Análise de Mercado

O Impacto das Eleições Municipais no Agronegócio: Expectativas e Desafios

A nova configuração política promete avanços e obstáculos para o setor, com foco em infraestrutura, sustentabilidade e políticas fiscais


Publicado em: 04/12/2024 às 09:00hs

O Impacto das Eleições Municipais no Agronegócio: Expectativas e Desafios

As eleições municipais de outubro de 2024 no Brasil geraram um cenário de expectativas e incertezas para o agronegócio, um setor fundamental para a economia nacional. Leandro Viegas, CEO da Sell Agro, analisa que os resultados eleitorais refletem um equilíbrio de interesses que, apesar dos desafios, pode beneficiar o agro brasileiro no futuro próximo.

Um ponto positivo para o setor é a manutenção de uma bancada ruralista forte no Congresso Nacional. Historicamente, esse grupo parlamentar tem apoiado políticas favoráveis ao agronegócio, como desoneração fiscal, subsídios e investimentos em infraestrutura. A continuidade desse apoio é essencial para garantir a competitividade do Brasil no mercado global de commodities, especialmente diante da crescente concorrência e da volatilidade dos preços internacionais.

Por outro lado, a eleição de candidatos com agendas ambientais mais rigorosas, especialmente em estados-chave, pode acarretar um aumento da pressão regulatória sobre o setor. Isso exigirá que o agro brasileiro invista cada vez mais em práticas sustentáveis e em conformidade com as exigências ambientais, especialmente para atender à demanda por certificações, como as exigidas pela União Europeia. A capacidade de equilibrar produção e preservação ambiental será um tema sensível e crucial para o futuro do setor.

A infraestrutura também aparece como um ponto estratégico. Os novos prefeitos e governadores eleitos em estados produtores, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, demonstraram comprometimento com a melhoria das condições logísticas, como rodovias, ferrovias e hidrovias, o que é vital para o escoamento de grãos e carnes. A implementação eficaz desses projetos pode reduzir custos logísticos, aumentar a competitividade e mitigar um dos maiores gargalos enfrentados pelo setor.

Em relação às questões regulatórias, especialmente no uso de pesticidas e práticas ambientais, o setor defende uma postura pragmática por parte dos políticos. Existe uma pressão por regulamentações mais ágeis, alinhadas com as práticas internacionais, como uma regulamentação moderna sobre o uso de pesticidas, essencial para garantir a produtividade agrícola e o combate a pragas e doenças que ameaçam as safras.

No aspecto fiscal, os prefeitos recém-eleitos enfrentarão desafios significativos ao lidar com a preservação e a revisão de incentivos fiscais ao setor. A bancada ruralista continuará pressionando pela manutenção de subsídios, como isenções fiscais para maquinários e insumos, além de linhas de crédito especiais, especialmente para pequenos e médios produtores. Contudo, a necessidade de enfrentar restrições fiscais e demandas sociais pode levar a uma revisão desses benefícios, com maior ênfase em transparência e eficiência no uso dos recursos públicos.

Além disso, o debate sobre a reforma tributária segue como uma preocupação central. Se a reforma focar na simplificação fiscal e mantiver algumas isenções para o agronegócio, será uma vitória para o setor. Caso contrário, um aumento na carga tributária poderá prejudicar a competitividade da produção brasileira no mercado internacional.

Apesar de alguns desafios, como a insegurança jurídica das propriedades rurais e possíveis mudanças nas políticas de reforma agrária e demarcação de terras indígenas, o setor agropecuário também se mostra otimista. Recentemente, o anúncio de um Plano Safra recorde de R$ 364,22 bilhões, com a possibilidade de acessar crédito a taxas de juros reduzidas, oferece boas perspectivas, especialmente para aqueles que necessitam de financiamento para expandir a produção, recuperar áreas degradadas ou investir em tecnologias mais eficientes.

Outro ponto positivo é o foco na sustentabilidade. Os produtores que já adotam práticas de baixo carbono e preservação de reservas ambientais podem se beneficiar do apoio governamental para a conservação, o que abre novas portas para mercados internacionais que exigem certificações ambientais. A preocupação com a sustentabilidade torna o Brasil mais competitivo no cenário global, reconhecido como um fornecedor responsável.

Ademais, o incentivo à agricultura familiar e o fortalecimento da mecanização no campo são vistos com bons olhos pelos pequenos e médios produtores, que podem modernizar suas operações com acesso a equipamentos mais acessíveis, aumentando a eficiência e reduzindo custos, especialmente em regiões com escassez de maquinário.

Embora o otimismo seja visível, os produtores continuam atentos às mudanças nas políticas e regulamentações. O diálogo entre o governo e o setor será fundamental para garantir que as decisões adotadas atendam às necessidades reais do agro e promovam um desenvolvimento equilibrado e sustentável para o futuro do campo.

Fonte: Portal do Agronegócio

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