Publicado em: 09/09/2025 às 16:00hs
Plantar alface em campo aberto no Brasil pode se tornar impraticável nas próximas décadas. Essa é a conclusão de um estudo conduzido pela Embrapa Hortaliças (DF), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), utilizando modelos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
As projeções mostram que, até o fim do século, praticamente todo o território nacional apresentará risco alto ou muito alto para a produção da hortaliça mais consumida pelos brasileiros.
O levantamento trabalhou com dois cenários globais de emissões de gases de efeito estufa:
Mesmo no cenário otimista, o verão se apresenta como a estação mais crítica, com temperaturas ultrapassando os 40°C em grande parte do País — um patamar muito acima do ideal para a alface, que depende de clima ameno e boa disponibilidade hídrica.
As projeções da Embrapa consideraram quatro períodos: até 2040, de 2041 a 2070, de 2071 a 2100 e o histórico de 1961 a 1990 como referência.
No verão entre 2071 e 2100:
“Esses números mostram que a alface, por sua alta sensibilidade, pode se tornar inviável em campo aberto em grande parte do Brasil, especialmente no verão”, ressalta Carlos Eduardo Pacheco, pesquisador em mudanças climáticas da Embrapa.
Para enfrentar o avanço do calor, os pesquisadores têm duas linhas principais de trabalho:
O engenheiro-agrônomo Fábio Suinaga, da Embrapa, destaca que as sementes de alface exigem temperaturas abaixo de 22°C para germinar, o que torna o desafio ainda maior diante das projeções para até 45°C no cenário pessimista.
O produtor Rodrigo Baldassim, de São José do Rio Pardo (SP), afirma que 80% da sua área de cultivo é ocupada pela cultivar BRS Mediterrânea.
“Ela aguenta melhor o calor, entrega maior volume de folhas, demora mais para pendoar e não sofre queimadura de borda”, afirma, destacando vantagens competitivas em comparação com outras variedades disponíveis no mercado.
A Embrapa pretende ampliar os estudos para hortaliças como tomate, batata e cenoura, altamente vulneráveis ao calor. O próximo passo será utilizar bases de dados com maior resolução espacial, como a WorldClim, e modelos mais recentes do IPCC (AR6), além de aplicar inteligência artificial para automatizar a geração de cenários climáticos.
Segundo Pacheco, a análise também deve avançar para o campo da segurança e soberania alimentar, já que hortaliças são fundamentais na dieta da população e mais frágeis que grãos como milho e soja.
Duas desordens relacionadas ao calor impactam diretamente a produção:
Os pesquisadores destacam que a crise climática na produção de hortaliças está ligada a questões de saúde pública, animal e ambiental, alinhadas ao conceito de Saúde Única (One Health), promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A abordagem reconhece a interdependência entre seres humanos, animais, plantas e ecossistemas, reforçando a necessidade de soluções integradas para garantir a segurança alimentar no futuro.
Fonte: Portal do Agronegócio
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