Publicado em: 11/07/2025 às 11:05hs
A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, válida a partir de 1º de agosto, acendeu o alerta no setor agropecuário. Para o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), além de representar um impacto direto nas exportações, a medida evidencia a fragilidade do Brasil diante de decisões externas e reforça preocupações quanto a políticas internas que podem comprometer ainda mais a imagem do país no mercado internacional.
No centro da polêmica está a regulamentação da Lei do Autocontrole, proposta pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que abre espaço para a contratação de empresas privadas para realizar inspeções sanitárias. A medida permitiria que frigoríficos terceirizassem atividades técnicas e operacionais de defesa agropecuária, incluindo inspeções ante mortem e post mortem de animais — funções tradicionalmente executadas por agentes públicos.
Para o Anffa Sindical, essa mudança representa um sério conflito de interesses, já que empresas privadas poderiam atuar sob influência de metas comerciais, comprometendo a imparcialidade das análises sanitárias. O sindicato classifica a proposta como uma ameaça à saúde pública global.
A preocupação vai além do âmbito nacional. Segundo o Anffa, a transferência da responsabilidade pela fiscalização para o setor privado pode gerar desconfiança nos mais de 150 países que hoje compram proteína animal brasileira. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inspeção sanitária é realizada exclusivamente por agentes do Estado, justamente para garantir independência e credibilidade nos processos.
“O Brasil, ao abrir mão do controle público sobre a qualidade sanitária dos produtos, transmite uma imagem de insegurança institucional em um dos setores mais estratégicos da nossa economia”, afirma Janus Pablo Macedo, presidente do Anffa Sindical. Para ele, os danos à imagem do país podem ser duradouros e afetar a confiança internacional nas exportações brasileiras.
O Anffa Sindical já levou o caso ao Ministério Público Federal (MPF), alegando que a proposta compromete a segurança sanitária e fere princípios constitucionais. A entidade critica a condução do projeto pelo governo federal e afirma que a regulamentação vai na contramão das exigências dos principais mercados importadores, que exigem cada vez mais rastreabilidade e fiscalização técnica isenta.
“Não se trata de uma defesa corporativa. Estamos falando da preservação da confiança nos padrões sanitários brasileiros, que são essenciais para o comércio exterior. A população tem o direito de consumir alimentos seguros e de qualidade”, reforça o presidente do sindicato.
Diante do cenário, os auditores fiscais federais agropecuários mantêm a mobilização nacional contra o plano do Mapa. Embora medidas mais radicais, como paralisações ou ações judiciais, estejam descartadas por ora, a categoria segue pressionando o governo por mudanças no projeto. A preocupação central é evitar o que o sindicato considera um desmonte da fiscalização pública agropecuária no Brasil.
Fonte: Portal do Agronegócio
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