Logística e Transporte

Logística deficiente tira lucro do setor

"O que ganhamos no campo devolvemos nos portos e terminais", resumiu o presidente do Conselho da Cosan, Rubens Ometto, em sua palestra sobre logística no País, no Summit Agronegócio Brasil 2015


Publicado em: 03/12/2015 às 20:10hs

Logística deficiente tira lucro do setor

Tanto Ometto quanto os participantes do painel "Desafios da Logística" disseram que as deficiências neste segmento são o principal entrave para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. "Temos um malha ferroviária muito aquém do potencial. A prioridade inicial precisa ser terminar os investimentos que já tiveram início para que funcionem com eficiência e, num segundo tempo, começar a fazer os greenfields", disse.

Para Ometto, um dos caminhos para impulsionar o setor é reduzir a intervenção governamental. "Não podemos ter um governo muito partícipe neste negócio. Eu acredito na livre iniciativa. Quando há isso você resolve boa parte dos problemas, não há corrupção, cada empresário é responsável pelas coisas que faz."

Soluções imediatas

O diretor presidente da JSL Logística, Fernando Antônio Simões, também ressaltou o papel da iniciativa privada para explorar soluções que melhorem o escoamento da produção. "O governo tem responsabilidade, mas não esperemos a sua contribuição (para agir). Vamos melhorar o que já existe para obter soluções imediatas, e não de longo prazo", afirmou.

Simões citou empresas que agiram para resolver gargalos de logística, como a Fibria, do setor de papel e celulose, que construiu terminais marítimos no sul da Bahia para transportar produtos ao Espírito Santo, e a Veracel, que atua no mesmo segmento e montou um porto a 60 quilômetros de sua nova fábrica em Porto Seguro (BA), retirando 75 caminhões/dia da rodovia BR-101. "Não há gargalo logístico que segure o desenvolvimento do País e a inovação da iniciativa privada."

Simões citou, ainda, dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os números indicam que, dos 30 mil quilômetros de malha ferroviária, 6 mil quilômetros operam com densidade inferior a um trem por dia. A média de velocidade dos veículos no Brasil é de 25 quilômetros por hora, ante 80 quilômetros por hora nos EUA. "Antes de projetos que exigem aportes bilionários e prazos extensos, a prioridade é melhorar a malha já existente", destacou.

Assim como outros palestrantes, o presidente da Cosan, Marcos Lutz, argumentou que a iniciativa privada precisa agir para melhorar o escoamento da produção. Nessa linha, ele cita que a Rumo ALL, empresa do grupo, pretende investir R$ 7,4 bilhões até 2019. O montante se refere à renovação da frota de 5 mil vagões e 200 locomotivas, além da reforma de mais de 3 mil quilômetros de vias permanentes e construção de novos pátios.

Modais

Lutz reforçou, além disso, a necessidade de diversificar os modais brasileiros para melhorar a logística do agronegócio nacional, com ênfase no aumento da participação das ferrovias. E ressaltou: "Claramente o agronegócio será uma das principais forças para a economia brasileira nos próximos anos e um dos importantes pilares para sairmos da crise". O presidente da Cosan estimou que o desperdício pelos gargalos logísticos no Brasil equivale a 5% do PIB nacional. Segundo ele, o custo médio do transporte de grãos no País é quatro vezes maior do que o de concorrentes, como Argentina e EUA. Como exemplo, afirmou que o transporte de 1 tonelada de grãos de Lucas do Rio Verde (MT) a Santos (SP) por rodovia custa R$ 310. "Basicamente. gastos em pneus, diesel e caminhões (depreciação) não pagam a conta das estradas de Mato Grosso, que ficam destruídas." Em contraste, se o produto fosse transportado por caminhões até Rondonópolis (MT) e depois enviado via ferrovia ao porto, o custo seria de R$ 270 por tonelada.

Mato Grosso

O setor governamental deve ampliar parcerias com a iniciativa privada, sustentou o vice-governador de Mato Grosso, Carlos Fávaro (PSD-MT) em sua palestra. Segundo ele, atualmente, em seu Estado, há cinco concessões vigentes com empresários locais para melhoria de estradas que escoam a produção agrícola e pecuária - Mato Grosso é o principal produtor de soja do País. Uma alternativa, apontou Fávaro, que já foi presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja-MT), é contar com o apoio dos próprios produtores para melhorar a logística das regiões em que atuam. "Não podemos esperar dinheiro de Brasília ou da China para melhorar Mato Grosso", disse ele, acrescentando que, se o nível de pavimentação de estradas no País é de 25%, em MT esse índice cai para apenas 10%. "Temos um desafio gigante para melhorar as rodovias em Mato Grosso."

Fonte: O Estado de S. Paulo

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