Análise de Mercado

Rússia restringe exportações de gasolina; entenda os impactos no complexo energético

Devido aos preços mais altos da gasolina, as autoridades do país procuram priorizar o mercado interno. Nesse sentido, menos de um ano após a última intervenção, o Kremlin agiu mais uma vez para estabilizar os preços do país, impondo a proibição das exportações de gasolina


Publicado em: 08/03/2024 às 11:20hs

Rússia restringe exportações de gasolina; entenda os impactos no complexo energético

Normalmente, o consumo de gasolina no país aumenta durante os meses de primavera, atingindo o pico no verão. Contudo, devido às sanções ocidentais contra o país, o turismo doméstico tem estado mais ativo, o que pressiona a demanda por gasolina.

O impacto dessa medida no complexo energético deve ser limitado, pois o país não exporta grandes volumes de gasolina e, apesar de ter sido estabelecida para 6 meses, pode durar muito menos.

No entanto, essa medida pode estar associada aos recentes ataques à infraestrutura energética do país, o que aumenta a incerteza se medidas semelhantes serão tomadas para o diesel, um produto de maior relevância no mercado internacional quando se trata das exportações da Rússia.

Quando se trata da Rússia, não é necessário fazer uma introdução para destacar sua importância no fornecimento energético mundial. O país é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, ficando atrás apenas da Arábia Saudita. Além disso, a Rússia mantém sua posição como o maior detentor de reservas comprovadas de gás e continua sendo o segundo maior exportador bruto de gás do mundo, depois dos EUA.

“No entanto, o país enfrenta seus desafios em relação ao complexo energético. A partir de 1º de março, a Rússia implementará uma proibição de seis meses nas exportações de gasolina, em uma tentativa de reduzir os preços para motoristas e agricultores, medida tomada um pouco antes da eleição presidencial que ocorrerá 15-17 de março. Menos de um ano após a última intervenção, o Kremlin agiu mais uma vez para estabilizar os preços domésticos. Em 2023, a Rússia proibiu a exportação de produtos refinados, como gasolina e diesel, de setembro a novembro. Apesar das discussões em andamento no mercado sobre as consequências dessa medida, o impacto desta vez será consideravelmente menor, mas alguns riscos estão se formando no entorno da infraestrutura russa”, observa Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint.

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As exportações russas de gasolina têm menos peso no balanço energético em comparação com o diesel

As flutuações no mercado de petróleo e seus derivados inevitavelmente levam à volatilidade, especialmente quando afetam a oferta global. Nesse sentido, a Rússia ocupa uma posição importante nas exportações de diesel, mas o mesmo não pode ser dito da gasolina, que constitui apenas uma pequena parte dos produtos refinados exportados do país. 

“Um exemplo disso é que, em 2023, o país exportou mais de 35 milhões de toneladas métricas de diesel, quase três quartos transportados por meio de dutos, enquanto a gasolina foi responsável por apenas 5,5 milhões de toneladas métricas”, pontua Victor.

Atualmente, o país está produzindo cerca de 905.000 toneladas métricas, um aumento de +4,38% em comparação com o mesmo período do ano passado e mais de +10% em comparação com a média dos últimos cinco anos. A maior parte da produção é destinada à exportação; em fevereiro, o país registrou 640.000 toneladas, cerca de 71% do total disponível no país. 

“No entanto, se a produção aumentou na Rússia, por que as autoridades estão preocupadas em garantir o abastecimento local? Bom, acontece que a estrutura energética do país está sob ataque, resultado da guerra do país contra a Ucrânia. Drones ucranianos realizaram uma série de ataques a refinarias russas, com o objetivo de pressionar a capacidade do país de atender à demanda interna e reduzir as receitas geradas pelas exportações de produtos refinados, especialmente o diesel”, destaca.

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A infraestrutura de energia do país está sob pressão

Recentemente, um incêndio, supostamente resultante de um ataque de drones, forçou a Novatek a suspender as operações no terminal de combustível de Ust-Luga, no Mar Báltico. Espera-se que isso resulte em uma redução de cerca de 125.000 barris por dia na exportação de nafta, aproximadamente um terço do total exportado pelo país. 

Como se isso não bastasse, outro incidente levou à suspensão de uma unidade de processamento na refinaria Norsi, a quarta maior do país, perto de Nijini Novgorod. As estimativas sugerem que serão necessárias de 4 a 6 semanas para resolver o problema técnico.

“Por que os danos à capacidade do país de produzir e exportar combustíveis líquidos são preocupantes? A Rússia, juntamente com a OPEP, tem se esforçado para restringir o fornecimento de petróleo, com o país se comprometendo a reduzir as exportações marítimas de petróleo bruto e combustíveis líquidos em 500.000 barris por dia (bpd). Se o país exportar menos combustíveis líquidos, isso poderá resultar em maiores exportações de petróleo, já que o Kremlin pode tentar compensar a perda de receita de produtos refinados com as exportações de petróleo”, explica ao analista.

E conclui: “Entretanto, no caso da gasolina, um produto de menor relevância na matriz energética de exportação do país, não deverá haver mudanças significativas nos volumes de petróleo exportados. Contudo, se a proibição se estender ao diesel, haverá impactos mais profundos no mercado”.

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Em resumo, não há indicações de que essa medida se estenderá ao diesel russo, mas isso não significa que algumas precauções não estejam sendo tomadas para atender ao mercado doméstico. O Kremlin aumentou o percentual de exigência para as vendas de diesel na bolsa de valores para 16%.

Novos mercados estão se abrindo para os produtos russos devido aos seus altos descontos em comparação com outros países exportadores. Um exemplo disso é o Brasil, que importou 6,1 milhões de toneladas em 2023, o segundo maior importador, atrás da Turquia.

No último domingo, a OPEP+ anunciou uma extensão do corte de produção de petróleo de 2,2 milhões de barris por dia durante o segundo trimestre deste ano. A Rússia reduzirá ainda mais sua produção e exportação de petróleo, totalizando 471 mil barris por dia. Essa medida reflete a redução da capacidade de refino no país nos últimos meses, facilitando a implementação de cortes na produção.

Uma lição importante do complexo energético é não subestimar os impactos causados pelas interrupções no fornecimento. No caso da proibição das exportações russas de gasolina, embora ela apresente riscos baixos, é um sintoma de que sua infraestrutura de energia está sob pressão.

Fonte: hEDGEpoint Global Markets

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