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Crise hídrica e desmatamento podem afetar agricultura no país

Em evento para professores do ensino agrícola, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais alerta para a importância da preservação das matas como forma de evitar estiagens prolongadas


Publicado em: 02/12/2020 às 08:20hs

Crise hídrica e desmatamento podem afetar agricultura no país

O desmatamento de florestas, em especial da Amazônia, agrava a crise hídrica enfrentada no Brasil e pode afetar a agricultura no país, ao provocar falta de chuva e gerar estiagens prolongadas. O alerta é da pesquisadora e professora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Laura de Simone Borma, feito durante o 35º Encontro Estadual de Professores e 8º Congresso Nacional de Ensino Agrícola nesta quinta-feira, dia 26 de novembro. Em formato virtual, o evento é uma promoção da Associação Gaúcha dos Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea) em parceria com o Programa de Inovação Pedagógica (Proipe), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 

Em painel detalhado sobre o papel das matas na regulação das águas e do clima no país, Laura explicou como se dá a absorção e escoamento da chuva nessas áreas, a fim de manter um equilíbrio entre os períodos de seca e os mais úmidos. De acordo com ela, ao se desmatar regiões, o solo fica nu e desprotegido, mais sensível à erosão e sem poder de absorver a mesma quantidade de água. Isto interfere nos lençóis freáticos e no volume dos rios, bem como na fertilidade da terra. Enfatizou ainda que, sem as árvores, o vapor d’água não volta para a atmosfera, o que reduz o ocasionamento de chuvas e aumenta a temperatura do ambiente. “A aceleração do ciclo hidrológico como resultado vem sendo discutido não só na comunidade científica. Quem trabalha com agricultura sabe bem o que significa um mês a mais de seca para as lavouras”, ponderou, reforçando que, no caso da Amazônia, os efeitos da estiagem são e serão sentidos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

A pesquisadora ainda comentou que, mesmo nos casos onde há reflorestamento, é preciso estudar e criar uma biodiversidade. “Uma grande preocupação com as monoculturas é que elas não são resistentes a nenhum evento extremo. Na revegetação, devemos pensar em como combinar as espécies para termos melhor reserva de água, criar um sistema integrado”, avaliou. De acordo com ela, ao se buscar resolver um único problema, outros podem surgir. “Sempre que se mexe na terra, temos que entender que há componentes ambientais e humanos, a equação envolve muitas variáveis. As agroflorestas são uma alternativa interessante”, explicou. 

Sobre a crise hídrica, Laura enfatizou que é difícil estabelecer uma relação completa de causa e efeito, uma vez que o país possui muita água e distribuição desigual. “Há também muito desperdício e contaminação. Falamos aqui de quantidade e qualidade do que temos e consumimos”, salientou, acrescentando que, apesar das perspectivas futuras não serem otimistas, o olhar global para o tema está mudando. “Temos que criar modelos bons o suficiente para não precisarmos desmatar a fim de ter atividades econômicas sustentáveis. Até porque com ainda mais seca nenhuma atividade se torna viável. Temos todos que encontrar juntos uma solução, inclusive com os agricultores”, finalizou.

Fonte: Assessoria de Comunicação da Associação Gaúcha dos Professores Técnicos de Ensino Agrícola (Agptea)

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