Tarifaço dos EUA ameaça exportações e pode gerar perdas desiguais entre os estados
A elevação das tarifas de importação pelos Estados Unidos, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, pode provocar impactos econômicos significativos e desiguais entre os estados brasileiros. Estimativas apontam perdas superiores a R$ 19 bilhões, com Ceará, Espírito Santo e Paraíba entre os mais vulneráveis devido à forte dependência do mercado americano.
Estados com maior dependência do mercado dos EUA
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mostra que os Estados Unidos foram responsáveis por quase metade das exportações do Ceará (44,9%) em 2024. O Espírito Santo aparece com 28,6% de dependência, seguido por Paraíba (21,6%), São Paulo (19,0%) e Sergipe (17,1%).
Indústria de transformação é a mais afetada
Grande parte das exportações afetadas pertence à indústria de transformação, o que compromete diretamente a competitividade de produtos processados no Brasil. O presidente da CNI, Ricardo Alban, classificou o aumento das tarifas como “expressivo e injustificável”, alertando para seus efeitos sobre setores estratégicos da economia.
Panorama por estado: prejuízos diretos com o tarifaço
- Ceará
- Exportações para os EUA: US$ 659,1 milhões
- Indústria de transformação: 96,5% do total
- Setores: Metalurgia (US$ 441,3 mi), Alimentos (US$ 112,2 mi), Couros e Calçados (US$ 52,6 mi)
- Perdas estimadas: R$ 190 milhões
- Espírito Santo
- Exportações: US$ 3,1 bilhões (28,6% do total do estado)
- Indústria: 80,9% das vendas aos EUA
- Setores: Metalurgia, Minerais não metálicos, Celulose e Papel
- Impacto previsto: R$ 605 milhões
- Paraíba
- Exportações: US$ 35,6 milhões
- Indústria: 96,9% do total
- Setores: Alimentos (US$ 30,5 mi), Couros e Calçados (US$ 3,6 mi)
- Perda estimada: R$ 101 milhões
- São Paulo
- Exportações: US$ 13,5 bilhões (19% do total estadual)
- Indústria: 92,1% das vendas aos EUA
- Impacto no PIB: R$ 4,4 bilhões, queda de 0,13% no PIB estadual
- Impacto bilionário no Sul e Sudeste, mesmo com maior diversificação
- Apesar de possuírem mercados de exportação mais diversificados, os estados do Sul e Sudeste devem acumular os maiores prejuízos em valores absolutos:
- Rio Grande do Sul
- Exportações para os EUA: US$ 1,8 bilhão
- Setores: Metal (US$ 322 mi), Fumo (US$ 237 mi), Couro e Calçados (US$ 188 mi)
- Prejuízo no PIB: R$ 1,917 bilhão
- Paraná
- Exportações: US$ 1,5 bilhão
- Indústria: 97,5% do total exportado
- Setores: Madeira (US$ 614 mi), Alimentos, Máquinas e Equipamentos
- Perda estimada: R$ 1,914 bilhão
- Santa Catarina
- Perda financeira: R$ 1,7 bilhão
- Queda no PIB: -0,31%
- Destaques: Madeira, Automóveis e Equipamentos Elétricos
- Minas Gerais
- Exportações: US$ 4,6 bilhões
- Principais setores: Metalurgia, Produção Vegetal e Alimentos
- Prejuízo previsto: R$ 1,6 bilhão (queda de 0,15% no PIB)
- Amazonas e Pará também terão perdas bilionárias
- Amazonas
- Exportações impulsionadas pelo Polo Industrial de Manaus
- Indústria: 96,1% das vendas aos EUA
- Destaques: Equipamentos de Transporte, Derivados de Petróleo e Máquinas
- Impacto: R$ 1,1 bilhão, queda de 0,67% no PIB
- Pará
- Exportações para os EUA: US$ 835,4 milhões (3,6% do total)
- Indústria: 95,2% das vendas
- Setores principais: Metalurgia, Químicos e Alimentos
- Previsão de perda: R$ 973 milhões, retração de 0,28% no PIB
- Centro-Oeste, Nordeste e Norte: menor dependência, mas impactos expressivos
Mesmo com menor exposição ao mercado americano, algumas unidades dessas regiões ainda podem sentir o peso do tarifaço:
- Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul): perdas acima de R$ 1,9 bilhão
- Nordeste: Bahia (R$ 404 mi), Pernambuco (R$ 377 mi), Ceará (R$ 190 mi)
- Norte: perdas menores, mas relevantes para estados exportadores como Amazonas e Pará
Menores impactos financeiros no país
Os cinco estados com menor impacto financeiro são:
- Roraima: R$ 13 milhões
- Sergipe: R$ 30 milhões
- Acre: R$ 31 milhões
- Piauí: R$ 32 milhões
- Amapá: R$ 36 milhões
Apesar do impacto financeiro mais brando, esses estados também têm baixa dependência do mercado americano, com destaque para Roraima (0,3%), Mato Grosso (1,5%) e Distrito Federal (2,6%).
O aumento das tarifas americanas pode comprometer não apenas o desempenho das exportações brasileiras, mas também o crescimento de diversas economias regionais, com prejuízos bilionários e perda de competitividade. O cenário reforça a importância da diversificação de mercados e de uma atuação diplomática mais firme para mitigar os efeitos dessa medida.
Relações econômicas entre Brasil e EUA