Publicado em: 27/07/2021 às 09:40hs
Não à toa, o setor é um dos mais aquecidos da economia do país e, cada vez mais, demanda de infraestrutura moderna para lidar com os seguidos aumentos de produtividade no campo. Mas em um ambiente onde o agricultor está acostumado a ter a própria máquina, o serviço ainda encontra desafios para expansão, que vem ocorrendo em culturas mais integradas à industriais, como a da cana-de-açúcar.
Para a Ouro Verde, ligada ao grupo Brookfield, a meta é fazer o produtor rural alugar o serviço completo, das máquinas aos operadores. “No Brasil, isso é pouco amadurecido, a terceirização é inferior a 1%. Em países como os EUA, o nível é superior a 10% e, na União Europeia, acima de 15%”, diz ao Valor Cláudio Zattar, CEO da empresa.
Porém, o executivo acredita que, aos poucos, vai conquistar a confiança do agricultor para optar pela terceirização. “O agronegócio adora ativo e existe um receio de que terceirizar tire algo do agricultor. Nós entendemos esse sentimento, a safra não pode parar e ele precisar ter o maquinário disponível. Mas quando a gente começa a mostrar que nada muda, que a operação não para, gradualmente esse interesse vai aumentar”.
A Ouro Verde possui R$ 2,2 bilhões de ativos sob gestão, dos quais 47% estão alocados no agronegócio em 222 contratos. Deste total, 208 contratos estão relacionados ao segmento de etanol. Os dados são do primeiro trimestre deste ano. Além do setor de cana-de-açúcar, a empresa mira os segmentos de grãos e florestal. No período, o agronegócio representou 38% do mix da receita da companhia, de R$ 181,9 milhões no período.
Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos - subsidiária da holding Simpar - explica que, dos cerca de R$ 1 bilhão investidos no primeiro trimestre de 2021 pela empresa, mais de 30% foi destinado para contemplar contratos com o agronegócio. A companhia tem mais de 240 contratos no setor, que são responsáveis por mais de um terço do faturamento da empresa no período, que foi de R$ 520,4 milhões. “Uma base importante do nosso negócio está no agro, especialmente o sucroenergético”, afirma.
Consolidado no setor da cana no Sudeste, o grupo quer agora conquistar o Centro-Oeste, mais especificamente o produtor de grãos. “Tem crescido bastante, mas ainda estamos desenvolvendo o modelo. Enquanto a locação é bastante conhecida no sucroalcooleiro, nos grãos é mais difícil. Nós queremos conquistar o produtor pelo caminhão. Do lado de toda colheitadeira tem um caminhão, e o produtor não tem apego por ele”, acrescenta Couto.
Entre os argumentos para convencer o agricultor a abrir mão do maquinário próprio, as empresas usam a desalavancagem como benefício. “É um modelo mais barato. Além disso, libera capital para investir no ativo principal: lavoura. Quem paga imposto e faz conta sabe que é um bom negócio”, defende.
O produtor rural Edson Pizzo Filho fez as contas e apostou no aluguel de máquinas. Proprietário da Campo Rico Agropecuária, produtora de cana em Araçatuba e Teodoro Sampaio, cidades do interior de São Paulo. “A primeira vantagem, ao meu ver, é que não descapitaliza. A agricultura é uma atividade que demanda muito capital de giro e, quanto menos desse capital estiver mobilizado, mais rentável se torna a atividade. A segunda é que, ao comprar o maquinário, eu faria um financiamento que iria impactar na minha análise de crédito. Neste modelo, eu não faço nenhum financiamento para obter esses maquinários”.
O agricultor diz que chegou a fazer simulações para renovar a frota da propriedade, mas que percebeu que o serviço valia mais à pena, até porque essas empresas conseguem bons descontos com as indústrias devido à quantidade movimentada. Pizzo Filho afirma que agora a meta é vender as máquinas antigas para ficar com quase 100% dos equipamentos alugados. “Eu entendo essa modalidade como uma maneira diferente de ter a máquina. Além disso, a despesa com locação ajuda no abate no pagamento de impostos. Eu estou bem satisfeito”, prossegue o empresário.
Embora o agronegócio esteja no radar, o serviço de locação ou terceirização de frota não é para todos os tamanhos de produtor rural. Os locadores exigem que seja um agricultor empresarial, com CNPJ e que tenha capital para assumir um compromisso de pelo menos dois anos com as empresas, sendo o prazo de cinco anos o mais comum - período considerado ideal para que as companhias recuperem o investimento feito nos equipamentos, que são comprados novos e conforme a vontade e a necessidade do cliente.
Fonte: Grupo Idea
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