Clima

Clima Adverso se Torna Maior Desafio para Safra de Laranja, Afirma CEO da Citrosuco

Greening ainda preocupa, mas condições climáticas severas são apontadas como principal fator de queda na produção e aumento nos preços do suco


Publicado em: 08/08/2024 às 10:45hs

Clima Adverso se Torna Maior Desafio para Safra de Laranja, Afirma CEO da Citrosuco

A Citrosuco, uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo, responsável por um em cada quatro copos consumidos globalmente, avalia que o clima adverso tem sido um desafio mais significativo do que a doença greening na produção de laranja no Brasil. Em uma rara entrevista concedida à Reuters, nesta quarta-feira, o CEO da companhia, Marcelo Abud, destacou que as condições climáticas severas têm impactado a safra de forma mais intensa do que o greening.

Esses dois fatores, clima e greening, estão na raiz das sucessivas baixas colheitas no Brasil, o maior produtor e exportador global de suco de laranja, contribuindo para a escalada dos preços do produto na bolsa de Nova York, que atingiram máximas históricas em 2024.

"Temos impacto de greening, mas principalmente do clima, que tem se mostrado um fator ainda mais determinante", afirmou Abud. Ele destacou que a baixa oferta de laranjas é resultado direto dessas condições desafiadoras.

Ao ser questionado sobre as perspectivas para a nova safra 2024/25 no principal cinturão produtor de laranja do país, que abrange os estados de São Paulo e Minas Gerais, Abud citou uma estimativa da Fundecitrus, que projeta uma queda de quase 25% na produção, com expectativa de 232,38 milhões de caixas de 40,8 kg.

"Será uma safra mais difícil, e acreditamos que será assim... Estamos tentando maximizar os resultados, mas obviamente somos vulneráveis às mudanças climáticas, o que também afetará a Citrosuco", declarou Abud durante um evento da empresa voltado para a apresentação de uma nova metodologia de monetização de créditos de carbono obtidos com lavouras perenes, como laranja, café, cacau e outras frutas.

A Citrosuco, líder na indústria de suco de laranja, deseja reforçar a imagem de que o Brasil mantém um papel de destaque no setor, apoiado por seus valores de sustentabilidade. Abud, que lidera a empresa com cinco terminais portuários nos principais mercados importadores, como Wilmington (EUA), Ghent (Bélgica) e Toyohashi (Japão), ressaltou a importância dessas iniciativas.

Enquanto trabalha em ações para mitigar as mudanças climáticas, a Citrosuco enfrenta uma previsão de safra que pode ser a menor dos últimos 36 anos, em uma região que, há duas décadas, produzia quase o dobro do volume atual.

Referindo-se aos impactos climáticos, Abud observou que, em algumas micro-regiões, as temperaturas deste ano superaram em 5 graus as do ano anterior, o que levou a empresa a considerar novos projetos de irrigação para reduzir os efeitos negativos nas produtividades. "Já estamos desenvolvendo projetos que incluem irrigação para tornar as plantas mais resilientes", acrescentou.

Além disso, Abud destacou que a indústria continua em busca de variedades de plantas mais resistentes tanto ao calor quanto ao greening, uma doença que pode causar grandes perdas nas produtividades das plantas afetadas. Embora a extirpação dos pomares doentes seja uma recomendação comum para combater o greening, os altos preços do suco de laranja congelado e concentrado, que ultrapassaram 4,30 dólares por libra-peso após atingirem um recorde de cerca de 4,70 dólares ao final de maio, têm levado alguns produtores a manterem suas plantações o máximo possível.

A Citrosuco, que possui 28 fazendas próprias, totalizando cerca de 73 mil hectares e representando aproximadamente 40% da fruta processada pela empresa, adota diversas técnicas de manejo para enfrentar o greening, incluindo a renovação anual de 5% a 10% de sua área total, substituindo os pomares mais velhos e menos produtivos.

Na visão de Abud, o Brasil tem sido menos afetado pelo greening do que outros países, como os Estados Unidos, graças às boas práticas de manejo. "Veja a Flórida, que já produziu perto de 200 milhões de caixas há 20 anos, hoje produz apenas 12, 15, 20 milhões de caixas. O Brasil, que atingiu um pico de 400 milhões de caixas, viu essa produção cair para 300 milhões no ano passado, uma queda, mas proporcionalmente menor devido às boas práticas de manejo", comentou.

Além das práticas de manejo, a Citrosuco também utiliza o controle biológico, com vespas que atacam o psilídeo, inseto vetor da bactéria causadora do greening.

Migração para Regiões Menos Afetadas pelo Greening

Assim como outras empresas do setor, a Citrosuco está explorando novas regiões com menor incidência de greening. Abud mencionou que a taxa de incidência da doença na principal região citrícola brasileira chegou a 38% em média no ano passado, com os maiores índices registrados em São Paulo.

"No ano passado, investimos em duas novas fazendas em Minas Gerais, em regiões um pouco mais ao norte das que já cultivamos, o que nos permite ganhar tempo no ciclo do greening", afirmou Abud. Embora essa movimentação torne a originação da fruta um pouco mais distante das indústrias processadoras, a empresa vê isso como uma estratégia necessária.

A Citrosuco possui três plantas industriais, todas localizadas no estado de São Paulo, incluindo a maior processadora do mundo, em Matão, além das unidades em Catanduva e Araras.

"O Brasil oferece a vantagem de poder cultivar laranja em várias regiões, ao contrário dos Estados Unidos. Temos o privilégio de poder expandir a citricultura para diferentes áreas. Algumas regiões vão se desenvolver melhor, e muitos produtores seguirão essa tendência, especialmente com o mercado em alta", concluiu Abud.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias