Demanda firme impulsiona margens da carne de frango

Beneficiadas pelo patamar confortável em que estão as cotações dos grãos que compõem a ração animal (soja e milho, basicamente), as empresas de carne de frango iniciaram o segundo semestre com margens bem acima da média histórica


Publicado em: 08/07/2015 às 11:30hs

Demanda firme impulsiona margens da carne de frango

Se as dificuldades enfrentadas pelos frigoríficos de carne bovina já precipitaram a paralisação definitiva ou temporária de mais de 40 unidades de abate no país neste ano, o cenário é completamente diferente para a indústria produtora de carne de frango, com resultados positivos que "desafiam" a crise que atinge a economia brasileira.

Beneficiadas pelo patamar confortável em que estão as cotações dos grãos que compõem a ração animal (soja e milho, basicamente), as empresas de carne de frango iniciaram o segundo semestre com margens bem acima da média histórica. O desempenho reflete o forte aumento das exportações e a migração do consumo doméstico de carne bovina - cujos preços estão em níveis recorde, sustentados principalmente pela oferta mais escassa de bois.

Já havia sinais dessa migração em 2014. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita anual de carne de frango atingiu 43 quilos no ano passado, 2,3% mais que em 2013. Já o consumo per capita de carne bovina caiu 6,92% na comparação, para 39,2 quilos, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Segundo a MB Agro, braço agrícola da consultoria MB Associados, a margem bruta da indústria de carne de frango baseada no sistema de integração - que inclui as principais empresas do segmento, como BRF, JBS Foods (Seara) e Aurora - atingiu 13% em junho no caso do produto in natura. Em maio, havia sido de 5% - que é também a média desde 2006, de acordo com a MB Agro.

César Castro Alves, analista da MB Agro, confirma que o cenário é de fato bastante favorável para a carne de frango, e isso deverá se refletir nos balanços das companhias que atuam nesse mercado. "Neste ano, o frango está com ração barata e preços nas alturas. E quanto mais se aprofunda a crise econômica, mais beneficiado o frango tende a ser". Ele lembra que a fase delicada da economia faz com que os consumidores escolham a carne de frango em detrimento da bovina, mais cara.

Assim, os preços da carne de frango ficaram bem mais vantajosos que os da bovina, mesmo depois de uma alta de mais de 6% em junho, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

De acordo com cálculos do Rabobank, na média de 2015 o quilo da carcaça bovina no atacado de São Paulo registra preço 2,71 vezes superior ao do frango resfriado - apenas neste início de julho, a relação já subiu para 2,90 vezes. Entre o início de 2012 e o fim do ano passado, a média foi de 2,17 vezes, conforme o banco. Não à toa, portanto, o cenário de migração do consumo rumo à carne de frango se "consolidou", afirmou ao Valor, na semana passada, o vice-presidente de aves da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

Entre especialistas é praticamente consenso que a melhora das margens em junho também está ligada ao forte aumento das exportações, que atingiram o recorde mensal de 395,7 mil toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela ABPA. Com esse desempenho, o segmento compensou o fraco resultado dos embarques de janeiro a maio - quando o volume recuou 3% em relação ao mesmo período de 2014 - e encerrou o primeiro semestre com aumento de 2%, totalizando 1,99 milhão de toneladas.

"Aguardávamos há meses as exportações deslancharem", diz o secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores. de Pinto de Corte (Apinco), José Carlos Godoy. Segundo ele, as exportações de junho podem finalmente ter refletido o avanço dos embarques do Brasil sobre os dos Estados Unidos, que sofreram embargos de diversos importadores por conta do surto de influenza aviária que atinge seus planteis.

A expectativa é que as exportações continuem fortes, e os primeiros relatos sobre os embarques em julho confirmam essa tendência, acrescentou Godoy. Diante disso, não há espaço para a redução dos preços da carne de frango, o que reforça a expectativa de margens positivas em todo o segundo semestre.

Fonte: Avisite

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