Publicado em: 03/03/2015 às 14:50hs
Com apenas 15 a 20% de teor de argila, os solos da região de Iporã, a 50km de Umuarama em direção a Guaíra, no arenito caiuá, noroeste paranaense, constituem um desafio à produção agrícola. Explorar solos assim exige que produtores e técnicos trabalhem juntos no sentido de aplicar o conhecimento acumulado ao longo dos anos, bem como as tecnologias disponíveis. Mas o desafio vem sendo vencido: na região atendida pela Cocamar, que compreende parte do noroeste, já existem cerca de 60 mil hectares cultivados em sistemas de integração lavoura x pecuária, dos quais, em 13 mil, se investe na produção de soja. As perspectivas são animadoras.
Potencial - A cooperativa e seus parceiros – entre eles o Instituto Emater, Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universidade Estadual de Maringá (UEM) - veem nesses solos pobres e pastos degradados um enorme potencial a desenvolver, e não é para menos. Se devidamente explorado, poderá fazer surgir uma nova fronteira agrícola no Estado.
Referência - No Bairro Catarinense, distrito de Francisco Alves, a 20km de Iporã, o produtor Antonio Lazzari é um dos exemplos que justificam a aposta nesse futuro promissor. Quando, em 2005, ele comprou as terras da atual Fazenda Água Doce, onde vive com a esposa Terezinha, a situação dos pastos era a pior possível: “havia muita erosão e solo desprotegido”, explica. Hoje, pelo seu dinamismo, a propriedade é considerada uma referência.
Produtividade - Lazzari adotou a integração lavoura x pecuária há cinco anos e, em 100 de seus 120 alqueires, plantou soja que na safra do ciclo 2014/15, recém-colhida, resultou em 135 sacas por alqueire, na média. Essa quantidade pode não brilhar muito aos olhos de agricultores de regiões de solos argilosos, mas ficou bem acima da média obtida nas imediações de Iporã, que foi de 91 sacas/alqueire – o equivalente a 2.250 quilos por hectare.
Estiagem - O problema é que as lavouras enfrentaram, nesta safra, um longo período sem chuvas, que acabou derrubando a produtividade. “Se o tempo tivesse ajudado, certamente iria colher de 170 a 180 sacas por alqueire”, comenta o produtor. Em um de seus talhões, foram obtidos o correspondente a 190 sacas por alqueire. Lazzari conta que começou a semear soja no dia 16 de setembro, logo após o fim do vazio sanitário. Antes disso, no começo daquele mês, efetuou a dessecação dos pastos. “A variedade que melhor se sobressaiu foi a Monsoy 6210, de ciclo de 120 dias”, informa.
Pastagem - A soja foi embora e, no lugar, ficou uma pastagem natural de braquiária, que viceja com vigor. Lazzari nem precisa semear o capim, ele vai brotando e, em pouco tempo, tudo será um pasto de qualidade. No ano passado, em 90 alqueires onde havia colhido soja, o produtor soltou 400 cabeças que ali permaneceram engordando por um período de 100 a 120 dias, em pleno inverno. Havia tanta massa verde que o rebanho entrou com peso médio de 14 arrobas e saiu pesando 19 arrobas. “Forneço apenas um proteinado no cocho, nada mais”, diz o produtor, que possui outra propriedade na vizinhança, de onde traz os animais para a terminação. “Antes de partir para a integração, faltava pasto, mas agora o que me falta é boi”, brinca Lazzari. Ele orienta os outros produtores a estudarem a possibilidade de fazer integração: a seu ver, na pior das hipóteses, o sistema lavoura x pecuária vai corrigir o solo e melhorar a produtividade da pecuária.
Viabilidade - Há quase duas décadas a Cocamar e seus parceiros vêm trabalhando no desenvolvimento de projetos integrados voltados a solos arenosos. De acordo com o coordenador de ILPF na cooperativa, engenheiro agrônomo Renato Watanabe, objetivo é demonstrar a viabilidade desse modelo e, com ele, promover uma revolução econômica regional. “O que se pretende é incorporar a um processo mais produtivo as grandes extensões de pastagens que estão, em sua maior parte degradadas”, acrescenta. O arenito caiuá compreende cerca de 1,8 milhão de hectares de pastos e, segundo números oficiais, ao menos 80% deles se encontram em algum estágio de degradação.
Pecuária - Pastos “no osso” levam a um previsível ciclo de pobreza e significam que o arenito tem assistido a uma decadência da pecuária de corte. Se de um lado há euforia com o bom momento do setor, beneficiado atualmente pelas altas cotações da arroba de carne, de outro a atividade continua sendo conduzida de forma tímida e tradicional em grande parte das fazendas. Refratários a mudanças, pecuaristas ainda admitem situações como o ganho de peso dos animais durante o verão e, por falta de comida, o inevitável emagrecimento no inverno – o chamado “efeito sanfona”. Sem contar que a média de unidades animais (UA) por hectare é muito baixa (apenas 0,7), e também que os bois chegam aos frigoríficos, em média, com o dobro de idade em comparação aos novilhos precoces, de carne mais saudável e saborosa.
Fonte: Assessoria de Imprensa Cocamar
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