Publicado em: 28/07/2025 às 10:00hs
O agronegócio brasileiro, um dos pilares da economia nacional, está diante de um momento-chave: a sucessão patrimonial. Com uma estimativa de US$ 9 trilhões em ativos rurais a serem transferidos até 2040, o país ocupa papel de destaque em um movimento global que deve transformar a estrutura fundiária.
Segundo Marcos Camilo, CEO da Pulse Capital, a sucessão deixou de ser uma possibilidade futura e passou a ser uma necessidade atual e estrutural para garantir a continuidade do setor. “Discutir sucessão no campo já não é uma opção, é uma exigência para a sobrevivência do agronegócio”, afirma.
Um estudo da Cerulli Associates estima que cerca de US$ 84,4 trilhões em ativos serão transferidos globalmente até 2045. O Brasil responde por mais de 10% desse volume, com boa parte ligada ao agronegócio, incluindo terras, maquinários e propriedades familiares com décadas de história.
Sem planejamento sucessório adequado, há risco de descontinuidade produtiva e de venda forçada de terras para pagamento de tributos, o que pode intensificar a reorganização fundiária e alterar o perfil dos proprietários rurais no país.
O Sebrae aponta que 90% das empresas brasileiras são familiares, mas apenas 30% sobrevivem à segunda geração. No meio rural, a situação se agrava por fatores como:
“Planejar a sucessão não é exclusividade das grandes fortunas. É essencial para quem quer proteger seu legado e evitar conflitos familiares no futuro”, ressalta Camilo.
A sucessão envolve questões tributárias complexas, como ITCMD progressivo, ganhos de capital e, em alguns casos, a necessidade de liquidação de ativos. A Reforma Tributária (EC 132/2023), ao permitir alíquotas progressivas e centralizar competências, torna o timing do planejamento ainda mais relevante.
Ferramentas jurídicas ajudam a preservar e profissionalizar a gestão
Entre as soluções jurídicas recomendadas estão:
Essas estratégias permitem evitar a fragmentação da propriedade, profissionalizar a gestão e garantir a continuidade do negócio rural.
“A ausência de planejamento abre espaço para disputas familiares e desorganização completa do patrimônio”, alerta Camilo.
Outro desafio da sucessão rural é o conflito de visões entre gerações. Enquanto os mais velhos valorizam o modelo tradicional, baseado no "olho do dono", os herdeiros mais jovens defendem o uso de tecnologia, dados e inteligência artificial na gestão das lavouras.
A integração entre essas visões exige:
Esses valores são fundamentais para um processo sucessório bem-sucedido e sustentável.
A sucessão no campo deve gerar um novo ciclo no mercado de terras no Brasil. A venda de propriedades por herdeiros desinteressados ou para arcar com impostos pode causar uma oferta adicional de terras, impactando os preços e a estrutura fundiária.
Segundo Geórgia Oliveira, CEO da plataforma Chãozão, muitas vendas futuras não serão decisões estratégicas, mas sim saídas obrigatórias. “Isso tende a conter ou até reduzir preços em regiões de baixa liquidez”, destaca.
Por outro lado, áreas com boa infraestrutura, acesso a crédito e logística continuarão valorizadas. Fundos de investimento, empresas estrangeiras e grupos agroindustriais monitoram o mercado para adquirir propriedades produtivas com preços atrativos.
A entrada de investidores com governança estruturada e visão de longo prazo tende a elevar o padrão de gestão e a modernizar as propriedades, favorecendo a valorização de ativos bem organizados.
“Se por um lado veremos liquidação de terras por falta de planejamento, por outro, imóveis com sucessão resolvida e gestão profissional receberão prêmio de mercado”, acrescenta Geórgia.
O impacto da sucessão sobre o preço das terras será heterogêneo. Áreas com:
tendem a se valorizar. Já propriedades em regiões com baixa liquidez, ausência de governança ou disputas familiares correm o risco de sofrer depreciação patrimonial.
O agronegócio brasileiro vive um ponto de inflexão. Adiar o debate sobre sucessão patrimonial não é cautela — é risco. Para especialistas, famílias que enxergarem esse momento como uma oportunidade terão mais chances de preservar seu patrimônio, fortalecer vínculos e perpetuar seus valores no campo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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