Logística e Transporte

Conflito no Oriente Médio eleva custos e ameaça logística do agronegócio brasileiro

Aumento no preço dos fertilizantes e do petróleo pressiona produção agrícola; governo adota postura cautelosa enquanto EUA intensificam tensão com o Irã


Publicado em: 23/06/2025 às 18:20hs

Conflito no Oriente Médio eleva custos e ameaça logística do agronegócio brasileiro
Conflito entre Irã e Israel gera impactos imediatos no agronegócio brasileiro

Com o agravamento da guerra entre Irã e Israel e a entrada direta dos Estados Unidos no conflito, o agronegócio brasileiro já sente os primeiros reflexos. A elevação nos custos de insumos, principalmente fertilizantes e petróleo, associada ao risco logístico, acende o alerta no setor.

Alta nos fertilizantes pressiona custos de produção

O Irã é um dos principais exportadores mundiais de ureia — insumo essencial para a agricultura — e tem sido alvo de ataques consecutivos. Na primeira semana de confrontos, o preço internacional da ureia subiu cerca de 4%, refletindo a instabilidade.

O Brasil, que depende de importações para cerca de 85% de seus fertilizantes, teve 17% a 19% desse volume originado do Irã em 2024. Com as cotações variando entre US$ 399 e US$ 435 por tonelada, o custo de produção, especialmente para culturas como soja e milho, tende a aumentar, reduzindo a competitividade do produtor nacional.

Petróleo mais caro eleva custos logísticos

Outro impacto direto do conflito está no preço do petróleo, que já subiu mais de 7% nos primeiros dias de tensão. A elevação encarece o transporte marítimo e os fretes de insumos e produtos, aumentando ainda mais o custo operacional da cadeia agrícola brasileira.

Riscos logísticos afetam exportações e importações

Parte significativa das rotas marítimas utilizadas pelo Brasil para importação de insumos e exportação de commodities como carne, soja e milho passa por áreas estratégicas como o Estreito de Ormuz. Um eventual bloqueio, já ventilado como possível retaliação do Irã, traria sérias consequências à logística do agronegócio nacional.

Além disso, há preocupação com o consumo de produtos halal — como frango, carne suína e bovina — nos países muçulmanos, que também são impactados pela instabilidade regional.

Governo brasileiro reage com cautela e busca alternativas

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou, em entrevista à imprensa via Farsul, que o momento exige prudência e revisão urgente de projeções econômicas para o setor. A preocupação maior, segundo ele, está na alta dos fertilizantes e no risco de interrupção de rotas logísticas.

O Itamaraty, por sua vez, informou que tem mantido diálogo com parceiros estratégicos — como China, Estados Unidos e União Europeia — para assegurar o abastecimento de fertilizantes por vias alternativas. O Brasil, porém, optou por manter postura diplomática neutra, evitando se envolver diretamente nas tensões políticas da região.

Trump adota tom agressivo e aumenta a tensão

Em contraste com a postura brasileira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem adotado uma retórica dura contra o Irã. Em recentes declarações, elogiou os ataques israelenses e pediu a "rendição incondicional" do regime iraniano, afirmando que "não é um cessar-fogo, é um fim real".

Trump chegou a afirmar que os EUA sabem a localização do aiatolá Khamenei, mas optaram por não atacá-lo "por enquanto". Em tom de ameaça, declarou que o Irã deve "fazer um acordo antes que não reste nada".

Cenário é de incerteza para o agronegócio brasileiro

Diante de um cenário internacional volátil, o Brasil enfrenta uma combinação preocupante: aumento dos custos de insumos, pressões logísticas e incertezas nos mercados externos. Enquanto o governo adota uma postura técnica e busca garantir a continuidade das exportações e o abastecimento interno, a escalada do conflito e a retórica beligerante dos EUA elevam o risco de novos aumentos nos preços globais.

O futuro próximo exigirá monitoramento constante por parte do governo e do setor produtivo, especialmente quanto a eventuais sanções dos EUA e à capacidade do Brasil de diversificar seus fornecedores de fertilizantes e petróleo.

Fonte: Portal do Agronegócio

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