Análise de Mercado

Transformação dos Sistemas Agroalimentares Brasileiros Pode Evitar Custos de Até US$ 427 Bilhões Anuais

Estudo da FAO aponta que o Brasil possui um dos maiores custos ocultos globais, destacando a necessidade de mudanças no setor agroalimentar


Publicado em: 12/11/2024 às 11:35hs

Transformação dos Sistemas Agroalimentares Brasileiros Pode Evitar Custos de Até US$ 427 Bilhões Anuais

O relatório Estado da Alimentação e Agricultura 2024 (SOFA), publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), revela que os sistemas agroalimentares globais incidem custos ocultos anuais de cerca de US$ 12 trilhões. Para o Brasil, esses custos são estimados em impressionantes US$ 427 bilhões. O estudo, que abrange 156 países, destaca a importância de reformas profundas no setor para mitigar impactos ambientais, sociais e de saúde, além de promover uma maior sustentabilidade.

O SOFA detalha esses custos através da “contabilidade do custo real” (CCR), que analisa os impactos nos capitais natural, social e humano, ou seja, fatores que não são refletidos diretamente nos preços de mercado. O objetivo do estudo é identificar formas eficazes de reduzir esses custos e, assim, melhorar a tomada de decisões em prol de um modelo agroalimentar mais sustentável, que beneficie tanto as pessoas quanto o planeta.

No Brasil, os custos mais expressivos estão na dimensão ambiental, com quase US$ 294 bilhões decorrentes da emissão de gases de efeito estufa, escoamento de nitrogênio e mudanças no uso da terra. Em termos de saúde, as dietas pouco saudáveis relacionadas a doenças não transmissíveis (DNT), como doenças cardíacas e diabetes, representam cerca de US$ 130 bilhões. Já os custos sociais, incluindo subalimentação e pobreza entre trabalhadores rurais, somam aproximadamente US$ 3 bilhões.

De acordo com a FAO, a transformação dos sistemas agroalimentares deve ser orientada para mudanças nos padrões alimentares, principalmente a redução do consumo de carnes processadas e vermelhas, bem como bebidas adoçadas. Essa mudança pode contribuir significativamente para a redução dos custos ocultos no Brasil, além de beneficiar a saúde pública e o meio ambiente.

Transformação Global e Local: O Papel do Brasil

Os sistemas agroalimentares ao redor do mundo variam conforme seu estágio de desenvolvimento, com impactos diferentes em cada contexto. O Brasil se encontra na categoria “formalizando”, um estágio de transição para o modelo industrial, caracterizado por altos índices de urbanização e um aumento no consumo de alimentos não essenciais. Para países como o Brasil, a mudança para dietas mais equilibradas pode reduzir substancialmente os custos ocultos relacionados à saúde e ao meio ambiente.

O estudo também destaca políticas públicas brasileiras que buscam integrar a redução dos custos ocultos no desenho de suas estratégias. Exemplos como o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) e a Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional para Cidades, que envolvem colaboração entre diferentes ministérios e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), têm se mostrado eficazes. Tais iniciativas contribuem para uma abordagem mais integrada e sustentável na produção e consumo de alimentos.

Além disso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que promove a agricultura familiar e apoia populações em situação de vulnerabilidade, tem gerado resultados positivos. O PAA contribuiu para um aumento de 13,1% no valor da produção dos agricultores familiares, ao mesmo tempo em que tem sido essencial na garantia de alimentação saudável para crianças em situação de insegurança alimentar.

A Necessidade de Ação Coletiva

O relatório da FAO enfatiza que a transformação dos sistemas agroalimentares requer ação coletiva, envolvendo governos, empresas, instituições financeiras, organizações internacionais e consumidores. De acordo com o Diretor-Geral da FAO, Qu Dongyu, “as escolhas que fazemos agora, as prioridades que definimos e as soluções que implementamos determinarão nosso futuro compartilhado”. Ele destaca que mudanças no setor agroalimentar são essenciais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e garantir um futuro mais próspero e saudável para todos.

As recomendações incluem incentivos financeiros e regulatórios para práticas sustentáveis ao longo das cadeias de suprimento de alimentos, políticas para promover dietas mais saudáveis e a redução das emissões de gases de efeito estufa, entre outras. Além disso, é fundamental garantir que as famílias vulneráveis também se beneficiem dessas transformações, promovendo uma alimentação mais acessível e nutricionalmente balanceada.

A transformação dos sistemas agroalimentares, segundo a FAO, também exige um esforço para fortalecer a governança e a sociedade civil, criando um ambiente propício para a inovação e para a adoção de práticas mais sustentáveis, equilibradas e inclusivas.

Fonte: Portal do Agronegócio

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