Publicado em: 25/03/2014 às 15:00hs
O evento foi promovido pela Rede de Fomento à iLPF, formada pela Embrapa, John Deere, Cocamar (Cooperativa Agroindustrial do Paraná) e Syngenta, com patrocínio da Caixa e apoio da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Entre as autoridades participaram do evento, o Ministro da Agricultura (no período de 1974 a 1979), Alysson Paolinelli, o diretor-presidente da Embrapa, Maurício Lopes, o vice-presidente de negócios emergentes da Caixa, Fábio Lenza, e a prefeita de Ipameri, Daniela Carneiro. Também estiveram presentes, os chefes-gerais da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres, e da Embrapa Arroz e Feijão, Flavio Breseghello, além dos representantes do Ministério da Agricultura, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Banco do Brasil, da Associação Brasileira de Agronegócios e do Sindicato Rural de Ipameri.
A proprietária da Fazenda Santa Brígida Marize Porto Costa falou da sua experiência a partir de 2006 na implantação da iLPF e da complexidade do sistema. “Ninguém ganha jogo sozinho. Isso aqui é resultado do esforço de um time. O sistema leva a um ganho econômico, mas com certo grau de dificuldades. A exploração é tripla – lavoura, pecuária e floresta, e por isso a gestão é mais complexa”, declarou.
Na opinião do diretor-presidente da Embrapa, a Fazenda Santa Brígida é uma vitrine do caminho a ser seguido pela futura agricultura. Essa nova agricultura, como frisou Maurício Lopes, será cada vez mais complexa e baseada no uso inteligente dos recursos naturais. “Vamos ter que enfrentar o desafio da complexidade e construir relacionamentos como esse da Rede de Fomento, entre instituições públicas e privadas”, disse ao considerar que o País está preparado para o que chamou da segunda revolução da agricultura brasileira.
O presidente da Assembleia da Rede de Fomento à iLPF e da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, e o diretor-presidente da Embrapa entregaram uma placa em homenagem ao ministro Alysson Paolinelli pelo seu empenho no desenvolvimento da agropecuária brasileira. Em seu agradecimento, Paolinelli estimulou os jovens a concretizarem seus sonhos e contribuírem para tornar a agricultura brasileira cada vez mais competitiva.
Estações técnicas- Na primeira estação do Dia de Campo, o consultor Roberto Freitas apresentou os índices de produtividade da Fazenda Santa Brígida. Na safra 2006/2007, a produção de milho foi de 80 sacas por hectare e de 40 sacas de soja por hectare. Na safra 2011/2012, a produtividade subiu para 180 sacas de milho por hectare e 50 sacas de soja por hectare.
A produtividade de carne passou de duas arrobas para 16 arrobas por hectare e a idade de abate, que até 2006 era acima de quatro anos, passou a ser, em média, de três anos. Outro avanço foi o teor de matéria orgânica do solo, que passou de 1,8 % para 2,8%, o que equivale à fixação de mais de 11 toneladas de carbono orgânico por hectare nos primeiros 20 centímetros do perfil do solo.Os sistemas adotados na Fazenda Santa Brígida foram comentados pelos pesquisadores da Embrapa Cerrados, João Kluthcouski e Luiz Adriano Cordeiro. Eles mostraram as diferentes formas de consórcio entre soja e/ou milho com braquiária, como também entre sorgo e braquiária, girassol e braquiária. Entre os novos sistemas estão o sistema Santa Brígida, composto pelo consórcio entre milho, braquiária e guandu-anão; o sistema Vacaria para recuperação de pastagem degradada e manutenção produtiva; e o sistema Santa Ana em que é formado um banco de semente de braquiária.
O componente arbóreo foi abordado pelo consultor Wanderley Oliveira, que o comparou com uma “poupança verde” dentro da propriedade. Além das vantagens como conforto animal e reciclagem de nutrientes, a floresta é uma renda extra ao produtor. Oliveira ressaltou que o eucalipto só vem a agregar, desde que se pense na finalidade em função do mercado da região da propriedade. Na Fazenda Santa Brígida, a expansão do componente florestal tem sido progressiva. No início foi plantada uma área de quatro hectares, na safra 2010/2011 já eram mais de dez hectares e atualmente são contabilizadas mais de 51 mil árvores de eucalipto na fazenda.
A integração Lavoura-Pecuária (iLP) permite pasto verde em período de seca e a formação do “boi safrinha”. O consultor William Marchió explicou que em função do resíduo de adubo no solo utilizado no período da lavoura, o pasto no período de seca se torna tão bom quanto o pasto de verão. Além desse benefício, o custo de produção de arroba é menor. Na pecuária tradicional, o custo de produção da arroba é estimado em R$ 73,00, enquanto que no sistema iLPF é de R$ 37,50.
