Publicado em: 03/09/2024 às 11:41hs
A América do Sul, ainda sob um cenário de neutralidade climática, deve começar a sentir os efeitos do fenômeno La Niña a partir de setembro. Caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, o La Niña altera significativamente o regime de chuvas em diversas partes do continente. No Paraná, as previsões já colocam os produtores rurais em estado de alerta: as regiões Noroeste, Norte e Norte Pioneiro podem enfrentar chuvas abaixo da média e temperaturas acima dos padrões históricos.
Esse panorama foi detalhado durante a live “Panorama climático em ano de La Niña”, promovida pelo Sistema FAEP, onde o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador da Sala de Situação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), apresentou as tendências para os próximos meses. Segundo ele, o La Niña deverá se manifestar de forma fraca a moderada até março de 2025, com possibilidade de outros fenômenos interferirem nas condições meteorológicas da América do Sul.
Durante sua apresentação, Seluchi mostrou mapas e modelos que indicam as previsões de chuvas e temperaturas para o Brasil. O Paraná se encontra em uma “área de transição”, o que significa que as condições climáticas da região Sul do país e do interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul poderão afetar o Estado de maneira desigual. Enquanto a região Centro-Sul do Paraná deve experimentar um cenário mais neutro, a faixa Norte, englobando as regiões Noroeste, Norte e Norte Pioneiro, tende a sofrer com chuvas abaixo da média.
Essa perspectiva é motivo de preocupação, especialmente para as áreas que já enfrentam seca estabelecida, com até 90% das pastagens e lavouras afetadas pela estiagem. “Não há previsão de chuvas acima da média. A seca, que já se manifesta na faixa Norte, tende a persistir e até se agravar”, alertou Seluchi. Ele destacou ainda que a situação configura uma "seca meteorológica" na região.
Seluchi também mencionou que o La Niña pode intensificar fenômenos extremos, como ondas de frio e calor, além de provocar uma má distribuição das chuvas, concentrando as precipitações em curtos períodos. Até meados de setembro, as chuvas devem continuar abaixo da média, enquanto as temperaturas permanecerão dentro dos padrões históricos. “Não prevemos, no curto prazo, ondas de calor prolongadas que possam impactar negativamente a agricultura”, observou o meteorologista.
Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP, ressaltou a importância de os produtores rurais acompanharem atentamente as previsões climáticas para planejar suas safras e garantir suas produções por meio do seguro rural, uma das principais bandeiras da entidade. “É fundamental que nossos produtores considerem o seguro rural como uma garantia. Temos o dever de planejar com base nessas condições climáticas”, afirmou. O Sistema FAEP, há décadas, pleiteia junto ao governo federal o aumento dos recursos destinados ao subsídio do seguro rural para os agricultores.
Marcelo Seluchi explicou detalhadamente o funcionamento do La Niña. Ventos alísios, vindos do leste, deslocam as águas do Oceano Pacífico, na costa da América do Sul, provocando o resfriamento dessas águas. Esse fenômeno leva a chuvas intensas no outro extremo do oceano, próximo à Austrália, enquanto na América do Sul as precipitações diminuem, concentrando-se no norte do continente.
Seluchi também apresentou um retrospecto climático, destacando dados históricos sobre as emissões de gás carbônico (CO2). Nos últimos 30 anos, 52,7% das emissões globais ocorreram, sendo que, nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, o CO2 é originário principalmente da queima de carvão, petróleo e gás. No Brasil, por outro lado, as emissões são majoritariamente decorrentes do desmatamento e das queimadas.
Uma das consequências diretas das mudanças climáticas, segundo Seluchi, é a redução da temporada de chuvas. Ao longo dos últimos 40 anos, o período de precipitações encurtou em 25 dias, enquanto a temperatura média aumentou em 1,5ºC. Embora esse aumento possa parecer pequeno, ele está associado a eventos extremos, como intensas ondas de calor e períodos anômalos de concentração de chuvas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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