Publicado em: 28/10/2025 às 20:00hs
A rápida expansão da produção de etanol de milho no Brasil está provocando mudanças profundas no setor sucroenergético e contribuindo para uma queda nos preços globais do açúcar. O movimento tem desviado parte das usinas de cana-de-açúcar do mercado de biocombustíveis, levando-as a direcionar uma quantidade recorde da safra para a fabricação de açúcar, o que aumentou a oferta e derrubou os preços da commodity ao menor nível em quatro anos.
A competitividade crescente do etanol derivado do milho está redefinindo o papel das usinas canavieiras. Tradicionalmente, empresas como Raízen e São Martinho alternavam sua produção entre açúcar e etanol, conforme as oscilações de preço. Agora, com o biocombustível de milho ganhando força, muitas delas tendem a manter o foco na produção de açúcar, mesmo diante de margens reduzidas.
“O problema do mercado hoje é que temos outro elemento que é o etanol de milho”, afirmou Jeremy Austin, diretor-geral da trading Sucres et Denrées, durante a Sugar Week, em São Paulo. Segundo ele, as perspectivas de preços seguem desafiadoras para os produtores.
Os contratos futuros do açúcar acumulam queda superior a 20% em 2025, o que coloca a commodity no caminho da maior perda anual desde 2018. O recuo reflete a previsão de aumento da oferta global, que deve superar o consumo em 2,8 milhões de toneladas no novo ano comercial, de acordo com a consultoria StoneX.
Além disso, os preços futuros apontam para valores ainda menores em 2026, reforçando a pressão sobre o setor.
De acordo com a Datagro, as usinas da principal região produtora do Brasil estão prestes a alcançar uma produção recorde de 43 milhões de toneladas de açúcar na próxima safra — um aumento de 4,6% em relação ao ciclo anterior.
Esse movimento ocorre em um contexto em que o etanol de milho ganha participação expressiva, tornando-se mais barato de produzir do que o derivado da cana. Ainda que o etanol de cana continue predominante, a StoneX projeta que o milho responderá por 32% da produção nacional de etanol na safra que começa em abril, ante 23% na atual.
A expectativa de uma oferta recorde de etanol na próxima temporada tende a pressionar os preços do combustível, tornando o açúcar uma alternativa mais rentável para as usinas de cana, especialmente no estado de São Paulo, maior produtor do país.
Segundo Camila Lima, analista da StoneX, a tendência é que o avanço do etanol de milho mantenha as usinas de cana concentradas na produção açucareira, mesmo diante da desvalorização da commodity.
O impacto do novo cenário já se reflete nas bolsas. As ações da Raízen, maior processadora de cana do Brasil, despencaram 56% em 2025, enquanto empresas menores, como Jalles Machado e São Martinho, registraram perdas de 42% e 36%, respectivamente.
Nos últimos anos, essas companhias ampliaram a capacidade de produção de açúcar como estratégia para enfrentar a crescente competição do etanol de milho e aproveitar a valorização da commodity entre 2022 e 2023.
Para o economista Bruno Wanderley de Freitas, da Datagro, o cenário é claro: os usineiros brasileiros não terão outra escolha senão produzir mais açúcar. Ele destaca que o avanço do etanol de milho está transformando de forma estrutural a indústria canavieira, que precisará se reinventar para preservar sua competitividade nos próximos anos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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