Pesquisas

Epagri pretende quantificar a emissão de gases de efeito estufa na pecuária

Os processos fisiológicos do gado e pastagens mal manejadas contribuem com a emissão de gases do efeito estufa.


Publicado em: 17/02/2020 às 12:40hs

Epagri pretende quantificar a emissão de gases de efeito estufa na pecuária

Preocupados com os efeitos do aquecimento global, os pesquisadores da Epagri de Lages estão iniciando um projeto de pesquisa para quantificar a emissão de gases do efeito estufa na pecuária de Santa Catarina.

Embora o efeito estufa seja um fenômeno natural e essencial à manutenção da vida na Terra, a intensificação dele, causada pela poluição atmosférica, gera o aquecimento global, um problema ambiental que já apresenta consequências no mundo inteiro. A mudança climática é evidente no nosso dia-dia. A má distribuição de chuvas, eventos extremos como granizo e longos períodos de estiagem são consequências do aquecimento global.

As emissões de gases de efeito estufa ocorrem praticamente em todas as atividades humanas e setores da economia: no transporte; no desmatamento e degradação das florestas, nas indústrias, na agricultura e na pecuária.

No projeto que está sendo realizado na Estação Experimental da Epagri de Lages, os pesquisadores pretendem estudar qual é realmente o impacto que a produção de leite e carne do estado causa no planeta.

Cassiano Eduardo Pinto, pesquisador da Epagri, explica que a pecuária pode deixar de ser vista como vilã para o meio ambiente: “Alguns gases responsáveis por potencializar o efeito estufa, como o óxido nitroso, quanto o gás carbônico e o metano, são gases de processos naturais que ocorrem na produção agropecuária. Porém, existem inúmeros trabalhos que mostram que com boas práticas de produção, a pecuária se torna uma mitigadora de gases do efeito estufa”.

A Epagri, no Programa Pecuária, recomenda práticas de manejo que geram menos impacto ambiental. Não revolver o solo, utilizar pastagens perenes, plantio direto, atentar na altura ideal de entrada e saída dos animais do piquete, faz com que as plantas tenham um ótimo potencial de crescimento, os animais tenham uma dieta de qualidade e isso emite menos metano. A parte vegetal volta pro sistema sequestrando carbono, tanto na parte aérea quanto no solo.

O projeto de pesquisa

O também pesquisador da Epagri, Tiago Baldissera, fala sobre o projeto: “Este estudo vai nos ajudar a calcular o quanto precisamos implementar de práticas adequadas de manejo para que tenhamos, no mínimo, um balanço neutro, ou seja, a quantidade de gases que foi emitida também seja captada. Se a gente puder ter um balanço positivo, e deixar estocado esse carbono lá no solo, é melhor” – explica Tiago.

O ideal seria que 100% das propriedades do estado aplicassem as boas práticas de produção. Entretanto dados preliminares de cálculos da Epagri em parceria com a Udesc mostram que se as estratégias de manejo adequado forem introduzidas em 40% das propriedades de pecuária de corte de Santa Catarina, nós conseguiríamos mitigar todas as emissões do rebanho bovino de corte do estado.

No início do projeto, serão avaliados os gases do solo, que são principalmente o gás carbônico e o óxido nitroso. Em um segundo momento será avaliada a emissão de metano dos animais.

Na avaliação do solo-planta, câmaras fechadas coletam os gases que foram emitidos. O pesquisador faz uma amostra desses gases que é enviada para uma análise de cromatografia gasosa para que seja verificada a quantidade de cada gás.

Cabe destacar que esse trabalho está em fase inicial e será conduzido em parceria com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), com a Embrapa Pecuária Sul e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por meio deste trabalho, Santa Catarina será inserida no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização científico-política considerada a maior autoridade mundial a respeito do aquecimento global.

“A pecuária de corte é uma atividade importante no estado. A bacia leiteira é fundamental e está distribuída em 70% do território de Santa Catarina. Mostrar que ela tem potencial para conservar o ambiente e não degradar é o nosso desafio nesse experimento” – explica Cassiano.