Publicado em: 29/12/2025 às 11:20hs
O ano de 2025 foi marcado por forte volatilidade no mercado internacional de café. Enquanto o arábica apresentou valorização na Bolsa de Nova York, o robusta recuou em Londres, refletindo diferentes dinâmicas de oferta e demanda. No mercado físico brasileiro, os produtores atuaram com cautela, dosando a oferta e já voltando as atenções para a safra de 2026.
Segundo Gil Barabach, consultor da Safras & Mercado, o cenário foi influenciado por tarifas comerciais, interrupções logísticas e movimentos bruscos de preço. A menor oferta de arábica, devido à quebra de safra no Brasil, foi o principal fator de sustentação das cotações durante o ano.
No início de 2025, o café arábica registrou forte alta em Nova York, impulsionado pela queda dos estoques certificados e por preocupações com o abastecimento global. Em fevereiro, o contrato futuro chegou a ser negociado próximo de 430 centavos de dólar por libra-peso.
Entretanto, com o avanço da colheita brasileira e o aumento da produção mundial de robusta, as cotações perderam força, recuando para 277 centavos.
Outro fator de pressão veio das tarifas impostas pelo governo Trump, incluindo uma taxa adicional de 40% sobre o café brasileiro. A medida gerou forte impacto no mercado, restringindo as compras do principal consumidor mundial — os Estados Unidos — de seu maior fornecedor global, o Brasil, responsável por mais de 30% das importações norte-americanas.
Essa barreira elevou os preços de outras origens e agravou a escassez, refletindo em nova alta nas bolsas internacionais. A situação se intensificou com a queda dos estoques e o atraso das chuvas no Brasil, o que elevou as cotações para um pico anual de 438 centavos por libra-peso.
A suspensão total das tarifas ocorreu apenas em 20 de novembro, considerada tardia por analistas. Naquele momento, as indústrias norte-americanas já estavam com estoques reduzidos, e o inverno no Hemisfério Norte havia começado, o que limitou os efeitos imediatos da medida.
Ao final de dezembro, o café arábica era negociado em torno de 345 centavos por libra-peso (contrato março/2025), acumulando alta de cerca de 8% no ano — resultado de um período de grandes oscilações entre os extremos de preços.
Enquanto o arábica sustentou valorização, o robusta apresentou desempenho negativo em 2025. O aumento da produção no Vietnã, Brasil e Indonésia ampliou a oferta e pressionou as cotações.
Essa diferença de comportamento entre os dois tipos de café aumentou a arbitragem entre os contratos de Nova York e Londres, levando a indústria global a ajustar seus blends, favorecendo o robusta em mercados emergentes.
No acumulado até 24 de dezembro, o robusta registrou queda de 21,6% em Londres, considerando o segundo contrato futuro.
No Brasil, o mercado físico de café também foi marcado por fortes variações de preço. A oferta restrita de arábica e a postura cautelosa dos produtores ajudaram a sustentar as cotações, embora o câmbio tenha perdido força ao longo do ano.
O dólar, que encerrou 2024 em R$ 6,16, recuou para R$ 5,50 em média em 2025, chegando a operar abaixo de R$ 5,30. Essa valorização do real reduziu a competitividade das exportações e pressionou os preços internos.
O arábica bebida boa, no Sul de Minas, terminou 2024 cotado a R$ 2.240 por saca de 60 kg. Em fevereiro, atingiu o pico de R$ 2.800, impulsionado por temores de oferta. Com a entrada da safra, caiu abaixo de R$ 1.700, uma diferença de mais de R$ 1.100 por saca entre os extremos.
Posteriormente, os preços reagiram para R$ 2.420, influenciados pelas tarifas e pela retração vendedora, encerrando o ano praticamente estáveis, entre R$ 2.230 e R$ 2.340 por saca.
Apesar das oscilações, Barabach considera 2025 um ano positivo para os produtores, que aproveitaram as melhores janelas de comercialização e devem continuar enfrentando volatilidade em 2026, diante da oferta limitada de arábica.
O café conilon seguiu trajetória semelhante no início do ano, subindo de R$ 1.870 em dezembro de 2024 para R$ 2.390 em fevereiro de 2025, impulsionado pelos temores sobre o arábica.
Com a entrada da safra, o preço despencou para R$ 985 por saca, mas voltou a reagir até R$ 2.360 diante da retração vendedora. No entanto, encerrou o ano em R$ 1.210, uma queda de aproximadamente 35% no acumulado anual.
De acordo com Barabach, ainda há estoques significativos de conilon nas mãos dos produtores, e a colheita antecipada em relação ao arábica contribui para essa pressão. Além disso, o café brasileiro perdeu competitividade no exterior, enquanto o mercado doméstico se manteve bem abastecido.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias