Análise de Mercado

Tensões entre Estados Unidos e China abrem caminho para protagonismo do agronegócio brasileiro

Escalada tarifária entre as duas maiores potências econômicas fortalece o Brasil como fornecedor estratégico de soja e carnes para o mercado chinês


Publicado em: 08/05/2025 às 16:00hs

Tensões entre Estados Unidos e China abrem caminho para protagonismo do agronegócio brasileiro

Em 2024, o agronegócio brasileiro alcançou US$ 152,63 bilhões em exportações, o equivalente a 48,9% do total das exportações do país — resultado que representa o segundo maior da série histórica. Diante da possível volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, reacendem-se as discussões sobre a guerra comercial entre EUA e China, cenário que pode gerar impactos diretos e positivos para o setor agrícola brasileiro.

Durante seu primeiro mandato, em 2018, Trump impôs tarifas de 25% sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses. Como retaliação, a China adotou tarifas sobre diversos produtos agropecuários norte-americanos, incluindo soja. Em resposta ao recente agravamento das tensões, os EUA anunciaram tarifas extras de até 145% sobre itens chineses, ao passo que a China revidou com tarifas de até 125% sobre commodities agrícolas dos Estados Unidos, como soja, milho e carnes.

Esse movimento forçou a China a buscar novos parceiros comerciais, e o Brasil tem se posicionado como um dos principais beneficiários dessa reconfiguração de mercado. “A intensificação das tarifas entre EUA e China abre espaço para o Brasil ampliar sua participação no mercado chinês, especialmente em commodities como soja e carnes, consolidando-se como fornecedor estratégico em meio às tensões comerciais globais”, afirma Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.

Os dados confirmam essa tendência: ainda em 2018, o Brasil elevou suas exportações de soja para a China em 35%, atingindo um volume recorde de 83 milhões de toneladas. A participação chinesa nas importações de soja brasileira saltou de 46% em 2016 para 76% em 2024. Para os próximos meses, a expectativa é de que a China importe mais de 30 milhões de toneladas de soja brasileira entre abril e junho de 2025 — um recorde trimestral.

“A substituição da soja americana pela brasileira reforça a posição estratégica do Brasil no comércio global de commodities. A crescente demanda chinesa por nossos produtos agrícolas é uma oportunidade para consolidarmos nossa liderança no setor”, complementa Vasconcellos.

Além da soja, o Brasil também se destacou nas exportações de carne bovina em 2024, com o envio de 2,89 milhões de toneladas ao exterior, resultando em uma receita de US$ 12,8 bilhões. A China foi responsável por cerca de US$ 6 bilhões desse montante, consolidando-se como principal destino das exportações brasileiras do setor.

A continuidade da disputa entre Estados Unidos e China tende a ampliar as oportunidades para o Brasil, que pode transformar os riscos geopolíticos em vantagens estratégicas no comércio internacional. “É essencial que o Brasil amplie sua base de parceiros comerciais. O acordo entre União Europeia e Mercosul é um passo importante, mas o trabalho deve continuar, especialmente com mercados emergentes como a Índia, que têm demonstrado grande potencial de crescimento”, avalia Vasconcellos.

Ainda assim, o cenário não está isento de desafios. A desaceleração da economia chinesa, somada à queda nos preços de commodities como o minério de ferro, pode trazer pressões de curto prazo. No entanto, com uma diplomacia comercial bem estruturada, o agronegócio brasileiro tem condições de diversificar mercados e mitigar impactos negativos, fortalecendo sua posição como um dos protagonistas globais do setor.

Fonte: Portal do Agronegócio

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