hoje está batendo a casa dos R$ 3,30. Isto trouxe um alento de preços muito favorável, pois houve uma boa formação de preços nesta safra”, disse Mendonça de Barros, que é doutor em economia, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e diretor da MB Agro Associados.

Recuperação dos EUA – De acordo come ele, a desvalorização do real está relacionada, primeiramente, à recuperação da economia americana. “Voltamos ao que o mundo sempre foi, e que nesses últimos seis anos foi completamente diferente em função da crise de 2008. Os Estados Unidos voltou a ser o centro da economia mundial. Isto, por si só, já provocaria a desvalorização do real, ou seja, a moeda brasileira perderia, de qualquer maneira, força frente ao dólar, simplesmente porque a economia americana voltou a ficar muito bem”, disse. Segundo ele, o crescimento econômico dos EUA diminuiu a taxa de desemprego e há uma expectativa no mercado de um aumento na taxa de juros, o que deve fazer com que os investidores voltem a aplicar na economia americana.

Desvalorização foi mais forte – Mas o que era esperado pelo mercado, ultrapassou qualquer expectativa, já que o real foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar, se comparado a outras moedas que também seguiram por esse caminho. “E isto nada tem a ver com macroeconomia. Aconteceu por causa de razões internas brasileiras, ou seja, em função dos resultados ruins que o país tem tido do ponto de vista econômico”, comentou.

Números ruins – No ano passado, conta Mendonça de Barros, a economia brasileira cresceu 0,1%, a inflação voltou galopante, a taxa de desemprego aumentou, houve déficit na balança comercial e também déficit fiscal, revertendo uma trajetória de superávit fiscal que o Brasil vinha mantendo já há alguns anos. “Gastamos mais do que arrecadamos. As contas públicas pioraram”, disse. Para este ano, as projeções mostram que o país continua em dificuldades. “Estamos prevendo um crescimento negativo de 1,5%, uma inflação ainda alta, na casa de 8,2%, um pequeno superávit da balança comercial, porém puxado pelas importações, uma diminuição no poder de compra da população de 0,3%, e uma elevação na taxa de desemprego, o que também deve causar um degaste político, já que a geração de empregos vinha sendo uma das principais bandeiras do governo”, afirmou.

Reflexos da política - Este cenário, na avaliação do economista, criou uma situação de instabilidade muito grande para o país. “Um novo ministro veio para concertar tudo isso”, disse Mendonça de Barros, lembrando que a promessa do ministro da Economia Joaquim Levy é fazer um ajuste fiscal que permita que o país cresça 1,2% este ano. “Entretanto, politicamente, o ministro está enfrentando muita dificuldade. A presidente da república se enfraqueceu diante da opinião pública e ainda se cercou de um grupo ligado ao PT que economicamente é contra as ideias de Joaquim Levy. Isto trouxe muita incerteza ao cenário econômico, porque as propostas do governo dependem de uma negociação com o Congresso. E o que estamos vendo é uma grande queda de braço. Há, portanto, uma desconfiança de que o governo não entregue o ajuste fiscal que prometeu. A esse quadro político, de fragilidade do governo em relação ao Congresso, soma-se outro problema e que envolve as denúncias de corrupção na Petrobras (Operação Lava Jato). E, então, chega-se a explicação dos motivos que levaram o real se desvalorizar tanto frente ao dólar”, frisou.

Agronegócio – “O único setor que está bem é o agronegócio. Mas está difícil explicar para quem trabalha com soja e milho, o tamanho da dificuldade da economia brasileira. Para onde olhamos, está ruim. Por outro lado, também não é fácil explicar para quem é do meio urbano o por quê do agronegócio estar tão bem”, comentou Mendonça de Barros, referindo-se ao fato de que a grande volatilidade da taxa de câmbio é muito boa para formar preço de soja, milho e carnes, porém, é muito ruim para adubos, defensivos, e provavelmente irá elevar os custos da próxima safra.

Clima – Além de um cenário que favorece a formação de preços das commodities agrícolas, Mendonça de Barros disse que há ainda outro fator que deve ser benéfico para o agronegócio nacional. “Está sendo sinalizado um El Niño para este ano. Isto é bom para o Brasil e ruim para a Ásia”, comentou, lembrando que as previsões climáticas ganharam força, principalmente depois que a Austrália, país que mais sofre com o El Niño, divulgou um alerta para esse fenômeno climático. “Pode ser, então, que ocorra um movimento especulativo em função do clima. Se isto acontecer, aproveitem para “surfar”, ou seja, fazer negócios”, conclui.

 

Fonte: Sistema OCEPAR

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