Publicado em: 07/03/2013 às 17:50hs
"Meu Deus!", exclamou um dos agricultores, numa reação espontânea de surpresa e preocupação, compartilhada pelos demais.
O motivo do descontentamento é fácil de compreender: a maior parte das lavouras de soja da região de Campos Novos, no centro-sul de Santa Catarina, deve começar a ser colhida nas próximas semanas, e um reajuste no combustível que abastece tratores e colheitadeiras afeta diretamente os custos da atual safra.
Acrescente-se a isso a preocupação com o crescente preço dos fertilizantes e dos defensivos e está formado um quadro negativo que se mistura ao otimismo com as altas produtividades que devem ser atingidas na região este ano.
A Petrobras anunciou reajuste do preço do óleo diesel nas refinarias em 5 por cento, vigorando a partir desta quarta-feira. Desde junho do ano passado, esse foi o quarto reajuste do combustível, usado intensamente na agricultura, desde a preparação do solo, colheita até o transporte dos produtos.
Embora não se espere um repasse total para as bombas, o reajuste preocupa os produtores.
O que era para ser uma noite de confraternização entre os produtores locais e a equipe do Rally da Safra --expedição que percorre o Brasil avaliando a produtividade das lavouras de grãos-- teve momentos de seriedade impostos pela discussão de assuntos que tiram o sono dos produtores.
Um dos participantes do jantar em Campos Novos, o produtor Valter Rech está prestes a colher 550 hectares de soja. Ele calcula que vai gastar cerca de 800 litros de diesel por dia no auge dos trabalhos de campo, ao longo das próximas semanas.
"Em janeiro eu paguei 1,91 real (por litro de diesel). Agora está 2,11 reais", disse ele, sem incluir no cálculo o aumento que entra em vigor nesta quarta-feira.
"O produtor vai ter dificuldade de assimilar esses 10 ou 12 por cento de aumento que está vindo por aí. Esse é o momento de segurar custo", avaliou João Carlos Di Domenico, presidente da Coopercam, uma pequena cooperativa agrícola de Campos Novos, município conhecido como "celeiro catarinense", por ser um dos principais produtores de grãos do Estado.
FERTILIZANTES
As perspectivas de pagar mais pelo adubo para o plantio da safra 2013/14, no segundo semestre deste ano, também preocupa os produtores.
O sojicultor Emílio Almeida revelou aos colegas que fez as contas e chegou à conclusão que o fertilizante está 9 por cento mais caro, na comparação entre o preço pago em 2012 e o que está sendo cobrado no mercado atualmente.
Já planejando o plantio de 500 hectares para a próxima temporada, ele ainda não decidiu se comprará o insumo imediatamente ou se vai esperar até o segundo semestre, quando os preços podem estar menores, mas também um período em que tradicionalmente a demanda e o custo de frete para o adubo sobem.
"Estou esperando para ver se vai baixar. Pode ficar para a última hora. Vou correr o risco de pagar mais caro. Ou talvez baixe!"
Já o produtor Valter Rech revela que comprou cada saco de fertilizante a 48 reais no ano passado e que em 2013 está recebendo ofertas para comprar a mais de 60 reais.
"Nós estamos preocupados com os aumentos de preço para a próxima safra", resume ele.
GLIFOSATO E RESSACA DE PREÇOS
Em uma região onde praticamente existem apenas lavouras com soja transgênica, outro custo importante é o glifosato, herbicida que ataca as plantas invasoras, ao qual as plantações têm resistência.
"O glifosato, em relação ao ano passado, dobrou de preço. Na safra passada pagamos 10 reais o litro. Hoje, se eu for comprar, está 17 ou 18 reais", diz o produtor Tiago Carvalho.
O agricultor deve colher a maior parte de seus 600 hectares de soja a partir de 15 de março. Espera, assim como a maioria dos produtores catarinenses, uma produtividade excelente.
No entanto, é a partir do momento em que a soja está no armazém que começa o período de incertezas e de necessidade de atenção redobrada por parte dos agricultores, afirmou o presidente da Coopercam, anfitrião do encontro de produtores na noite de terça-feira.
"O produtor vai ter que estar ligado permanentemente", disse Di Domenico. "Todos os nossos custos estão aumentando de 5 a 10 por cento. Só que o nosso preço de venda vai cair de 5 a 10 por cento em relação ao ano passado. Custos subindo, preços caindo", disse ele, referindo-se à perspectiva de alívio no aperto dos estoques mundiais de soja e milho com a recuperação da produção nos EUA em 2013, após uma devastadora seca em 2012.
"A evolução dos preços foi muito rápida nos últimos cinco anos. Mas chegamos no topo. Alguns produtos já começam a cair no mercado. Será praticamente uma ressaca para o produtor. Viemos de uma festa boa e agora vamos começar a ressaca."
Fonte: Reuters
◄ Leia outras notícias