Publicado em: 12/08/2014 às 12:00hs
Se a Agricultura familiar no Distrito Federal tem conseguido contornar, aos poucos, o obstáculo da falta de regularização fundiária e de acesso ao crédito, conforme o Correio mostra desde domingo em uma série de reportagens, o campo esbarra agora em outro problema conjuntural: o apagão de mão de obra. Embora não haja números oficiais da falta de pessoal na agropecuária candanga, quem está na lida do dia a dia aprendeu a conviver com a perda de produção ocasionada pela ausência de trabalhadores.
O agricultor Iraci Inácio da Fonseca, 57 anos, cultiva morango no Assentamento Betinho, em Brazlândia, e, na última safra, perdeu a metade da colheita por falta de pessoal. A chácara dele tem cinco hectares. Além de morango, ele planta maxixe, abobrinha e batata-baroa. Em 2013, ele plantou 40 mil pés de morango e conseguiu colher 20 mil. "Foi muito triste ver o morango se perdendo por falta de gente para colher. Este ano, só plantei 5 mil pés para que isso não ocorresse de novo", conta Iraci. Pelos cálculos do produtor, ele não teria perdido o morango se oito pessoas tivessem na colheita, mas conseguiu contratar três.
Iraci contava com o apoio da mulher e do filho para os afazeres da roça. No último ano, os dois se mudaram para São Sebastião. "Meu filho arrumou um serviço melhor, de cuidar de piscina, e a mulher foi com ele". Sem a ajuda da família, Iraci construiu uma casa na propriedade para abrigar quem se dispusesse a trabalhar para ele. Em época de colheita, a diária paga ao trabalhador é de R$ 40 a R$ 50. "Eu cheguei a ir buscar dois garotos em Ceilândia, mas eles chegaram aqui e queriam acordar depois das 10h, colheita é cedinho. Não deu certo", comentou. Atualmente, para conseguir cuidar de toda a chácara, Iraci tem feito expediente diário das 4h às 22h.
No caso da Agricultura familiar do DF, a ausência de mão de obra pesa muito porque boa parte do cultivo é de hortaliças. Para esse tipo de Lavoura, ainda não há colheita mecanizada, uma vez que são produtos delicados e exigem trabalho manual. Em outras fases da produção, como preparo do solo, é possível suprir a ausência de pessoal com tratores. "A Agricultura familiar tem demandado mais mão de obra e vivemos um período de pleno emprego no Brasil. A saída para resolver essa questão é trazer mais tecnologia para as etapas nas quais isso for possível. Por isso, temos investido em linhas de crédito com foco em maquinário", afirma Laudemir Müller, secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
A proximidade de um grande centro urbano, como Brasília, também contribui para a disputa de trabalhadores entre a cidade e o campo. Boa parte dos núcleos Rurais do DF estão localizados a menos de 60km do Plano Piloto. Dessa forma, o trabalhador rural pode optar por emprego no campo ou na cidade. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 6.616 pessoas trabalham com carteira assinada na agropecuária do DF. Nos últimos quatro anos, o saldo entre admitidos e desligados é sempre positivo. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, 2.103 foram contratados contra 1.900 que deixaram o emprego.
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Crédito difícil
Embora o governo anuncie a oferta de mais tecnologia para o campo, a fim de diminuir a dependência da mão de obra, os produtores do Distrito Federal ainda encontram dificuldade de crédito para os investimentos fixos, como silos e armazéns, e, em menor escala, para os semifixos, como tratores e Máquinas Agrícolas. O problema é que esses investimentos são mais caros e, como os títulos de 60% das terras Rurais do DF ainda são precários, os bancos não aceitam. No caso dos semifixos, algumas instituições financeiras aceitam o bem como garantia. Mas os silos e armazéns, requisitados principalmente pelas cooperativas de Agricultura familiar, não conseguem financiamento. O resultado é que a produção do DF, como a de grãos, acaba armazenada em outras unidades da Federação e retornam encarecidas à cidade.
Fonte: Correio Braziliense
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