De acordo com o pesquisador Lourival Vilela, da Embrapa Cerrados, o “boi safrinha” é uma alternativa que está em expansão pela simplicidade do sistema. Ele citou o exemplo da Fazenda Triunfo, em Formosa do Rio Preto (BA), em que na área de 200 hectares foi feito inicialmente consórcio de milho e braquiária e depois pasto, nos meses de seca (junho a setembro). O resultado foi um rebanho de dois mil bois. “O produtor pode ter os animais para fazer cria ou recria, vai depender de cada região. Cada fazenda é um desafio”, afirmou.
Reunião técnica incentiva ensino em iLPF
Despertar o interesse da academia pelos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) e discutir a possibilidade da incorporação do tema na grade curricular do curso de graduação foram os principais objetivos da Reunião Técnica, realizada, em Caldas Novas (GO), no dia 19 de março. O encontro organizado pela Rede de Fomento à iLPF, formada pela Embrapa, John Deere, Cocamar (Cooperativa Agroindustrial do Paraná) e Syngenta, reuniu professores, coordenadores de cursos e diretores de diversas instituições de ensino.
O presidente da Assembleia da Rede de Fomento e presidente da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, destacou a importância do sistema de ensino ingressar no programa iLPF. “Os nossos desafios não são mais agronômicos, mas de quebra de paradigma. E o melhor lugar para quebrar paradigmas é a Universidade. É lá que estão os jovens, de cabeça aberta, sem preconceito”, frisou.
A expansão da iLPF no Brasil e os principais resultados com adoção da tecnologia foram apresentados pelo pesquisador da Embrapa Cerrados, João Kluthcouski. A iLPF, como destacou o pesquisador, é uma tecnologia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado.
João Kluthcouski ressaltou que o componente florestal não é obrigatório no sistema. “Não existe uma regra a ser seguida. Cada produtor implanta a melhor modalidade em sua propriedade. Nem todos vão colocar floresta. Esse componente é para alguns nichos”, afirmou.
O professor da Unesp - Botucatu, Carlos Crusciol, apresentou o levantamento do tema ilPF em periódicos nacionais e internacionais, os grupos de pesquisa nesta área, os projetos temáticos e as demandas por pesquisa no sistema ILP (integração lavoura-pecuária).
Ensino- Durante a Reunião, foi realizado um fórum para avaliar a possibilidade da iLPF se tornar disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação. A proposta é de formar um grupo que deverá definir o conteúdo da disciplina e visitar várias unidades de ensino para sensibilizar o corpo docente.
De acordo com levantamento apresentado pelo diretor da Faculdade de Tecnologia (Fatec-Indaiatuba), Luiz Daniel, a disciplina sobre iLPF pode ser oferecida em sete áreas de graduação (Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal, Zootecnia, Administração Agrícola, Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental e Tecnológico). “A graduação é o grande meio para o fomento desta tecnologia. É uma oportunidade dos alunos terem uma visão sobre o tema”, afirmou.
Atualmente, disciplinas de iLPF fazem parte da grade curricular em programas de pós-graduação na Universidade Federal do Paraná, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade de Passo Fundo, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Estadual de Goiás, Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste) e Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). O único curso de pós-graduação em iLPF (lato sensu) é ministrado pela Unoeste e está em processo de avaliação a proposta da criação do curso (stricto sensu) em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, pela Unesp, Unoeste e Fatec- Capão Bonito.
A experiência em ensino sobre iLPF foi apresentada pelo professor Edemar Moro, da Unoeste. Ele contou como ocorreu a inserção da disciplina na graduação até a formação do curso de pós-graduação. De acordo com o professor, foram essenciais as ações (expedição, dia de campo, treinamento e visitas) realizadas anteriormente à criação do curso. “Foi um processo de construção até chegarmos ao curso, que só aconteceu após nossa aproximação com a Rede de Fomento”, declarou Moro.
Experiência- No encerramento do evento, o Ministro da Agricultura, no período de 1974 a 1979, Alysson Paolinelli, relatou sua experiência na adoção da iLP. Há 14 anos, ele adota o sistema em sua fazenda em Minas Gerais. “Vi as vantagens da tecnologia e iniciei o sistema. Na época que o Brasil estava preparando o documento para a COP 15, fui chamado para apresentar algumas sugestões, o que deu origem ao Plano ABC. Fui o segundo beneficiado com o financiamento do ABC”, disse.
Para a ampliação da iLPF, Paolinelli acredita que ainda serão necessários alguns ajustes nas linhas de crédito e evolução na tecnologia, que deverá incluir outras formas de integração, como por exemplo, pastagem com leguminosa. “A iLPF é altamente benéfica para a produção e sustentabilidade. É uma tecnologia muito mais segura em comparação as que foram usadas para desbravar o Cerrado na década de 70. Mudança não se processa por acaso. Não foi fácil levar o produtor a investir no Cerrado, que cada vez dá mais certo”.
Fonte: Embrapa Cerrados
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