Análise de Mercado

Estados brasileiros mais dependentes dos EUA podem perder até R$ 19 bilhões com novo tarifaço americano

Ceará, Espírito Santo e Paraíba lideram em exposição às exportações para os EUA; prejuízos atingem todas as regiões do país, com impactos bilionários no PIB


Publicado em: 30/07/2025 às 10:20hs

Estados brasileiros mais dependentes dos EUA podem perder até R$ 19 bilhões com novo tarifaço americano
Tarifaço dos EUA ameaça exportações e pode gerar perdas desiguais entre os estados

A elevação das tarifas de importação pelos Estados Unidos, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, pode provocar impactos econômicos significativos e desiguais entre os estados brasileiros. Estimativas apontam perdas superiores a R$ 19 bilhões, com Ceará, Espírito Santo e Paraíba entre os mais vulneráveis devido à forte dependência do mercado americano.

Estados com maior dependência do mercado dos EUA

Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mostra que os Estados Unidos foram responsáveis por quase metade das exportações do Ceará (44,9%) em 2024. O Espírito Santo aparece com 28,6% de dependência, seguido por Paraíba (21,6%), São Paulo (19,0%) e Sergipe (17,1%).

Indústria de transformação é a mais afetada

Grande parte das exportações afetadas pertence à indústria de transformação, o que compromete diretamente a competitividade de produtos processados no Brasil. O presidente da CNI, Ricardo Alban, classificou o aumento das tarifas como “expressivo e injustificável”, alertando para seus efeitos sobre setores estratégicos da economia.

Panorama por estado: prejuízos diretos com o tarifaço
  • Ceará
    • Exportações para os EUA: US$ 659,1 milhões
    • Indústria de transformação: 96,5% do total
    • Setores: Metalurgia (US$ 441,3 mi), Alimentos (US$ 112,2 mi), Couros e Calçados (US$ 52,6 mi)
    • Perdas estimadas: R$ 190 milhões
  • Espírito Santo
    • Exportações: US$ 3,1 bilhões (28,6% do total do estado)
    • Indústria: 80,9% das vendas aos EUA
    • Setores: Metalurgia, Minerais não metálicos, Celulose e Papel
    • Impacto previsto: R$ 605 milhões
  • Paraíba
    • Exportações: US$ 35,6 milhões
    • Indústria: 96,9% do total
    • Setores: Alimentos (US$ 30,5 mi), Couros e Calçados (US$ 3,6 mi)
    • Perda estimada: R$ 101 milhões
  • São Paulo
    • Exportações: US$ 13,5 bilhões (19% do total estadual)
    • Indústria: 92,1% das vendas aos EUA
    • Impacto no PIB: R$ 4,4 bilhões, queda de 0,13% no PIB estadual
    • Impacto bilionário no Sul e Sudeste, mesmo com maior diversificação
    • Apesar de possuírem mercados de exportação mais diversificados, os estados do Sul e Sudeste devem acumular os maiores prejuízos em valores absolutos:
  • Rio Grande do Sul
    • Exportações para os EUA: US$ 1,8 bilhão
    • Setores: Metal (US$ 322 mi), Fumo (US$ 237 mi), Couro e Calçados (US$ 188 mi)
    • Prejuízo no PIB: R$ 1,917 bilhão
  • Paraná
    • Exportações: US$ 1,5 bilhão
    • Indústria: 97,5% do total exportado
    • Setores: Madeira (US$ 614 mi), Alimentos, Máquinas e Equipamentos
    • Perda estimada: R$ 1,914 bilhão
  • Santa Catarina
    • Perda financeira: R$ 1,7 bilhão
    • Queda no PIB: -0,31%
    • Destaques: Madeira, Automóveis e Equipamentos Elétricos
  • Minas Gerais
    • Exportações: US$ 4,6 bilhões
    • Principais setores: Metalurgia, Produção Vegetal e Alimentos
    • Prejuízo previsto: R$ 1,6 bilhão (queda de 0,15% no PIB)
    • Amazonas e Pará também terão perdas bilionárias
  • Amazonas
    • Exportações impulsionadas pelo Polo Industrial de Manaus
    • Indústria: 96,1% das vendas aos EUA
    • Destaques: Equipamentos de Transporte, Derivados de Petróleo e Máquinas
    • Impacto: R$ 1,1 bilhão, queda de 0,67% no PIB
  • Pará
    • Exportações para os EUA: US$ 835,4 milhões (3,6% do total)
    • Indústria: 95,2% das vendas
    • Setores principais: Metalurgia, Químicos e Alimentos
    • Previsão de perda: R$ 973 milhões, retração de 0,28% no PIB
    • Centro-Oeste, Nordeste e Norte: menor dependência, mas impactos expressivos

Mesmo com menor exposição ao mercado americano, algumas unidades dessas regiões ainda podem sentir o peso do tarifaço:

  • Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul): perdas acima de R$ 1,9 bilhão
  • Nordeste: Bahia (R$ 404 mi), Pernambuco (R$ 377 mi), Ceará (R$ 190 mi)
  • Norte: perdas menores, mas relevantes para estados exportadores como Amazonas e Pará
Menores impactos financeiros no país

Os cinco estados com menor impacto financeiro são:

  • Roraima: R$ 13 milhões
  • Sergipe: R$ 30 milhões
  • Acre: R$ 31 milhões
  • Piauí: R$ 32 milhões
  • Amapá: R$ 36 milhões

Apesar do impacto financeiro mais brando, esses estados também têm baixa dependência do mercado americano, com destaque para Roraima (0,3%), Mato Grosso (1,5%) e Distrito Federal (2,6%).

O aumento das tarifas americanas pode comprometer não apenas o desempenho das exportações brasileiras, mas também o crescimento de diversas economias regionais, com prejuízos bilionários e perda de competitividade. O cenário reforça a importância da diversificação de mercados e de uma atuação diplomática mais firme para mitigar os efeitos dessa medida.

Relações econômicas entre Brasil e EUA

Fonte: Portal do Agronegócio

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