Publicado em: 30/03/2022 às 18:40hs
Os CBios, os quais as distribuidoras de combustíveis precisam comprar para compensar a venda de derivados de petróleo, atingiram uma máxima histórica de mais de 100 reais no início de março. Isso ocorreu com uma maior procura dos compradores e menor oferta de CBios pelos produtores de bicombustíveis, que são os emissores dos créditos.
O custo adicional deve ser repassado em algum momento aos preços nos postos, aparecendo como mais um vetor de alta dos valores do diesel e gasolina, após a Petrobras ter elevado este mês esses combustíveis em cerca de 25% e quase 19%, respectivamente, para reduzir a defasagem ante o mercado de petróleo.
"Os CBios têm impacto no preço, sem dúvida, as companhias trabalhavam antes com valor perto de 40 reais, e hoje está 100 reais", disse à Reuters o representante de uma importante distribuidora, na condição de anonimato para falar sobre o tema.
"Isso é custo da sociedade, no final da linha, quem paga é o consumidor, mais um item encarecendo os combustíveis", afirmou.
A alta nos preços dos CBios, que mantinham-se um pouco abaixo das máximas históricas, a cerca de 96 reais, reforça ainda a ideia de que o mercado desses créditos deve movimentar valores muito maiores do que os 2 bilhões de reais de 2021, já que as metas para 2022 também são superiores, demandando maior capital das distribuidoras.
A associação de distribuidoras Brasilcom afirmou que o "crescente custo" de aquisição dos CBios "vem sendo um entrave significativo à sobrevivência das pequenas e médias empresas do setor, dando oportunidade à concorrência predatória".
A entidade disse ainda, em nota recente, que os valores dos CBios "impactam ainda mais os já tão elevados preços dos combustíveis para os consumidores".
Questionada pela Reuters, a Brasilcom comentou que há indicações de que o custo adicional dos créditos para os consumidores seria de até 0,10 real por litro.
A associação, que afirma ser apoiadora da política governamental de descarbonização, disse também que a decisão de repassar os custos dos CBios é de cada empresa e preferiu não se alongar. O IBP, instituto que representa petroleiras e as grandes do setor de distribuição, preferiu não comentar.
A disparada dos valores reacendeu uma queixa dos compradores, de que os emissores (produtores de biocombustíveis) não têm prazo máximo para ofertar os títulos, o que seria um estímulo à especulação. A Brasilcom já sugeriu mudanças na sistemática de negociação.
Para a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), representante dos principais emissores de CBios, "está tudo dentro da normalidade", e a grande oscilação do preço foi resultante da oferta e demanda pelo título neste início de ano.
Com uma queda acentuada do consumo de combustíveis no Brasil nos primeiros meses do ano, disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, acabou ocorrendo uma redução de 23% nas emissões de CBios no acumulado do ano até o dia 25 de março.
De outro lado, disse ele, distribuidoras compraram 75% mais no mesmo período.
"Tudo isso mexe com o mercado, e fez com que tivesse esse impacto na precificação... agora, vai sobrar CBios este ano", notou Padua, estimando que entre o total emitido e as obrigações das distribuidoras, a sobra pode atingir até 6 milhões de créditos em 2022.
As usinas do centro-sul do Brasil iniciam oficialmente a safra em abril, quando as negociações de etanol tendem a ganhar força, assim como a produção, garantindo a oferta de CBios.
Já as distribuidoras têm até o final de cada ano para fechar as compras dos CBios dentro das metas.
"Surpreendeu bastante... começar o ano com 100 reais foi muito surpreendente, e realmente foram as distribuidoras que estão se planejando mais...", disse a analista do Itaú BBA Annelise Sakamoto Izumi.
No acumulado do mês até o dia 24, segundo dados do banco, houve uma alta de 220% no preço médio do CBio para 99,08 reais ante o mesmo período de 2021, quando os créditos foram cotados na B3 a 30,92 reais.
A analista também citou produtores colocando menos CBios no mercado, já que as negociações de etanol foram mais fracas.
O setor de distribuição precisa comprar um total de 36,7 milhões de créditos em 2022, com as maiores companhias, como Vibra Energia, Raízen e Ipiranga respondendo pela maior parte das obrigações, respectivamente, 9,7 milhões, 6,9 milhões e 6,74 milhões de CBios. No ano passado, a meta total de CBios foi de quase 25 milhões de créditos.
Este é o terceiro ano de negociações de CBios, que integra o RenovaBio, política do país que tem objetivo de retirar centenas de milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera na próxima década, contribuindo para o cumprimento das metas do Acordo de Paris, além de impulsionar a indústria de biocombustíveis.
Fonte: Reuters
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