Publicado em: 30/10/2025 às 20:00hs
O relatório “Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2026”, elaborado pelo RaboResearch Food and Agribusiness, aponta que a economia brasileira deve crescer 1,6% em 2026, após avanço de 2% em 2025. A desaceleração reflete os efeitos da política monetária restritiva e o esgotamento do impulso fiscal.
Mesmo com inflação moderando, o Copom deverá adiar o início do ciclo de cortes de juros, mantendo a taxa Selic acima de 12% até o segundo trimestre de 2026. A combinação entre incertezas fiscais e cenário eleitoral tende a aumentar a volatilidade do real, que pode perder parte do suporte obtido com o diferencial de juros.
O Rabobank alerta ainda que o déficit primário pode chegar a 1% do PIB em 2026, elevando a relação dívida/PIB para 83,6%. “A consolidação fiscal continua sendo o principal risco de médio prazo”, destaca o estudo.
Mesmo com expectativa de recuperação a partir de 2027, o setor de insumos agrícolas seguirá sob pressão em 2026. Produtores de grãos, especialmente soja e milho, continuam enfrentando margens operacionais apertadas e alto endividamento.
Os custos de adubação subiram 7,4% em 2025 e devem continuar elevados em 2026, com destaque para a cana-de-açúcar, cujo custo de fertilização aumentou 10,7%. O fósforo segue sendo o principal gargalo, com preços internacionais elevados devido à restrição de exportações pela China.
O Brasil deve registrar recorde de importações e entregas de fertilizantes, com cerca de 47 milhões de toneladas em 2026. Já o mercado de defensivos agrícolas tende a crescer 1,5% em volume e 1% em valor, enquanto o segmento de biológicos deve manter ritmo de expansão moderado.
O setor sucroenergético inicia 2026 sob o desafio de equilibrar a produção entre açúcar e etanol. A safra 2025/26 deve encerrar em 590 milhões de toneladas de cana, enquanto a 2026/27 poderá superar 620 milhões de toneladas, caso o clima permaneça favorável.
O preço do açúcar caiu 18% em dólar em 2025, pressionado pela virada do balanço global de déficit para excedente, impulsionada por Índia e Tailândia. Mesmo assim, os estoques de etanol devem seguir baixos até março de 2026, sustentando os preços.
Com a mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina elevada para 30%, o Rabobank projeta que a oferta de etanol de milho deve subir para até 11,5 bilhões de litros em 2026/27. No entanto, a expansão da moagem pode reacender o dilema do mix: priorizar açúcar pode pressionar preços internacionais; focar em etanol pode reduzir a rentabilidade do combustível.
O mercado de café enfrenta um cenário de incertezas geopolíticas e de produção. O Rabobank projeta exportações brasileiras entre 39 e 41 milhões de sacas em 2025/26, abaixo das 42 milhões do ciclo anterior, refletindo estoques menores e quebra parcial da colheita.
A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos ao café brasileiro afetou cerca de 18% das exportações nacionais, favorecendo concorrentes como Colômbia e Vietnã. Já na Europa, a regulamentação EUDR, que exige rastreabilidade e comprovação de origem sem desmatamento, tende a reconfigurar os fluxos comerciais até 2026.
Para o próximo ciclo, a produção nacional deve atingir 62,8 milhões de sacas, com queda de 14% no arábica e recorde de 24,7 milhões no robusta. O banco estima preços do arábica entre US$ 3,10 e US$ 3,55/lp ao final de 2026.
O Brasil deve colher um novo recorde de 177 milhões de toneladas de soja em 2025/26, com crescimento de 2% na área plantada. As exportações devem se manter em 111 milhões de toneladas, sustentadas pela forte demanda chinesa.
No entanto, um eventual acordo comercial entre Estados Unidos e China pode reduzir a competitividade da soja brasileira e pressionar os prêmios nos portos nacionais. A elevação da mistura de biodiesel para 16% em 2026 deverá ampliar a demanda por óleo de soja, mas o excesso de farelo pode reduzir as margens industriais.
Mesmo com o risco geopolítico, o Rabobank avalia que o Brasil seguirá como principal fornecedor da China, mantendo cerca de 30% das compras já comprometidas para o novo ciclo.
A safra 2024/25 foi recorde, com 142 milhões de toneladas, mas a produção deve cair para 137 milhões em 2025/26. O crescimento de 2,2% na área plantada não será suficiente para compensar a base elevada e a normalização climática.
O consumo interno continua em expansão: o uso de milho para rações animais deve atingir 69 milhões de toneladas, e para etanol, cerca de 28 milhões de toneladas — ambos em novos recordes históricos.
Com o avanço da produção norte-americana para 427 milhões de toneladas, os preços internacionais do milho devem seguir pressionados. Ainda assim, o forte consumo doméstico e o câmbio mantêm o Brasil competitivo. As exportações brasileiras devem atingir 37 milhões de toneladas em 2026.
Com previsão de 2,1 milhões de hectares plantados em 2025/26, o Brasil deve ultrapassar 4 milhões de toneladas de pluma, mantendo-se como líder global nas exportações. O país deverá representar 31% das vendas mundiais, à frente dos Estados Unidos, que recuam para 28%.
Os preços internos, contudo, vêm recuando por cinco meses consecutivos, reflexo da colheita recorde e das exportações abaixo do esperado. A comercialização da safra 2025/26 alcança 30%, ainda 13 pontos percentuais abaixo da média histórica.
O Rabobank prevê estabilidade no consumo doméstico e continuidade do avanço nas exportações, sustentadas pela qualidade e competitividade da fibra brasileira.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias