Análise de Mercado

Soja em 2025: geopolítica global e guerra comercial moldam preços apesar de safra recorde

Produção mundial de soja atinge níveis históricos


Publicado em: 29/12/2025 às 10:10hs

Soja em 2025: geopolítica global e guerra comercial moldam preços apesar de safra recorde

O ano de 2025 foi marcado por contrastes no mercado global de soja. Apesar de uma oferta abundante e recordes de produção, a geopolítica internacional exerceu forte influência sobre os preços e o comércio mundial do grão.

De acordo com a consultoria Safras & Mercado, o cenário produtivo foi amplamente positivo nos principais países produtores.

Nos Estados Unidos, a safra 2024/25 foi considerada regular, com volume próximo a 119 milhões de toneladas. Já o Brasil registrou uma colheita histórica, encerrando a temporada com 171,8 milhões de toneladas, impulsionada por altos índices de produtividade em grande parte das regiões produtoras.

Entretanto, o Rio Grande do Sul enfrentou uma quebra expressiva de cerca de 40% no potencial produtivo, em razão de uma seca severa e temperaturas elevadas. Segundo o analista Rafael Silveira, da Safras & Mercado, “sem esse evento climático, o Brasil poderia ter atingido cerca de 180 milhões de toneladas”.

Mesmo com as perdas regionais, o país consolidou a maior safra de soja da história. Na Argentina, a produção foi estimada em 50,5 milhões de toneladas, considerada robusta e consistente. O desempenho sul-americano exerceu, assim, forte pressão de oferta no mercado global.

Preços sustentados pela guerra comercial entre EUA e China

Apesar do aumento da oferta, os preços da soja no Brasil se mantiveram firmes ao longo de 2025.

Inicialmente, atrasos na colheita e entraves logísticos limitaram a disponibilidade do grão no mercado interno. Na sequência, o principal fator de sustentação foi a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que se intensificou durante todo o ano.

As tarifas impostas entre os dois países redirecionaram o fluxo global de comércio. A China, que já vinha reduzindo suas compras dos EUA, praticamente suspendeu as aquisições de soja norte-americana em maio de 2025, ampliando suas compras no Brasil — que se consolidou como principal fornecedor do grão ao mercado chinês.

Exportações brasileiras em ritmo acelerado

Com a demanda chinesa aquecida, a comercialização da soja brasileira foi amplamente favorecida. As exportações cresceram de forma expressiva, sustentando os prêmios de exportação, que permaneceram elevados durante o primeiro semestre e dispararam a partir de maio.

Os preços internos também se mantiveram firmes, tanto para exportadores quanto para a indústria doméstica, que operou com margens reduzidas devido à alta do grão e à queda nos preços do farelo de soja negociado em bolsa.

De acordo com Silveira, “em vários momentos, os preços no mercado físico superaram a paridade de exportação, contrariando as expectativas iniciais do ano”.

Assim, 2025 ficou marcado por alta oferta, mas preços sustentados.

Chicago mantém estabilidade e reduz área plantada nos EUA

Na Bolsa de Chicago (CBOT), o movimento foi distinto. As cotações da soja operaram de forma lateralizada, variando entre US$ 9,50 e US$ 11,50 por bushel. A principal razão foi a queda da demanda chinesa pela soja norte-americana, o que levou a uma redução da área plantada nos Estados Unidos e à migração de parte das lavouras para o milho na safra 2025/26.

China amplia compras do Brasil e acorda volumes com os EUA

As exportações brasileiras de soja devem fechar 2025 entre 108 e 109 milhões de toneladas, estabelecendo novo recorde histórico.

Desse total, a China deve importar 83 a 84 milhões de toneladas, contra cerca de 72,5 milhões registradas em 2024. O país asiático absorveu praticamente toda a janela de exportação tradicional dos EUA, especialmente entre outubro e novembro.

Contudo, no final de outubro, China e Estados Unidos firmaram novos acordos comerciais, prevendo a compra de 12 milhões de toneladas até dezembro e um compromisso adicional de 25 milhões de toneladas anuais pelos próximos três anos.

Apesar da relevância política, Silveira pondera que “esses volumes estão dentro da média histórica de comércio entre os dois países”.

Perspectivas para 2026: maior produção e riscos de preços

Caso os acordos se concretizem, o Brasil poderá enfrentar redução na demanda externa em 2026, o que pode impactar diretamente os preços internos.

A expectativa atual é de uma produção nacional de cerca de 178,7 milhões de toneladas, o que ampliaria ainda mais a oferta.

Segundo o analista da Safras & Mercado, “com a possível recomposição do comércio entre EUA e China e uma safra ainda maior, o produtor brasileiro precisará adotar estratégias de hedge mais ativas e maior disciplina comercial para mitigar os riscos de queda nas cotações”.

Fonte: Portal do Agronegócio

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