Agricultura Familiar

Agroextrativistas de Manicoré conhecem sistema desenvolvido pela Embrapa para transporte de produtos florestais não madeireiros

A utilização de cabos aéreos pode ser uma alternativa para o transporte de produtos florestais não madeireiros em comunidades no interior da Amazônia


Publicado em: 07/11/2019 às 13:20hs

Agroextrativistas de Manicoré conhecem sistema desenvolvido pela Embrapa para transporte de produtos florestais não madeireiros

Essa tecnologia vem sendo desenvolvida/adaptada pela Embrapa Amazônia Ocidental, visando melhorar as condições de trabalho e também a renda para agroextrativistas da região, principalmente daqueles que coletam e comercializam a castanha-do-brasil ou castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa). O projeto, em desenvolvimento há cerca de três anos, foi apresentando para extrativistas de comunidades do interior do município de Manicoré (AM) em um curso promovido pela Embrapa, com apoio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) e Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), entre os dias 24 e 26 de outubro de 2019. 

As pesquisas sobre o uso de cabos de aço (estilo tirolesa) para o transporte de produtos que são coletados na mata faz parte do projeto “Manejo florestal e extrativismo: criando referências para o desenvolvimento territorial na Amazônia (MFE)”. O MFE faz parte do Projeto Integrado para a Produção e Manejo Sustentável do Bioma Amazônia (PIA), financiado pelo Fundo Amazônia e operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, Kátia Emídio da Silva, coordenadora da pesquisa sobre o uso de cabos aéreos, os recursos provenientes do Fundo Amazônia permitiram a continuidade desse estudo, bem como o início da validação dessa tecnologia junto aos agroextrativistas de castanha-do-brasil na Amazônia.

De acordo com Kátia Emídio, o trabalho de coleta e transporte da castanha-do-brasil dentro dos castanhais, pode ser muito penoso para o extrativista, que muitas vezes tem que percorrer longas extensões carregando cargas pesadas nas costas. Além disso, em algumas situações é necessário ultrapassar obstáculos naturais como declives acentuados e áreas alagadas, entre outros locais de difícil acesso, onde a tecnologia tem sua maior aplicação. “É um trabalho difícil, que muitas vezes afasta os mais jovens da atividade. Com o desenvolvimento de tecnologias que ajudem os agroextrativistas, entre outros, o objetivo também é envolver os mais jovens nesse processo produtivo”, ressaltou a pesquisadora.

O curso realizado em Manicoré teve como um dos instrutores o escalador profissional de árvores, Fabiano Rodrigues Moraes, que também foi um dos parceiros no desenvolvimento do sistema. Segundo ele, o emprego de cabos aéreos é similar aos de uma tirolesa, geralmente empregado na forma de lazer para transportar pessoas. Para esse projeto, foram feitas algumas adaptações para transportar cargas pesadas, por trechos que podem chegar até 200 metros. “Para a implantação do sistema é preciso fazer um cálculo para saber uma inclinação correta para que a carga chegue de forma segura e que facilite a colocação e a retirada das castanhas transportadas”.

Na capacitação foram apresentados os materiais e equipamentos necessários para a implantação do sistema. Também foram apresentadas noções gerais de escalada em árvores e montagem de plataformas na floresta para a fixação dos cabos. Em dois momentos foram montadas estruturas para testar o sistema, sempre com participação dos agroextrativistas presentes.

Para o agroextrativista Jaime Gama Bittencourt, o sistema apresentado na capacitação pode ser muito útil na sua atividade. “Na área que a gente faz a coleta tem locais em que esse sistema de transporte seria muito útil, facilitando o nosso trabalho, principalmente para passar um igarapé que fica dentro do castanhal”. Bittencourt relatou que, junto com mais três famílias, explora o castanhal chamado Paraíso que possui em torno de 400 castanheiras onde é feita a coleta anualmente. Além no auxílio com a coleta de castanhas, o produtor também vislumbrou a possibilidade da utilização desse sistema de cabos aéreos em outras atividades, como no transporte do açaí e mesmo de outros produtos cultivados, como banana ou processados, como a farinha de mandioca, até os locais onde são transportados. “Principalmente nos períodos de seca é preciso levar a produção por barrancos muito altos para chegar nas embarcações que vão transportar para os mercados consumidores. Com esse sistema, nosso trabalho fica mais fácil e também mais rápido”.

Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental

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