Cana de Açucar

Safra de cana no CS engata e preço do etanol deve começar a ceder após disparada

O preço do etanol nas usinas brasileiras tende a ceder a partir desta semana, diante de um avanço na moagem de cana no centro-sul do país, mas as cotações da gasolina ainda em patamares firmes devem atenuar qualquer recuo do biocombustível, segundo especialistas


Publicado em: 24/04/2019 às 20:00hs

Safra de cana no CS engata e preço do etanol deve começar a ceder após disparada

Os valores do renovável geralmente caem na virada de março para abril, conforme usinas dão início a uma nova safra de cana e impulsionam a fabricação do produto, inclusive para gerarem caixa com maior velocidade. Na atual temporada 2019/20, contudo, esse movimento ficou longe de ocorrer.

No acumulado de abril, o preço do hidratado nas usinas de São Paulo, Estado de referência nacional, acumula alta de 21,5 por cento, enquanto o anidro apresenta incremento de 14,4 por cento, conforme monitoramento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

Os preços médios do etanol hidratado, concorrente da gasolina, estão próximos de 2 reais por litro nas usinas paulistas, nos maiores níveis já registrados em termos nominais (sem considerar a inflação), segundo dados do Cepea.

No ano passado, as cotações do álcool começaram a cair em meados de março e estavam, nesta mesma época, abaixo de 1,50 real por litro, no caso do hidratado, e na faixa do 1,60 real, em relação ao anidro.

“É totalmente atípico o que está acontecendo, com uma conjunção de atraso de safra e uma chuva que veio justamente na hora em que estava começando (a colheita)... Mas acho que agora não sobe mais... A tendência agora nas usinas é cair, e na bomba também”, avaliou o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues.

O analista Matheus Costa, da INTL FCStone, comentou que o movimento de redução nos preços do etanol já teve início e tende a se acentuar.

Segundo ele, a moagem de cana deve aumentar nesta e nas próximas semanas, até porque mais unidades entrariam em operação. “A safra tende a engatar. As indicações são de que os preços já começaram a ceder”, afirmou.

A primeira metade de abril foi consideravelmente chuvosa no centro-sul do Brasil, limitando as operações das usinas.

Analistas ouvidos pela S&P Global Platts calculam uma perda de 4,2 dias de moagem por causa das precipitações, resultando em produção de 823 milhões de litros de etanol no período, versus quase 1 bilhão um ano antes.

Mas recentemente a situação melhorou para que as colhedoras possam acessar os canaviais. O Agriculture Weather Dashboard (AWD), do Refinitiv Eikon, aponta que nos últimos sete dias as precipitações ficaram aquém do normal em praticamente todo o centro-sul.

Nas próximas duas semanas, contudo, a tendência é de chuvas dentro ou acima da média em boa parte das áreas produtoras, ainda segundo o AWD.

Os dados oficiais da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) sobre a moagem de cana e produção de açúcar e etanol no centro-sul na primeira metade do mês ainda não foram divulgados.

SUSTENTO DA GASOLINA

A perspectiva de recuo nos preços do etanol a partir de agora não significa, porém, que a queda será grande, mesmo com as usinas alocando boa parcela de cana para o biocombustível.

Isso porque a gasolina, concorrente direto do renovável, segue firme nas refinarias da Petrobras, com viés de alta, em meio a preços do petróleo em máximas de cerca de seis meses.

“A gasolina está na contramão, tem o reajuste que ainda não foi repassado totalmente à bomba e a defasagem com o mercado internacional”, destacou Rodrigues, da comercializadora Bioagência, estimando preços do etanol 5 por cento mais altos nesta safra, em média, ante a passada.

Nesta terça-feira, a petroleira estatal anunciou um reajuste de cerca de 2 por cento no valor da gasolina nas refinarias, após alta de 5,6 por cento no começo do mês. O valor médio praticado pela companhia é o maior desde o fim de outubro.

Com o concorrente em níveis mais altos, a expectativa é de que o preço do etanol recue menos no ciclo 2019/20, afirmou Costa, da INTL FCStone.

“As indicações são de que se tem realmente uma sustentação (na gasolina). Então, talvez, o piso (do etanol) na safra não seja tão baixo quanto em anos anteriores. Há espaço para que o etanol caia menos”, explicou.

Fonte: Reuters

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