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Fabricantes de biocombustíveis de Brasil, EUA e UE pedem ajuda

Nos últimos dias, grupos do segmento se mobilizaram em todo o mundo para pedir medidas de socorro e a preservação dos mandatos que lhes garantem uma reserva de mercado, mas já há usinas fechando ante o derretimento da demanda mundial


Publicado em: 31/03/2020 às 17:00hs

Fabricantes de biocombustíveis de Brasil, EUA e UE pedem ajuda

Se as grandes petroleiras já estão anunciando cortes de produção e adiando investimentos diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, agravada pela guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia, os produtores globais de biocombustíveis, que têm custos de produção mais elevados, estão sentindo o torniquete apertar mais. Nos últimos dias, grupos do segmento se mobilizaram em todo o mundo para pedir medidas de socorro e a preservação dos mandatos que lhes garantem uma reserva de mercado, mas já há usinas fechando ante o derretimento da demanda mundial.

A produção de petróleo da Arábia Saudita consegue suportar preços mínimos de petróleo de até US$ 10 o barril, segundo a consultoria INTL FCStone - abaixo dos valores atuais, que não desceram abaixo de US$ 25 o barril -, apesar disso afetar as contas públicas do reino. Já os fabricantes de etanol estão operando com margens negativas nos principais polos de produção. Nos EUA, maior produtor e exportador de etanol - que no país é feito de milho -, as usinas não aguentam por muito tempo preços menores do que US$ 0,953 o galão, o custo médio de produção no país, segundo a consultoria Platts, da S&P Global. Ontem, o contrato de etanol para abril fechou a US$ 0,99 o galão na bolsa de Chicago, mas chegou a US$ 0,883 o galão na segunda-feira.

No Brasil, o etanol hidratado já dá prejuízo: na semana passada, o preço recebido pelos produtores de São Paulo (R$ 1,6721 o litro em São Paulo) já estava abaixo do custo de produção, de R$ 1,707 o litro no Centro-Sul, segundo a consultoria Pecege. O etanol anidro ainda oferecia margem positiva - já que seu último preço, de R$ 2,0221 o litro, superava o custo, de R$ 1,781 -, mas a cotação do aditivo pode continuar caindo.

Nos EUA, a Associação de Combustíveis Renováveis previa, no início da semana, que a capacidade em operação iria recuar de 2 bilhoes a 3 bilhões de galões esta semana, segundo entrevista de Geoff Cooper, presidente da associação, a uma rádio local. Até o momento, 47 usinas pararam nos EUA, segundo a Platts. No país, 40% da demanda por gasolina (à qual é misturado o etanol) está em cidades e Estados em que houve medidas de restrição à locomoção.

Ontem, a Valero Energy suspendeu as atividades em duas de suas 14 usinas de etanol no país - uma em Nebraska e outra em Iowa - dado o acúmulo do produto em seus estoques, que não encontra escoamento, conforme a agência Bloomberg.

Maior produtora de etanol dos EUA, a Pacific Ethanol informou, também ontem, que acertou o adiamento do pagamento de juros e do principal de sua dívida com garantia por dois meses e que contratou a consultoria Winston Mar para reestruturar suas finanças. A companhia está operando com margem negativa e capacidade ociosa. Dias antes, a POET informou que estava suspendendo temporariamente a compra de milho e reavaliando o uso de suas plantas, segundo a agência Reuters. A companhia conta com 27 usinas.

As medidas de isolamento adotadas para conter o avanço da pandemia da covid-19 estão derretendo a demanda por combustíveis em várias partes do mundo concomitantemente. Isso reverteu o cenário otimista que se desenhava para os produtores de biocombustíveis, que inclusive apostavam que países como China e Índia impulsionariam uma retomada das vendas de etanol com a aceleração de seus programas de mistura de renováveis, como lembra Bruno Lima, gerente da área de açúcar e etanol da INTL FCStone.

Para piorar, o cenário para os preços do petróleo no longo prazo também é incerto. Para um usineiro paulista, ainda que seja acertado um corte na produção global, Arábia Saudita e Rússia já mostraram que não estão dispostas a perder mercado ante uma queda de demanda.

No Brasil, as usinas de cana ainda têm a opção de maximizar a produção de açúcar para reduzir sua exposição ao débil mercado de etanol que se apresenta. Em relatório ontem, o Rabobank avaliou que, enquanto o petróleo ficar em U$ 30 o barril - ontem o Brent caiu a US$ 26,34 o barril -, o etanol deve oferecer uma remuneração equivalente ao açúcar a 11 centavos de dólar a libra-peso - ainda abaixo do fechamento do demerara ontem na bolsa de Nova York, de 11,33 centavos de dólar a libra-peso.

A crise deve sufocar muitas empresas que já não estavam em boas condições financeiras. No último levantamento do Itaú BBA, a dívida de cerca de 70% do setor sucroalcooleiro aumentara quase 9% na safra 2018/19, a R$ 50 bilhões, e a perspectiva não era melhor para a safra que terminará este mês.

Ainda que o segmento aguarde socorro do governo federal, como a postergação da cobrança de PIS e Cofins, além de medidas macroeconômicas mais favoráveis, o receio é que o número de grupos em recuperação judicial - ou mesmo que tenha que pedir falência - volte a se avolumar.

O temor de uma quebradeira geral também domina produtores europeus. Na semana passada, o Conselho Europeu de Biodiesel, a Associação Europeia de Etanol Renovável (ePURE) e outras entidades manifestaram preocupação de que alguns países da União Europeia suspendam os mandatos de mistura de combustíveis renováveis nos fósseis. Em carta a Frans Timmermans, coordenador do Green New Deal Europeu dentro da Comissão Europeia, as associações afirmaram que suas indústrias "não têm dificuldade em atender à atual demanda - em queda - por biocombustíveis".

Fonte: Agência UDOP de Notícias

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