Publicado em: 23/06/2014 às 11:30hs
Entre janeiro e maio, na comparação com igual período de 2013, o índice de preço das exportações brasileiras recuou 5,1%, queda mais intensa do que a retração de 2,3% nos preços médios de importação. Assim, os termos de troca do comércio exterior brasileiro, que já vinham em tendência de deterioração, chegaram ao menor nível desde 2010 e explicam, em parte, a piora do saldo comercial do país nos últimos anos.
Após acumular queda de 7,8% entre 2011 e 2013, a relação entre preços de exportação e de importação continuou a cair neste ano, quando os termos de troca ficaram 2,9% menores no acumulado até maio, na comparação com iguais meses de 2013. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Daiane Santos, economista da Funcex, afirma que a retração dos preços de exportação, que em maio estavam 14,1% menores do que no pico, em agosto de 2011, está ligada principalmente à queda de cotações internacionais de produtos básicos relevantes para a pauta de comércio exterior do Brasil. Entre as principais quedas, afirma, estiveram óleo bruto de petróleo, soja, minério de ferro, açúcar de cana e carne de frango.
"Diante da conjuntura mundial, essa queda não chega a surpreender muito", diz Daiane, já que a recuperação da demanda global está demorando mais do que se projetava e a economia chinesa dá sinais de desaceleração. Por isso, avalia, é difícil projetar reversão desse cenário, mesmo com o aumento de 1,1% dos preços de exportação entre abril e maio. "Não é uma tendência, os preços de commodities devem seguir em declínio", afirma.
Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da Uerj (Cedes /Uerj), também avalia que o cenário externo ainda complicado torna a recuperação dos preços de commodities difícil. "O cenário de retomada da economia global não se concretizou na velocidade esperada e a China dá sinais mistos". O economista lembra, por exemplo, que há excesso de capacidade de produção de aço no país, responsável por cerca de 60% da demanda mundial por minério de ferro, o que explica a recente retração dos preços. No início desta semana, a commodity chegou a ser cotado abaixo de US$ 90 no mercado à vista chinês.
Em relatório, o departamento de macroeconomia do Bradesco também avalia que a tendência é de queda para os preços de outro produto relevante para a pauta exportadora do Brasil, a soja, devido à expectativa de safras recordes em produtores importantes.
Embora os termos de troca tenham piorado nos cinco primeiros meses deste ano, o país registrou, neste período, déficit de US$ 4,9 bilhões, resultado um pouco melhor do que em iguais meses do ano passado, quando o saldo era negativo em US$ 5,4 bilhões. Apesar da queda de preços, os volumes desembarcados de algumas commodities, como minério de ferro, soja e petróleo, aumentaram em 2014. Assim, a razão de quantum (relação entre o volume de bens exportados e de produtos importados) subiu 3,9% neste período.
Para Fernando Ribeiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dificilmente o quadro de piora dos termos de troca vai se reverter neste ano e o saldo comercial deve ser menor do que em 2013, quando o superávit foi de apenas US$ 2,6 bilhões. Em sua avaliação, porém, há sinais de estabilização dos preços de exportação, com o aumento recente da cotação do petróleo, o que já seria uma boa notícia, ainda que insuficiente para reverter a piora de termos de troca observada nos primeiros meses deste ano. "Ainda é cedo para afirmar que o pior momento de preços de exportação ficou para trás."
Já Daiane, da Funcex projeta déficit em torno de US$ 3 bilhões para a balança comercial e avalia que se esse resultado for melhor, será influenciado por redução das importações, em função da fraqueza da atividade doméstica.
Ribeiro comenta que, embora seja difícil avaliar precisamente o impacto sobre a atividade econômica, a deterioração dos termos de troca ajuda a explicar o fraco desempenho da atividade nos últimos anos. Quando os preços de bens exportados superam o de importados, há um efeito "riqueza" para o exportador que acaba impulsionando a economia. Sem essa "ajuda", fica mais difícil crescer.
Fonte: Avisite
◄ Leia outras notícias