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Mensuração das ineficiências logísticas do agronegócio paranaense

A logística paranaense custa 17% do preço da soja entregue no Porto de Paranaguá


Publicado em: 13/08/2014 às 18:30hs

Mensuração das ineficiências logísticas do agronegócio paranaense

Para escoar a sua produção, o agronegócio brasileiro tem encontrado alguns entraves logísticos. Os custos com armazenagem, transporte e portuários, recaem sobre os embarcadores (produtores e traders, por exemplo), com impacto direto na sua receita. Mas quanto exatamente representa o custo de cada uma dessas etapas na receita final dos produtores do Paraná? Foi essa pergunta que uma pesquisa feita pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), buscou responder.

Para a realização da pesquisa, intitulada Projeto Benin, ao longo do ano de 2013 pesquisadores do ESALQ-LOG levantaram informações pertinentes aos principais elos da cadeia de exportação de soja paranaense – a armazenagem, o transporte e o Porto de Paranaguá. Durante a realização do estudo, foi realizada uma série de visitas ao Estado do Paraná, nas quais foram entrevistados diversos agentes do setor, direta e indiretamente ligados ao processo de exportação de soja.

Como resultados, foram elaborados três relatórios principais. O primeiro abordou especificamente a armazenagem, o segundo envolveu as questões do transporte rodoviário no Estado, e o terceiro tratou das questões pertinentes ao Porto de Paranaguá. Em cada um desses relatórios encontram-se as caracterizações de cada um dos setores, bem como o detalhamento dos custos pertinentes a cada um.

Finalmente, um quarto relatório quantificou numericamente as perdas logísticas existentes no processo de exportação paranaense. Essa mensuração se deu por meio da elaboração de um simulador onde é possível trabalhar com todas as variáveis intervenientes na receita líquida do produtor, com avaliações de cenários pertinentes para tomada de decisão do produtor.

Simulação – Tomando como exemplo a semana do dia 12 de setembro de 2013, os resultados mostraram que os produtores paranaenses, dependendo da região, perdem entre 14% e 17% de sua receita bruta em decorrência dos custos logísticos. O detalhamento maior mostra que os custos de transporte são os mais representativos, tendo um impacto médio de 8,76% no Estado, dependendo da distância entre a origem e o porto. Além deste, a armazenagem apresentou um custo médio de 6,38% da receita bruta, e os custos portuários 2,58%.

Além dos custos logísticos, é importante ressaltar que outras variáveis como o preço do produto no mercado internacional, a cotação do dólar e o prêmio do porto também tem grande influência na receita do produtor.

“O dinamismo do preço da soja no mercado internacional e da cotação do dólar, por exemplo, são algumas das variáveis que influenciam bastante na receita dos produtores, porém são dependentes da oferta e demanda do produto no mercado internacional e de políticas nacionais macroeconômicas, respectivamente. As variáveis logísticas por sua vez, tem sim um grande peso para redução da receita dos produtores, e cabe aos agentes do setor buscar cada vez mais a redução dos impactos delas, mesmo em épocas que o preço do produto e a cotação do dólar não estejam tão favoráveis aos exportadores brasileiros”, comenta Fernando Vinícius da Rocha, mestrando em Administração (FEA-USP) e pesquisador do ESALQ-LOG.

Gargalos – A pesquisa também evidenciou gargalos de cada um dos elos estudados. “O conhecimento dos principais gargalos ao longo da cadeia de exportação, bem como o quanto eles representam em termos monetários, é o primeiro passo para busca por melhores condições de infraestrutura logística”, complementa Rocha. A pesquisa orientou-se justamente nesse sentido, o de evidenciar os gargalos de toda a cadeia de exportação, visando a busca de melhores condições, de modo a diminuir o impacto da logística aos produtores do Paraná.

