Preços Agropecuários

Produção de cacau no Brasil permanece estagnada no primeiro semestre de 2025, sem sinais de recuperação após forte queda em 2024

Queda contínua na produção de cacau


Publicado em: 09/07/2025 às 11:50hs

Produção de cacau no Brasil permanece estagnada no primeiro semestre de 2025, sem sinais de recuperação após forte queda em 2024

A produção brasileira de cacau segue sem recuperação no primeiro semestre de 2025, registrando um volume de amêndoas recebidas pelas indústrias 37,7% menor que em 2023 e praticamente estável em relação a 2024. Segundo levantamento do SindiDados – Campos Consultores, divulgado pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), foram recebidas 58.188 toneladas de amêndoas no período, uma queda de 0,3% frente a 2024 (58.363 toneladas), mas muito inferior às 93.314 toneladas registradas em 2023.

Impacto na moagem e desafios estruturais

A moagem acompanhou a retração da oferta, atingindo o menor volume para um primeiro semestre em nove anos: 97.904 toneladas em 2025, queda de 14,4% sobre 2024 e de 22,6% em relação a 2023. Além da escassez, o alto custo da matéria-prima e os preços elevados dos derivados também têm limitado a demanda da indústria, pressionando o setor.

A presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi, destaca que a produção nacional ainda está longe de uma recuperação consistente devido a fatores como extremos climáticos, doenças (Vassoura de Bruxa, Podridão Parda) e falta de mão de obra. Para reverter esse cenário, ela aponta a necessidade de investimento em inovação, tecnologia e clones resistentes.

Déficit estrutural entre produção e demanda

O déficit entre produção nacional e demanda industrial permanece alto, com um desequilíbrio de 39.716 toneladas em 2025, representando 40,6% da moagem no semestre. Embora menor que o pico de 48,9% em 2024, o número está bem acima dos 26,2% de 2023, refletindo a retração na moagem e na demanda.

Produção por estado
  • Bahia: maior produtor, com 63,4% do volume nacional (36.876 toneladas), mas com queda de 27,7% frente a 2024 devido a clima adverso e doenças.
  • Pará: responsável por 26,9% do total (15.658 toneladas), com queda de 59,9% motivada por chuvas fortes e baixa produtividade.
  • Espírito Santo: 8,1% do total (4.725 toneladas), recuo de 19,9% e variações sazonais típicas.
  • Rondônia: 1,6% do total (918 toneladas), redução de 30,2% em relação a 2024.
Importações e exportações em alta

Devido ao desabastecimento interno, as importações de amêndoas cresceram 87,1% no primeiro semestre de 2025, totalizando 42.143 toneladas, para atender especialmente o mercado sul-americano dependente dos derivados brasileiros. As importações de derivados também subiram 20,4%, alcançando 25.382 toneladas.

As exportações de derivados aumentaram 27%, com 28.764 toneladas embarcadas, enquanto a exportação de amêndoas caiu 19,6%. Em valores, as exportações de derivados somaram US$ 319 milhões, alta de 71% sobre 2024, impulsionadas pela demanda externa e pela valorização dos preços internacionais.

Os principais destinos foram:

  • Argentina (US$ 83 milhões)
  • Estados Unidos (US$ 35 milhões)
  • Chile (US$ 10,4 milhões)
  • Países Baixos (US$ 10,3 milhões)
Desafios e perspectivas para a cacauicultura nacional

Anna Paula Losi ressalta que o setor enfrenta um déficit estrutural que compromete a indústria e a imagem do Brasil no mercado internacional. A executiva reforça a necessidade de políticas que apoiem os produtores, promovam segurança jurídica e modernização das lavouras para recuperar a autossuficiência e fortalecer o país como player global.

Análise do mercado internacional

Os preços futuros do cacau mantêm-se em níveis historicamente altos desde o início de 2024, refletindo as preocupações com a oferta na temporada 2024/25. A frustração com a lenta colheita no Oeste Africano, responsável por cerca de 70% da oferta global, reforça temores de recuperação lenta.

Por outro lado, produtores menores como Equador e Indonésia apresentam crescimento consistente. A demanda global mostra sinais de desaceleração devido aos preços elevados, o que pode equilibrar oferta e demanda, com projeção de leve superávit para 2024/25, segundo a consultoria StoneX.

A temporada 2025/26, que começa a ser colhida em outubro, conta com chuvas próximas da normalidade, preços altos e maior margem para investimentos, o que pode favorecer um desempenho mais sólido.

Impacto das tarifas norte-americanas

A demanda global pelo cacau e seus derivados sofre pressão adicional com as tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, principal mercado consumidor. Esses encargos elevam o custo dos produtos importados, podendo afetar negativamente o processamento e o consumo mundial da commodity.

Apesar dos preços internacionais recordes, a produção brasileira de cacau permanece estagnada em 2025, com impactos estruturais e climáticos limitando a recuperação. O aumento das importações e a demanda externa aquecida sustentam o setor, mas a sustentabilidade da cadeia depende de investimentos e políticas efetivas para modernizar a produção nacional e garantir competitividade global.

Fonte: Portal do Agronegócio

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