Gestão

Fundos são contra oferta de Cosan por ALL

Acionistas acham que é baixa a proposta que avalia fusão em R$ 11 bi; remuneração à consultoria é outro ponto de atrito


Publicado em: 25/02/2014 às 14:40hs

Fundos são contra oferta de Cosan por ALL

Aval das fundações é determinante para a conclusão da operação entre as duas empresas de logística.

Os fundos de pensão Previ e Funcef e o fundo de investimento BRZ procuram, desde a semana passada, um novo assessor financeiro e um jurídico para representá-los na negociação de fusão entre as empresas de logística ALL e Rumo, do grupo Cosan.

As fundações e a BRZ não gostaram da oferta apresentada ontem pela Cosan e que cria uma empresa avaliada em R$ 11 bilhões.

Pela proposta, os acionistas da ALL ficariam com 63,5% da nova companhia, e os da Rumo, com 36,5%. O valor considerado para a operação foi de R$ 10,18 por ação da ALL, o que representa um prêmio de cerca de 60% ante a cotação de sexta-feira na Bolsa. O preço por ação da Rumo ficou em R$ 3,90.

A Folha apurou que os fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) e o BRZ estão insatisfeitos principalmente com dois pontos.

Acham o valor por ação baixo, enquanto a remuneração da Estáter, consultoria contratada pela ALL para negociar a fusão, seria muito alta.

Segundo profissionais que acompanham a negociação, a quantia paga à Estáter pode chegar a R$ 70 milhões, dependendo do valor da nova empresa e da fatia que os novos sócios terão nela.

Fontes ligadas à Estáter negaram à Folha que a remuneração seja um ponto de atrito com as fundações.

Representantes dos fundos disseram sob a condição de anonimato que, na pressa para fechar a operação, a Estáter estaria desconsiderando os seus interesses.

A consulta e a tomada de preços para definir os novos assessores estão sendo conduzidas pela BRZ, que representa os fundos Funcef, Petros, Postalis, Forluz e Valia.

Procurados, os fundos de pensão e o BRZ não se manifestaram sobre a oferta.

O aval das fundações é determinante para a conclusão da operação. Dos 4 fundos no acordo de acionistas da ALL (BNDESPar, BRZ, Previ e Funcef), ao menos 2 precisam aprovar a fusão --o do BNDES já deu seu aval ao negócio.

O clima da negociação pode esquentar, pois o presidente da Cosan, Marcos Lutz, descartou apresentar nova oferta aos acionistas da ALL. "A proposta que temos é só essa, nenhuma outra", disse.

Encaminhada ontem, a oferta tem 40 dias para ser avaliada pelo conselho de administração da ALL. Se aprovada, também deverá ter aval de assembleia de acionistas.

A operação ainda deve passar pelo crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

Há cerca de dois anos, as restrições impostas pelos fundos de pensão impediram uma primeira tentativa da Cosan de comprar a ALL.

A fusão, se concretizada, colocaria fim à disputa judicial entre as empresas, que se acusam de não cumprimento de um contrato entre elas. Além disso, geraria ganhos de sinergia nas operações, ainda não detalhados.

Os investidores receberam bem a proposta de fusão: as ações da ALL subiram 8,74% ontem, e as da Cosan, 3,5%.

Grupo se divide em 2 empresas

A Cosan também anunciou ontem que será dividida em duas empresas: Cosan Energia, na qual serão geridos os negócios relacionados à área de energia e agrícola do grupo, e Cosan Logística, que centralizará os negócios nesse ramo. A Rumo deverá fazer o registro de companhia aberta para receber as ações da ALL, que desaparecerão da Bolsa caso a fusão entre as companhias seja aprovada (Folha de S.Paulo, 25/2/14)

Setor de soja pede ao Cade que investigue acordo ALL-Rumo

Produtores temem que ferrovia priorize combustível e açúcar da Cosan e deixe grãos e fertilizantes de lado. Disputa entre clientes deve se agravar até 2015, já que obras relevantes de empresa podem não ficar prontas.

Os produtores de grãos do Centro-Oeste estão pedindo que órgãos de controle do governo fiscalizem a fusão da ALL com a Rumo, subsidiária da Cosan.

Os fazendeiros temem que a companhia que vai controlar a ferrovia priorize seus produtos, açúcar e combustível, em detrimento de outros itens que são transportados na linha, como grãos e fertilizantes.

Por isso, já entraram com um pedido no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que o órgão de controle da concorrência investigue a fusão.

Eles pretendem entrar com requisições semelhantes em outros órgãos do Estado.

O diretor-presidente da Cosan, Marcos Lutz, disse ontem a jornalistas que a decisão sobre o transporte caberá à nova companhia, que priorizará a geração de valor para os seus acionistas.

Ele ressaltou ainda que o volume de açúcar da Raízen transportado pela Rumo, de cerca de 2 milhões de toneladas por ano, é pouco relevante se comparado à capacidade total da nova empresa.

CAPACIDADE LIMITADA

A ALL é a única ferrovia que pode transportar grãos da região de Mato Grosso para o porto de Santos (litoral de São Paulo).

Como a capacidade de transporte da empresa está limitada devido à falta de investimentos na linha, não há espaço para levar a carga de todos os clientes que solicitam. Com isso, a companhia vinha escolhendo os clientes mais rentáveis, e a soja, por ser transportada ao longo de uma distância maior, vinha tendo prioridade.

Isso levou a uma disputa da ALL com a Cosan, que reclamava que a empresa ferroviária não estava cumprindo contrato para o transporte do açúcar em São Paulo.

Em 2012, a ALL transportou 10 milhões de toneladas de açúcar e combustível.

De acordo com Edeon Vaz, que coordena o movimento Pró-Logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso, o temor dos agricultores é não saber como ficará a situação a partir de agora.

Segundo ele, no ano passado foram transportados 14 milhões de toneladas de soja pela ferrovia e a previsão eram 16 milhões neste ano.

"É um volume do qual não podemos abrir mão", afirmou o dirigente.

DISPUTA

A disputa entre produtores de grãos e de açúcar deverá se agravar nos próximos dois anos, segundo apurou a Folha com analistas do setor.

Isso porque não há perspectiva de que obras importantes da ALL fiquem prontas nesse prazo.

E, sem essas obras, a capacidade de transporte da ferrovia vai ser reduzida.

A principal obra é o Ferroanel de São Paulo, que o governo vem prometendo destravar desde 2011, mas que continua sem solução.

A partir do ano que vem, o governo de São Paulo vai começar a diminuir o espaço para a passagens de trens de carga pelo centro de São Paulo para dar prioridade ao transporte de passageiros.

Sem o Ferroanel pronto, a capacidade de chegar a Santos vai ser muito reduzida.

Fonte: Folha de S. Paulo

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