Publicado em: 14/08/2014 às 09:40hs
Neto de um feirante que vendia laranjas, José Luís Cutrale herdou o reinado de seu pai e comanda hoje uma das maiores exportadoras mundiais de suco de laranja, a Cutrale.
Ao contrário de muitos empresários, ele foge dos holofotes. Reservado, evita fotos e entrevistas e sua empresa, de capital fechado, não divulga resultados.
Na segunda-feira, 11 de agosto, a Sucocítrico Cutrale e o grupo Safra, também brasileiro, fizeram uma proposta de US$ 625 milhões (aproximadamente R$ 1,4 bilhão) para adquirir a americana Chiquita, líder global em produção de bananas.
O negócio, apelidado de "guerra das bananas" - pois abre uma disputa com outra empresa que já estava em processo de fusão com a Chiquita -, foi destaque em publicações estrangeiras como o Financial Times e o Wall Street Journal.
A Cutrale é responsável pela venda de um em cada três copos de suco de laranja no mundo. Mas, nos últimos anos, o consumo do suco declinou, o que explica a tentativa da empresa de diversificar seus negócios, primeiro com a soja e, agora, com a banana.
Reservado
Figura reservada, Luís Cutrale não costuma dar entrevistas ou tirar fotos. A empresa, com sede em Araraquara, no interior de São Paulo, segue a mesma linha: é conhecida por ser pouco transparente e avessa a entrevistas.
A Cutrale não informou dados sobre o faturamento ou sobre a história da empresa para esta reportagem. Também não quis enviar fotos. Nem mesmo o perfil de José Luís na revista Forbes, que lista milionários de todo o mundo, traz foto do empresário. De dados pessoais, apenas a formação em Administração e a idade, 68 anos.
A gigante da laranja tem uma gestão familiar e, exatamente por ser muito fechada, é cercada de mitos. Diversos jornais já disseram que, em Araraquara, a Cutrale construiu um condomínio cercado por um muro em formato de coração e com seguranças armados para os maiores executivos da empresa -informação que a Cutrale não comentou.
Uma pessoa próxima ao grupo disse que, apesar desta imagem de união extrema condizente com uma empresa familiar, os empresários passam a maior parte do tempo viajando a negócios. A Cutrale é gerida por José Luís e por seus dois filhos, descritos como pessoas simples e que valorizam sua privacidade.
"São pessoas normais, que querem andar na rua tranquilos. São muito workaholics e, apesar de ser uma empresa familiar, o nível de governança é muito sofisticado. Eles têm controle de tudo", disse a fonte à BBC Brasil.
O império do suco de laranja começou a ser erguido pelo avô de José Luís Cutrale, um imigrante italiano que tinha uma banca de laranjas no Mercado Municipal de São Paulo.
O pai de José Luís, José Cutrale Júnior, é exemplo típico de empresário que, apesar da falta de estudos, conseguiu conquistar o mundo. Largou a escola e começou a trabalhar com o pai ainda adolescente. Nos anos 50, comprou a primeira fazenda do grupo e, em 1967, fundou a Cutrale.
No livro Citrus, o professor e químico Pierre Laszlo afirma que Cutrale Júnior tirou vantagem de uma geada que destruiu laranjais na Flórida para crescer mundialmente. Ele se associou à Coca-Cola para a produção do suco Minute Maid e, quando os EUA adotaram medidas antidumping contra a Cutrale, transferiu parte da produção para lá.
Cutrale Júnior morreu em 2004, deixando a empresa, já uma gigante, nas mãos do filho, José Luís.
Fonte: BBC Brasil
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