Mercado Financeiro

BC se ajusta a nova realidade dos juros com mudança em atuação no câmbio

Tudo passa pela reviravolta na dinâmica dos fluxos no mercado de câmbio, sobretudo nas negociações do segmento spot —onde há demanda física por moeda


Publicado em: 15/08/2019 às 11:02hs

BC se ajusta a nova realidade dos juros com mudança em atuação no câmbio

A queda da Selic para mínimas recordes e a expectativa de que a taxa básica de juros atinja patamares ainda mais baixos até o fim do ano não são os únicos motivos para a mudança no “modus operandi” do Banco Central na forma de atuar no câmbio, mas certamente estão entre os mais básicos para essa alteração no modelo de intervenção, que passará a privilegiar o mercado à vista.

Tudo passa pela reviravolta na dinâmica dos fluxos no mercado de câmbio, sobretudo nas negociações do segmento spot —onde há demanda física por moeda.

A inédita perspectiva de que o juro mais baixo veio para ficar não apenas tem tornado menos interessante emissão de títulos em dólar por empresas brasileiras como também estimulado algumas delas a trocar passivos em moeda estrangeira por dívida com custo local.

Números do BC dão uma boa ideia desse novo “normal”. O saldo de títulos de dívida privada emitidos no país saltou cerca de 34% em 12 meses até junho. Já o estoque de papéis vendidos no exterior caiu na mesma proporção.

No mais recente exemplo da mudança de dinâmica, na véspera, a Petrobras (PETR4.SA) antecipou o pagamento integral de um contrato de financiamento com o China Development Bank (CDB) no valor de 3 bilhões de dólares, com vencimento previsto para 2024.

Esse quadro implica maior demanda por dólar físico por parte das empresas. Com isso, a liquidez no mercado spot cai, o que acaba gerando distorções que vão desde a taxa do casado (cupom cambial de curtíssimo prazo) até o caminho livre para a alta do dólar, que na véspera superou os 4 reais pela primeira vez desde maio.

Os números do fluxo cambial contratado expõem essa carência de liquidez. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o país teve déficit de 2,194 bilhões de dólares no fluxo cambial total (comercial mais financeiro), contra superávit de 29,184 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado.

Não à toa, o BC justificou a mudança na forma de atuar no câmbio citando maior busca por liquidez no mercado à vista —e não no segmento futuro, onde tradicionalmente a demanda por “hedge” é maior e atendida pelos swaps cambiais.[nL2N25A1QZ]

MERCADO À VISTA X SWAP

O Banco Central explicitou suas razões para a alteração no modo de intervir no câmbio, mas isso não significa que as atuações no mercado à vista se tornarão tão frequentes quanto as via swap têm sido nos últimos anos.

Alguns analistas argumentam que o fluxo persistentemente negativo ao Brasil nos últimos meses é reflexo de um período de transição no qual o mercado se ajusta à realidade do juro baixo.

Por essa lógica, as saídas de dólares em algum momento estancariam. E mais do que isso: uma parcela importante do mercado acredita num ingresso firme de moeda estrangeira nos próximos meses conforme ganharem tração leilões de concessões, privatizações e de áreas do pré-sal.

O governo discute os termos de uma oferta de proteção cambial a esses investimentos, mas o que já se sabe é que esse “hedge” seria feito via swap cambial. Ou seja, com a esperada volta dos fluxos ao mercado à vista, a atuação do BC via swap poderá voltar a ganhar protagonismo num futuro próximo.

Fonte: Reuters

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