Análise de Mercado

Feijão em 2025: qualidade define preços enquanto estoques elevados freiam mercado

Ano foi marcado por forte segmentação entre produtos premium e comerciais; consumo interno segue retraído e exportações não compensam excesso de oferta


Publicado em: 29/12/2025 às 11:00hs

Feijão em 2025: qualidade define preços enquanto estoques elevados freiam mercado
Mercado de feijão em 2025: qualidade supera volume na formação de preços

O ano de 2025 consolidou um cenário de grande segmentação no mercado brasileiro de feijão. Com consumo interno estagnado e estoques elevados, a diferenciação entre produtos premium e comerciais ficou ainda mais evidente.

De acordo com o analista da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, o mercado passou a valorizar cada vez mais a qualidade dos grãos, que se tornou o principal fator de precificação.

“A dinâmica combinou demanda interna retraída, exportações como válvula de escape parcial, retenção de lotes de melhor padrão e deterioração contínua da qualidade devido ao clima”, explicou Oliveira.

Primeiros meses do ano mostraram contraste entre classes de feijão

O início de 2025 foi influenciado pelo fim da colheita da primeira safra 2024/25, que trouxe grande oferta de produtos intermediários e escassez de lotes de alta qualidade.

Em janeiro, a diferença entre categorias ficou nítida: o feijão carioca premium registrou preços firmes em São Paulo, chegando a R$ 245 por saca, enquanto produtos comerciais tiveram dificuldade de escoamento.

Chuvas intensas em estados como Paraná, Minas Gerais e Goiás agravaram a situação, elevando custos de beneficiamento e reduzindo a disponibilidade de feijão nobre.

Feijão preto manteve estabilidade, mas consumo doméstico seguiu fraco

No segmento do feijão preto, a oferta permaneceu confortável devido ao excedente interno e às exportações, embora o consumo interno não tenha reagido.

Em fevereiro, a entressafra do carioca manteve o valor dos grãos premium, enquanto os tipos comerciais seguiram travados. Já o feijão preto teve desempenho estável, com tarifas argentinas e maior oferta regional limitando os avanços.

“Março consolidou a assimetria estrutural: o carioca premium valorizado por escassez, e o comercial encalhado; o preto, estável e dependente de exportações”, resumiu Oliveira.

Segundo trimestre: liquidez mínima e retração da demanda

Entre abril e junho, o mercado entrou em sua fase mais lenta. A liquidez foi mínima e o consumo, tanto industrial quanto doméstico, seguiu retraído.

Mesmo com a segunda safra mantendo oferta suficiente, a qualidade dos grãos caiu devido às oscilações climáticas, o que reforçou a valorização dos produtos de escurecimento lento.

O varejo, pouco reativo e abastecido, manteve alto o diferencial entre o feijão premium e o comercial, com baixo volume de negócios.

“O trimestre consolidou um ambiente psicológico de excesso de produto intermediário e ausência total de gatilhos de consumo”, pontuou o analista.

Estoques elevados e mercado sem tração no feijão preto

O segundo trimestre também consolidou a pressão baixista sobre o feijão preto.

Com estoques elevados e negociações abaixo do preço mínimo, o mercado interno perdeu ritmo. As exportações já não compensavam a queda na demanda, levando a um cenário de apatia generalizada.

Terceiro trimestre marcou ponto de inflexão do ciclo

A partir de julho, o mercado mergulhou em um período de colapso da liquidez. O varejo se manteve inerte e os negócios tornaram-se praticamente nominais.

Agosto seguiu com lentidão, mas setembro indicou leve recuperação no feijão carioca, impulsionada pela escassez de grãos de qualidade e pela retomada gradual das reposições.

No feijão preto, os estoques começaram a diminuir lentamente, mas o consumo interno continuou incapaz de absorver o excedente.

Último trimestre consolidou tendências do ano

Entre outubro e dezembro, o feijão carioca premium manteve firmeza nos preços, enquanto o feijão preto permaneceu estável e pressionado.

O encerramento de 2025 foi marcado por demanda fraca, seletividade elevada e retenção de oferta nobre.

Com o varejo pouco ativo e reposições pontuais, o mercado seguiu operando com volumes reduzidos e foco na qualidade.

“Foi um ano de menos volume e mais seletividade, sustentado pela escassez de qualidade, não pelo consumo”, concluiu Oliveira.

Perspectivas para 2026: desafios persistem

O balanço do ano mostra um prêmio estrutural para o feijão carioca de melhor qualidade e pressão contínua sobre o feijão preto, altamente dependente das exportações.

A falta de estímulos ao consumo e a deterioração do padrão do produto mantêm o mercado dividido entre topo valorizado e base pressionada.

“O setor entra em 2026 com as mesmas perguntas que marcaram 2025: quem consumirá os volumes comerciais? Quem pagará o prêmio do produto nobre? E quando a demanda interna voltará a reagir?”, finaliza o especialista.

Fonte: Portal do Agronegócio

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