Publicado em: 04/12/2024 às 11:50hs
De acordo com um estudo do coordenador científico do Cepea/Esalq-USP, Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, em condições normais de funcionamento econômico, com a concorrência prevalecendo entre setores e empresas, a produtividade e a renda dos trabalhadores tendem a evoluir de forma semelhante. No Brasil, a urbanização acompanhou o crescimento dos setores industrial e de serviços. Entre 1950 e 1980, o PIB brasileiro multiplicou-se por oito, enquanto o PIB agrícola cresceu quatro vezes, reduzindo sua participação de 25% para 11% do total. Simultaneamente, o emprego na Agropecuária caiu de 63% para 30%.
Desde 1980, o PIB da Indústria perdeu representatividade, diminuindo de 45% para 24%. Em 2023, a Agropecuária representa 7% do PIB total do Brasil, que soma R$ 10,8 trilhões, e 8% do total de trabalhadores (103 milhões). O PIB do Agronegócio, que inclui Agroindústria e Agrosserviços, representou 24% do total em 2023, empregando cerca de 26% da força de trabalho brasileira.
Neste contexto histórico, surgem duas questões principais: (a) como tem sido a evolução recente da produtividade no Brasil? (b) como a produtividade tem impactado a renda dos trabalhadores? A análise foca particularmente na relação entre os setores Agropecuário e Industrial.
A Figura 1 e a Tabela 1 ilustram a evolução da produtividade do trabalho entre 1995 e 2023 nos setores Agropecuário, Industrial, de Serviços e na economia total. A produtividade por hora trabalhada mostra que, enquanto a Agropecuária apresentou um crescimento constante e expressivo de 6,3% ao ano, a Indústria experimentou uma queda, e o setor de Serviços teve variações irregulares.
Em 1995, a produtividade por hora na Agropecuária era de R$ 8 (em valores de 2023), representando 22% da média nacional. Em 2023, esse valor subiu para R$ 44, um aumento de 450%, alcançando 96% da produtividade média do país, superando até a dos Serviços. Esses números refletem a produção de bens e serviços por hora trabalhada, mas não correspondem ao rendimento efetivo dos trabalhadores, que também inclui a remuneração de insumos e capital.
A evolução dos rendimentos dos trabalhadores é apresentada na Figura 2, com dados de 2012 a 2023, coletados pela PNAD/IBGE. Entre 2012 e 2023, os rendimentos da Agropecuária aumentaram 24% em termos reais (de R$ 1.548 para R$ 1.996), enquanto os da Indústria cresceram apenas 1,5%. Para a economia como um todo, o aumento foi de 6,4%. Entretanto, há uma desproporção entre o avanço da produtividade e o crescimento dos rendimentos: enquanto a produtividade da Agropecuária cresceu 81%, os rendimentos aumentaram apenas 24%. Na Indústria, a produtividade e os rendimentos evoluíram de forma quase idêntica, com um crescimento de apenas 1,6% e 1,5%, respectivamente.
A disparidade entre os avanços da produtividade e dos rendimentos persiste, com a Agropecuária, em 2023, apresentando uma produtividade 22% inferior à da Indústria (em 2012, era 56% inferior), e rendimentos 35% mais baixos (em 2012, a diferença era de 46%).
Com base no ritmo de crescimento dos últimos 11 anos, estima-se que, em cinco anos, a produtividade do trabalho na Agropecuária atingirá o nível da Indústria. Contudo, os rendimentos da Agropecuária só deverão alcançar os da Indústria em 25 anos.
A migração rural-urbana poderia acelerar a convergência de rendimentos entre os setores. No entanto, a capacidade de criação de empregos pela Indústria tem diminuído, devido ao seu crescimento lento (1,4% ao ano neste século), enquanto a Agropecuária tem se expandido a uma taxa maior (3,7% ao ano). A Indústria, portanto, tem limitado sua criação de empregos, mantendo-se em torno de 13 milhões de postos de trabalho nos últimos dez anos. Em contrapartida, a Agropecuária reduziu seu contingente de 10 milhões para 8 milhões de trabalhadores. Nesse cenário, o setor de Serviços tem sido o principal responsável pelo aumento da ocupação, passando de 68 milhões para 81 milhões de postos de trabalho, representando 79% do total em 2023. Porém, os rendimentos nesse setor são muito heterogêneos, e a migração dos trabalhadores agrícolas para as cidades provavelmente os colocaria em funções de baixo rendimento.
Nos últimos dez anos, o Brasil gerou 11 milhões de novos empregos, sendo 13 milhões no setor de Serviços e uma perda de 2 milhões na Agropecuária.
Fonte: Portal do Agronegócio
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