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Caravana Embrapa leva informações a técnicos do Paraná

Em mais uma jornada da Caravana Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias, uma equipe de pesquisadores e especialistas visitou Pato Branco e Ponta Grossa (PR) nos dias 25 e 26 de fevereiro


Publicado em: 06/03/2014 às 14:20hs

Caravana Embrapa leva informações a técnicos do Paraná

O Paraná é um dos 17 Estados do roteiro da Caravana, que está levando orientações a extensionistas, técnicos de cooperativas e demais multiplicadores sobre as principais ameaças fitossanitárias à agricultura brasileira e as estratégias de controle das principais pragas que têm causado importantes prejuízos aos agricultores, como a Helicoverpa armigera.

Em Pato Branco, mais de 120 pessoas acompanharam as apresentações dos pesquisadores Samuel Roggia e Daniel Sosa-Gomez (Embrapa Soja - Londrina, PR) e Paulo Roberto Pereira (Embrapa Trigo - Passo Fundo, RS), do analista Luiz Guilherme Wadt (Embrapa Meio Ambiente - Jaguariúna, SP) e do coordenador da Caravana, Sérgio Abud (Embrapa Cerrados - Planaltina, DF). Em Ponta Grossa, participaram cerca de 50 técnicos. Também integraram a equipe da Caravana o representante do Departamento de Transferência de Tecnologia, Dejoel Lima, e o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Alexandre Cattelan.

Como nas outras viagens pelo País, o principal ponto destacado foi o Manejo Integrado de Pragas (MIP), prática que reúne diversas técnicas possíveis de controle, buscando manter a população de pragas abaixo do nível de dano econômico nas lavouras. A equipe também repassou informações técnicas sistematizadas sobre a identidade das ameaças fitossanitárias, os riscos associados e as estratégias para o manejo e a recomposição do equilíbrio agroecológico, com o objetivo de ampliar as bases de sustentação para o controle de pragas.

Sérgio Abud falou sobre as ameaças fitossanitárias à agricultura no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária, existem mais 150 pragas com possibilidade de chegar ao País, sendo que 10 têm chances reais de atacarem as lavouras nacionais, como o pulgão da soja e a mosca branca “raça Q”. Os ambientes em desequilíbrio facilitam o estabelecimento de espécies exóticas invasoras.

O coordenador da Caravana destacou a necessidade de se pensar no complexo de pragas do sistema produtivo como um todo, e não em apenas uma única praga, cultura ou fazenda, e que o MIP deve ser feito de forma regional. “Basta que uma propriedade faça o manejo inadequado para criar uma possível porta de entrada para essas pragas”, alertou. Ele também falou sobre a importância econômica do ataque da H. armigera, bem como o processo de identificação da praga no Brasil, realizada pela Embrapa, e a bioecologia da espécie.

MIP

Samuel Roggia abordou as táticas de manejo que compõem o MIP, como o uso de pano de batida para contagem de lagartas em lavouras de soja em feijão, a vistoria dos ponteiros, das flores e das vagens, a inspeção de plantas em outras culturas para monitoramento da população, a observância dos níveis de controle de cada praga, o uso racional dos produtos químicos para preservação da eficácia das moléculas e as estratégias de controle cultural e controle biológico. “Não vai ser só o manejo cultural, o controle biológico ou o químico sozinhos que vão resolver, e sim a integração das diferentes táticas. Precisamos compreendê-las para usá-las de forma adequada”, destacou.

Tecnologia de aplicação foi o tema apresentado por Luiz Guilherme Wadt. Ele ressaltou a necessidade de verificação das condições de uso dos equipamentos, mesmo quando novos. Além disso, a aplicação de qualquer defensivo químico ou biológico deve considerar fatores como a identificação e o monitoramento das pragas, o momento correto da aplicação, o uso do produto e do equipamento adequados, bem como o meio ambiente e as condições climáticas. Para a correta calibração do pulverizador, os passos são a identificação do alvo biológico e o teste do grau de deposição de gotas com papel hidrossensível. “A solução para uma aplicação bem feita é a calibração, é depositar o produto efetivamente no alvo. Isso só é possível por meio do teste”, explicou.

Paulo Pereira falou sobre o manejo das proteínas Bt e controle químico. O pesquisador enfatizou a importância do plantio de áreas de refúgio próximo às lavouras Bt para manutenção da eficácia dos eventos nas plantas. O refúgio busca manter uma população de insetos-praga suscetíveis para que eles possam se acasalar com eventuais indivíduos resistentes aos eventos Bt.

Sobre o controle químico, Pereira lembrou que este é apenas um dos pilares do MIP. Tanto para a H. armigera como para os demais insetos-praga em soja e outras culturas, é importante obedecer aos critérios de monitoramento e os níveis de controle. Não se deve fazer aplicações com base em calendários e a primeira pulverização deve ser retardada ao máximo, observando os critérios de população dos insetos-praga. Além disso, recomenda-se o uso de inseticidas seletivos, principalmente nos estágios iniciais da cultura, trabalhando com tamanhos pequenos de lagartas e a rotação dos produtos. “No caso da H. armigera, há produtos que foram liberados pelo Ministério da Agricultura em caráter emergencial, mas ainda estamos obtendo informações sobre a eficácia desses princípios ativos. Os testes estão sendo feitos, mas os resultados ainda são prematuros para fazermos recomendações”, explicou.

Ao falar sobre controle biológico, o pesquisador Daniel Sosa-Gomez apresentou exemplos de inimigos naturais das pragas na cultura da soja, como o besouro calossoma, que é um predador de lagartas, parasitoides de ovos de lagartas (como as vespinhas Trichogramma spp.) e de larvas, e entomopatógenos - vírus (como o baculovírus), fungos, nematoides e bactérias (como o Bacillus thuringiensis). Segundo Sosa-Gómez, alguns inimigos naturais de pragas exóticas introduzidas há pouco tempo no País estão se adaptando a elas, chegando a parasitá-las. Ele destacou que a seletividade dos produtos é, portanto, muito importante para um bom manejo. “Os inimigos naturais podem ser preservados com o uso de inseticidas seletivos. Quanto mais seletivo for o inseticida, mais compatível ele é com a filosofia do MIP”, disse.

Após as palestras da Embrapa, Sérgio Abud chamou a atenção para a necessidade do trabalho cooperativo para o enfrentamento da H. armigera e das demais pragas. “A Embrapa é apenas um dos atores. As instituições de ensino e pesquisa, as empresas de produtos biológicos e químicos, os extensionistas, os consultores, as cooperativas, as associações e os demais envolvidos na cadeia produtiva também devem fazer parte. Esse trabalho cooperativo é que vai garantir a sustentabilidade do agronegócio, um ambiente mais adequado e a segurança alimentar nacional”.

Situação regional

Técnicos locais foram convidados a fazer uma análise sobre os problemas fitossanitários de suas respectivas regiões de atuação. Em Pato Branco, o professor Edson Silveira, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), falou sobre a situação no Sudoeste paranaense. Segundo Silveira, o poder de destruição da H. armigera assustou os produtores na safra anterior. Na atual safra, outras pragas tiveram aumento de população, como as lagartas falsa-medideira e Heliothis virescens e o percevejo marrom. “Temos que conviver com a lagarta e rever as questões de monitoramento e controle. Nós técnicos precisamos ter uma ação incisiva com os produtores”, afirmou.

Na oportunidade, a fiscal de defesa agropecuária Adriana Volquer, da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), apresentou relato sobre o monitoramento estadual da ocorrência de lagartas do grupo Heliothinae na soja, na safra 2013/2014. As lagartas coletadas estão sendo enviadas para a Embrapa Soja para identificação e diagnóstico.

Em Ponta Grossa, o pesquisador da Fundação ABC, Ednilson do Nascimento apresentou o trabalho de monitoramento de pragas realizado pela instituição em municípios dos Campos Gerais do Paraná e do Sul de São Paulo desde a safra 2012/2013, destacando os níveis de infestação de H. armigera e outras pragas nas culturas de soja, trigo e milho em diferentes fases. Ele destacou que o monitoramento é a principal ferramenta usada para gerar as informações sobre doenças e pragas que dão suporte às recomendações técnicas aos produtores. “Monitoramento é a palavra chave que temos levado. Não basta olhar a lavoura de dentro do carro. Tem que sujar as botinas”, frisou.

Após as apresentações, o público trocou experiências e tirou dúvidas com os palestrantes. Os participantes receberam materiais informativos produzidos pela Embrapa sobre identificação e controle da Helicoverpa armigera e sobre o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Diversos conteúdos podem ser acessados na Internet, no hotsite Alerta Helicoverpa (http://www.embrapa.br/alerta-helicoverpa).

Caravana

Composta por 33 pesquisadores e técnicos divididos por equipes, a Caravana Embrapa de Alerta às Ameaças Fitossanitárias começou suas atividades em dezembro de 2013 com eventos em Goiás, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul. Até o final de março, os especialistas percorrerão todas as regiões produtoras do País, levando informações emergenciais sobre o manejo da Helicoverpa armigera e outras pragas.

As atividades foram retomadas em janeiro. Desde então, as equipes já visitaram Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Santa Catarina, Roraima e Amapá. A Caravana segue ainda para os polos agrícolas de Sergipe (10 a 14/03), Alagoas (10 a 14/03), São Paulo (10 a 14/03), Pará (18 a 21/03), Minas Gerais (24 a 27/03) e Bahia (28 e 29/03).

A Caravana é uma iniciativa da Embrapa e conta com apoio da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em Pato Branco, o evento foi realizado em parceria com a Associação de Engenheiros Agrônomos de Pato Branco (AEAPB). Já em Ponta Grossa, a parceria foi da Associação dos Engenheiros Agrônomos dos Campos Gerais (AEACG).

O roteiro completo pode ser acompanhado no Site da Caravana (http://www.embrapa.br/caravana). No site também é possível baixar os materiais informativos.

Fonte: Embrapa Cerrados

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