Das mais de cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil, aproximadamente 77% não recebiam nenhuma orientação técnica. O dado do Censo Agropecuário de 2006 demonstra o tamanho da carência que existe no setor rural para esse tipo de serviço e motivou o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) a criar o Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural com Meritocracia. A primeira turma de instrutores que vai capacitar os futuros técnicos de campo e multiplicar a metodologia de assistência técnica e extensão rural da entidade começou a ser capacitada nesta segunda-feira (2/6) no curso de “Gestão Técnica e Econômica de Propriedades Rurais, com ênfase em Projetos de ATER”.

A abertura do treinamento, que acontece em um hotel-fazenda no município de Alexânia (GO), contou com a presença do secretário executivo do SENAR, Daniel Carrara. Ele destacou que do total de estabelecimentos rurais existentes no Brasil, apenas 300 mil são responsáveis por, aproximadamente, 80% das divisas do setor. Segundo Carrara, dois milhões de propriedades das classes C, D e E têm condições de participar do processo produtivo, mas para isso precisam de orientação técnica e de qualificação.

“Oferecer assistência técnica é um sonho antigo da entidade. Temos que continuar fazendo tudo que já fizemos nesses 22 anos, mas também investir na formação dos jovens para que eles permaneçam na atividade. O segredo é sucessão. Não tem outra forma de ajudar esses dois milhões a se aproximarem dos 300 mil. Vocês estão sendo formados, num primeiro momento, para serem instrutores de Pronatec Assistência Técnica e depois, para atuarem na formação de técnicos a distância”, afirmou Carrara aos instrutores.

O curso se estenderá até o dia 14 de junho e tem 96 horas de duração. Durante as aulas presenciais serão trabalhados dois módulos – um metodológico (24 horas), onde será repassada a metodologia de assistência técnica do Programa do SENAR e outro gerencial (72 horas), no qual serão ensinados métodos de avaliação econômica das propriedades. Os outros módulos que fazem parte do curso – Tecnológico (160 horas) e Software (24 horas) – serão oferecidos nas cadeias específicas da cada instrutor no formato de Educação a Distância (EaD), totalizando uma carga horária de 280 horas. Os facilitadores do conteúdo são de uma empresa que tem mais de 15 anos de experiência em programas de assistência técnica e gerencial no Brasil, ligada à Universidade Federal de Viçosa (MG).

Os 55 participantes da capacitação foram indicados pelas administrações regionais do SENAR dos nove estados da região Nordeste. Após a conclusão do treinamento, os instrutores retornarão para as suas regionais onde vão ministrar o curso de Assistente de Planejamento e Controle de Produção, através do Pronatec, para os agentes de ATER dos seus Estados. A meta é formar 250 instrutores e 10 mil técnicos de campo até 2015.

O primeiro dia de atividades também contou com uma apresentação da Metodologia de ATER do SENAR e da programação do curso, feita pelo coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural do SENAR, Matheus Ferreira Pinto da Silva. A coordenadora de Capacitação em Assistência Técnica do SENAR, Janete Lacerda de Almeida, a coordenadora-geral do Pronatec do SENAR, Janei Cristina Resende, e a coordenadora de Campo do Pronatec do SENAR, Lourdes Hennemann, ministrarão palestras no decorrer do evento.

“É uma experiência nova para o SENAR e representa um desafio muito grande, pois serão os primeiros multiplicadores dessas tecnologias. Está começando pela região Nordeste, mas temos como meta difundir essa metodologia para todo o País. Os técnicos que aqui estão serão as sementes que irão multiplicar isso nos Estados de origem. Vamos formar os técnicos, selecionar os produtores e começar a aplicar o programa em breve”, conta o coordenador do programa.

Iniciativa é inovadora

Para o médico veterinário e instrutor de Formação Profissional Rural (FPR) e de Pronatec do SENAR/AL, Alessandro Vinícius de Souza Andrade, depois que a Emater e a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) deixaram de atender os produtores, nos anos 90, o setor começou a sofrer as consequências da falta de assistência técnica. Outro problema que prejudicou algumas ações que vieram posteriormente foi a falta de continuidade, o que provocou a descrença de grande parte dos produtores nesse tipo de serviço.

“Muitos programas começavam, mas não tinham meio nem fim. Geralmente leva um ou dois anos para o técnico ganhar a confiança do produtor e muitas vezes isso era rompido, pois o profissional era bolsista. A proposta do SENAR é ser um programa continuado e com uma metodologia diferenciada, pois o técnico vai trabalhar com grupos de produtores e eles terão que se comprometer também. Assistência técnica é fundamental para o produtor. A demanda é muito grande e em todos lugares. Hoje, a única informação que muitos produtores têm é no domingo, assistindo o Globo Rural”, alerta.

A participante do curso Carolina Barroso Machado é coordenadora do Programa Produção de Leite de Qualidade do SENAR no Ceará e já foi consultora de um projeto semelhante de assistência técnica e gerenciamento técnico e econômico em propriedades rurais. Ela acredita que a ATER do SENAR vai permitir que o produtor consiga administrar a sua atividade como um negócio, de uma forma financeiramente viável e lucrativa, mas para isso será preciso superar a resistência inicial que muitas vezes ocorre em relação ao serviço.

“Essa parte de gerenciamento precisa ser trabalhada todos os dias. O produtor precisa ver o que está ganhando e o que está perdendo, mas ele não está acostumado com isso. Muitas vezes recebeu assistência técnica uma vez na vida e não dá resultado. Mas quando você mostra para o produtor que é um negócio, ele passa a se envolver. E o SENAR é o agente perfeito para fazer isso, pois o produtor acredita no SENAR. É diferente de outras consultorias”, destaca.

Programa do SENAR

O Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural com Meritocracia foi criado pelo sistema CNA/SENAR buscando sanar a lacuna existente no Brasil nessa área.

Em virtude da sua capilaridade, a estrutura nacional do SENAR será capaz de abranger todos os municípios brasileiros, de forma a promover a formação profissional das pessoas que vivem e/ou trabalham no campo, além de proporcionar acesso pelos produtores rurais a um modelo de assistência técnica associado à consultoria gerencial, permitindo mudanças efetivas no ambiente das empresas rurais. O objetivo é formar 10 mil técnicos de nível médio para atuarem em programas de Assistência Técnica e Extensão Rural no Brasil.

As cadeias produtivas trabalhadas inicialmente serão: Pecuária de leite, Pecuária de Corte, Heveicultura, Horticultura, Ovinocaprinocultura, Suinocultura, Piscicultura, Apicultura, ILPF, Fruticultura e Agricultura Orgânica.