Logística e Transporte

Tarifas dos EUA travam exportações no Porto de Vitória e afetam rochas, café e pimenta

Medidas impostas pelo governo norte-americano impactam embarques de rochas ornamentais, café e pimenta-do-reino, deixando 1.500 contêineres retidos no terminal capixaba


Publicado em: 25/07/2025 às 11:25hs

Tarifas dos EUA travam exportações no Porto de Vitória e afetam rochas, café e pimenta
Primeiros reflexos das novas tarifas

Desde o anúncio da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o Porto de Vitória já enfrenta sérios impactos. Na última quarta-feira (23), o primeiro navio com destino aos EUA cancelou sua parada no porto capixaba, deixando 1.500 contêineres retidos. Desse total, 1.200 contêm rochas ornamentais, enquanto o restante inclui café, pimenta-do-reino, gengibre, cosméticos, carne bovina e instrumentos musicais.

Prejuízo estimado chega a R$ 360 milhões

A empresa que administra o Porto de Vitória, Vports, informou que está monitorando os efeitos da nova tarifa e afirmou que o cancelamento do navio foi consequência da redução na demanda por embarques. Mesmo assim, a programação dos próximos navios segue, por ora, mantida. O volume não embarcado já representa um prejuízo estimado em US$ 60 milhões, cerca de R$ 360 milhões.

Setor de rochas ornamentais é o mais afetado

A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) já exportou, no primeiro semestre de 2024, o equivalente a US$ 426 milhões (R$ 2,3 bilhões) em rochas ornamentais do Espírito Santo para os EUA. Com a nova tarifa, muitos compradores norte-americanos solicitaram a suspensão imediata das remessas.

O presidente do Centrorochas, Tales Machado, alertou que há grande apreensão no setor. “Tudo que embarcarmos agora só chega após o dia 1º do mês seguinte, quando a tarifa pode já estar em vigor. Isso torna inviável para os importadores norte-americanos”, afirmou. Entre os contêineres parados, há um lote avaliado em US$ 40 milhões (R$ 221 milhões).

O setor busca alternativas: uma associação nos EUA já entrou com pedido junto ao governo americano para adiar a vigência da tarifa especificamente para as rochas ornamentais. O governo do Espírito Santo também estuda oferecer linhas de crédito para ajudar empresas locais afetadas.

Empresas enfrentam riscos de paralisação

De acordo com Bruno Marques, despachante aduaneiro e diretor comercial da Speed Soluções em Comex, as consequências vão além das perdas imediatas. Algumas empresas exportadoras já cogitam adotar férias coletivas e, em casos extremos, encerrar operações voltadas ao mercado externo. O Porto de Vitória normalmente envia cerca de 4 mil contêineres por mês, número que tende a crescer durante a alta da exportação de café.

“Os setores de rochas, agroindústria com café e celulose, e também o aço, serão duramente afetados”, destacou Marques.

Cafeicultura também sofre impactos severos

O café é outro produto fortemente atingido. O Brasil é o principal fornecedor do grão para os Estados Unidos e, só em 2024, exportou cerca de 8 milhões de sacas, das quais mais de 1,6 milhão saíram do Espírito Santo.

Segundo o Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), somente nos últimos sete dias o estado deixou de embarcar 42 mil sacas — aproximadamente 2,5 mil toneladas de café cru e solúvel. Em nível nacional, mais de 210 mil sacas deixaram de ser negociadas com os EUA, o que corresponde a 12,6 mil toneladas sem destino.

O vice-presidente do CCCV, Jorge Nicchio, afirmou que a situação afeta empresas de todos os tamanhos e que o mercado norte-americano depende do café brasileiro. “Os EUA não produzem café, mas são os maiores consumidores do mundo. Nenhum outro país consegue suprir as mais de 8 milhões de sacas que embarcamos anualmente para lá”, explicou.

Apesar das possíveis reduções nos negócios com os EUA, Nicchio avalia que ainda será necessário importar parte do café brasileiro, mesmo com a taxação em vigor.

Com exportações paralisadas e um cenário de incertezas, o Espírito Santo já sente os impactos econômicos da nova política tarifária norte-americana. Enquanto associações e governos tentam negociar alternativas, empresas enfrentam riscos operacionais e prejuízos significativos.

Fonte: Portal do Agronegócio

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