Armazenagem – Em síntese, no que diz respeito à armazenagem, um ponto de relevância apontado pelo estudo é a existência da comercialização via escambo – troca da prestação do serviço de armazenagem por uma porcentagem do produto. A cobrança do serviço pela forma não-monetária, mas sim pela retenção de parte do produto entregue no armazém em função da taxa de umidade do produto, dificulta a fiscalização e transparência da operação comercial. Além disso, a ampla variabilidade existente entre as tabelas de descontos dos armazéns contribui para o aumento da assimetria de informação e da incerteza entre os agentes do mercado. Nesse sentido, a elevação da transparência no momento de precificar a operação de armazenagem foi um termo chave ressaltado em grande parte das entrevistas, e uma das alternativas para melhoria desse cenário consiste na criação e divulgação de treinamentos e cursos para a propagação da informação e conhecimento pertinentes à armazenagem.

Transporte – No tocante ao transporte dos grãos até o Porto de Paranaguá, é fato consumado que a grande dependência brasileira pelo modal rodoviário onera os custos relativos ao processo de exportação. A pesquisa faz considerações sobre a precificação do transporte, o qual se dá por meio de fatores de mercado e custos de transporte. O primeiro destes é o responsável pela maior parte da variação do preço do frete observada ao longo do ano, e existem períodos em que o preço praticado no mercado é menor do que o custo do serviço, devido aos fatores microeconômicos de oferta e demanda, sendo que não necessariamente o frete é formado pelo custo de transporte.

A questão do pedágio também é abordada na pesquisa e, em termos médios, este representa em torno de 11% do valor do frete praticado no Paraná. Outra consideração relevante diz respeito à limitação da capacidade de recebimento de carga no Porto de Paranaguá que, segundo alguns embarcadores, acaba limitando as movimentações, principalmente nos períodos de safra.

Porto – Tratando exclusivamente do Porto de Paranaguá, o relatório 3 do projeto traz uma série de considerações. Uma delas diz respeito às perdas existentes entre a recepção da carga nos terminais e o carregamento da mesma no porão dos navios. Estimativas apontam que para cada navio de soja carregado, 150 toneladas (pouco mais de 4 caminhões) são perdidas nesse processo. Tais números ocorrem em função da ocorrência de perdas consideradas comuns, as quais estão dentro da quebra técnica de 0,25% do volume total movimentado no porto. O estudo também faz a análise completa do caminho que a soja faz desde a chegada no porto pelos caminhões, até o carregamento dos navios pelo shiploader (equipamento responsável por carregar o produto no porão do navio), mapeamento este que permitiu a elaboração de cenários da situação operacional do Porto e de impactos da realização de novos investimentos.

O relatório traz ainda considerações sobre o impacto da demurrage na receita dos exportadores e o impacto do óleo bunker (combustível do navio) na precificação do frete marítimo. O trabalho também mostra o impacto da chuva no carregamento dos navios graneleiros em Paranaguá, o qual é da ordem de 25% do tempo, e ressalta também algumas vantagens comparativas (nível tecnológico e organizacional, como o Sistema Carga OnLine, por exemplo) que o Porto de Paranaguá tem em comparação com alguns outros portos brasileiros, além de fazer algumas recomendações de investimentos para incremento da capacidade operacional do porto, e aumento da capacidade de expedição de carga.

Segundo Thiago Péra, coordenador do Grupo ESALQ-LOG, o estudo de diagnóstico integrado (transporte, armazenagem, porto e comercialização) realizado por quase dois anos, traz evidências de como o produtor rural deixa de gerar margem em função das ineficiências logísticas. “Esperamos que essa pesquisa possa facilitar discussões do tema e subsidiar tomadas de decisão que visem aumentar a competitividade do agronegócio paranaense”, diz Péra.

O Projeto Benin foi a continuidade da parceria entre o ESALQ-LOG e a FAEP que teve início em 2011 com o Projeto Jamaica, que tratou da competitividade dos fretes ferroviários e rodoviário no Estado do Paraná. Os relatórios do Projeto Benin estão disponibilizados no site da FAEP.

Além do pesquisador Fernando Vinícius da Rocha, o Projeto Benin contou com a participação dos professores José Vicente Caixeta Filho (diretor da ESALQ e coordenador geral do ESALQ-LOG) e Augusto Hauber Gameiro, docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia do campus da USP em Pirassununga, do Thiago Guilherme Péra (coordenador do ESALQ-LOG), além de outros 15 pesquisadores de graduação e pós graduação membros do Grupo.

Fonte: Assessoria de Comunicação USP ESALQ

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