Clima

Seca no Centro-Sul brasileiro já eleva preços de alguns produtos agropecuários

O clima quente e seco em grande parte do Centro-Sul do País tem prejudicado a maioria das culturas produzidas nessas regiões


Publicado em: 11/02/2014 às 18:30hs

Seca no Centro-Sul brasileiro já eleva preços de alguns produtos agropecuários

O clima quente e seco em grande parte do Centro-Sul do País tem prejudicado a maioria das culturas produzidas nessas regiões. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, café, boi, milho e ovos são alguns produtos que já estão sendo reajustados por esse motivo.

As condições climáticas desfavoráveis devem reduzir a produtividade do café arábica. No início de janeiro, a estimativa média da Conab já apontava que a safra 2014/15, de bienalidade positiva, poderia ser menor que a anterior, já que produtores estavam limitando os tratos culturais diante dos baixos preços. Com as condições climáticas ruins no correr deste ano, agentes consultados pelo Cepea explicam que o enchimento dos grãos está comprometido e, portanto, o volume final, em sacas, pode ser menor.

Esse quadro tem resultado em avanços nas cotações da variedade na Bolsa de Nova York (ICE Futures) e, por consequência, no mercado brasileiro. Desde o início deste ano, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, já subiu 19%, ou 54 reais/saca, fechando a R$ 341,16/saca de 60 kg nesta segunda-feira, 10. Somente em fevereiro, o Indicador já teve alta de 12,48%. Vale lembrar que os preços da variedade vinham em queda desde o início de 2013 e, em muitos meses, ficaram abaixo dos custos de produção.

A falta de chuva e o forte calor prejudicam também o desenvolvimento das pastagens, dificultando a engorda de bois que seriam abatidos neste início de 2014. Com isso, mesmo nesta época tradicionalmente considerada “entrada de safra”, a oferta de animais se mantém relativamente baixa e os preços, firmes, contrariando expectativas de operadores que aguardavam o movimento típico para o período em outros anos.

O Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa (estado de São Paulo) teve média de R$ 114,16 em janeiro/14, alta de 17% em relação à media de janeiro/13, de R$ 97,53. Na parcial de fevereiro (até o dia 10), o Indicador acumula valorização de 1,54%, abrindo a semana a R$ 116,83. Em relação ao valor praticado em período equivalente do ano passado (13/02), de R$ 98,23, a alta é de expressivos 19%. No atacado da Grande São Paulo, a carcaça casada bovina foi cotada a R$ 7,62/kg nessa segunda-feira, aumentos de 1,9% neste início do mês e de 21,3% na comparação com 2013.

O clima adverso em parte de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná tem reduzido o ritmo de plantio da segunda safra de milho. Esse cenário, combinado às altas nos preços externos do grão e à valorização do dólar frente ao Real, tem elevado as cotações domésticas na média das regiões acompanhadas pelo Cepea. Somente em fevereiro (até dia 10) o Indicador do milho ESALQ/BM&FBovespa (região de Campinas-SP) teve avanço de 6,45%, fechando a R$ 28,37/saca de 60 kg na segunda-feira.

Quanto à soja, o clima quente e seco até favorece a colheita no Sul, Sudeste e em parte do sul de Mato Grosso do Sul, mas está deixando sojicultores preocupados quanto ao desenvolvimento das lavouras em fase de floração e de frutificação. As cotações da soja subiram na Bolsa de Chicago em alguns dias desde a semana passada puxadas por temores sobre o impacto do clima no Brasil, porém sem reflexo nos preços domésticos.

Pesquisadores do Cepea destacam que uma possível alteração na oferta dos grãos – e nos valores desses produtos – pode influenciar o mercado pecuário (boi, suínos e aves, principalmente), grande demandante de milho e farelo de soja. No caso dos bovinos, pecuaristas foram pegos de surpresa. Poucos produtores teriam se programado para suplementar seus animais nesta época do ano, quando normalmente os pastos dão conta dos rebanhos.

A produção de ovos também está prejudicada em todas as regiões pesquisadas pelo Cepea. Segundo agentes do setor, as altas temperaturas estão elevando o índice de mortalidade das galinhas e, portanto, reduzindo a oferta de ovos. De 3 a 10 de fevereiro, as cotações do ovo tipo extra, branco, chegaram a subir 10,9% na Grande São Paulo, com a média da caixa com 30 dúzias passando para R$ 56,53 na segunda-feira, 10. No mesmo período, os preços dos ovos tipo extra, vermelho, aumentaram 18,3% também na Grande São Paulo, a R$ 68,43 a caixa com 30 dúzias.

Em relação às laranjas, as da safra 2013/14 já foram afetadas, reduzindo a qualidade do produto. Citricultores consultados pelo Cepea relatam que a temporada seguinte também pode ser comprometida, já que as frutas estão em fase de desenvolvimento. Os preços da pera in natura também têm sido influenciados pela menor oferta de frutas de qualidade, a média de janeiro foi de R$ 18,98/cx de 40,8kg, na árvore, 39,6% superior à de dezembro/13 e 112,3% acima da de janeiro/13.

Perda de qualidade

Muitos produtos têm apresentado perda de qualidade, porém ainda sem reflexo nos preços. Em relação à cana-de-açúcar, a seca em São Paulo está limitando o desenvolvimento dos canaviais, o que pode reduzir a produtividade da safra 2014/15, que começaria oficialmente em abril.

Na hortifruticultura, os impactos são bastante visíveis. Esses são alguns dos produtos que mais sofrem com a seca e com altas temperaturas. O tomate está com a maturação acelerada, o que reduz a sua vida útil e a qualidade, enquanto a batata tem sido colhida com a casca mais escura, que costuma ser preterida pelo consumidor brasileiro. Bataticultores de Ibiaras (RS) relatam perdas na ordem de 60% da produção. Para a cebola, a falta de chuva impede o preparo do solo e, consequentemente, atrasa o plantio. Quanto à alface, a baixa umidade deixa a folha dura e as altas temperaturas as queimam. Esse cenário tem provocado muitas perdas da verdura na roça, no transporte e no atacado. Atacadistas consultados pelo Cepea chegam a relatar perdas de até 40% das cargas de alface. Mesmo as culturas irrigadas sofrem com o clima, já que os níveis dos reservatórios estão baixos, limitando as irrigações. Em relação às frutas, a banana e o mamão são as que mais têm sofrido os efeitos do calor porque amadurecem mais rápido e apresentam baixo calibre.

Segundo pesquisadores do Cepea, como a maioria dos vegetais está em época de safra, não deve haver desabastecimento, mas a oferta e a qualidade tendem a reduzir, o que, por sua vez, pode elevar os preços.